Ricardo Icassatti Hermano
O ano era 1979. O Inverno estava começando no Irã. Logo começaria a nevar. O Xá Reza Pahlevi havia fugido do país e o Aiatolá Komeini assumira o poder, dando início a uma revolução islâmica que acabou desaguando no Talibã e na Al Qaeda. As relações com os Estados Unidos eram as piores possíveis, pois eles deram asilo ao Xá. A embaixada americana em Teerã resumia sua segurança a grades e um portão trancado com corrente e cadeado. Não deu outra, os "revolucionários" invadiram a embaixada e tomaram 53 diplomatas e funcionários como reféns.
Cartaz do filme
Contudo, seis deles conseguiram fugir por uma porta dos fundos que não estava sendo vigiada e se refugiaram na embaixada do Canadá. Começa aí uma operação de resgate comandada secretamente pelo Departamento de Estado e pela CIA. A outra operação de resgaste, chamada Eagle Claw (garra de águia) fracassou miseravelmente graças a uma providencial tempestade de areia e falta de planejamento adequado. Afinal, os militares estavam num deserto e poderiam ter previsto a tempestade.
Um tal de Hitler também gostava de levantar a mãozinha assim ...
Mas, daí o Departamento de Estado e a CIA resolvem montar uma operação secreta para resgatar os seis americanos escondidos na embaixada canadense. E essa é a história contada no filme Argo, uma produção de George Clooney dirigida e estrelada por Ben Afleck, que parece ter se reencontrado com o cinema de qualidade e se recuperado de fiascos como O Demolidor ... Ele vem fazendo bons filmes e, agora, atuando na direção também.
Se arrependimento matasse ... hein Afleck?
Você deve estar se perguntando: Como assim? Houve um resgate naquela época e não ficamos sabendo de nada? Sim, eu respondo. Como se tratava de uma operação secreta envolvendo a representação diplomática de outro país, todas as informações relativas a esse resgate ficaram sob sigilo até há pouco tempo, quando os arquivos foram disponibilizados pelo governo de Bill Clinton. Não se espantem. Isso é o que acontece numa democracia de verdade.
Jimmy Carter e os seis americanos resgatados na Casa Branca
Sou fã dos americanos. Sem entrar em debates estéreis, os caras conseguiram criar a maior e melhor democracia do mundo. Como se não bastasse isso, ainda são a maior potência militar e tecnológica, são os únicos que realmente defendem a liberdade de expressão e inventaram a Harley Davidson, os muscle cars, o rock'n roll, a contra cultura, a revolução sexual, o iPhone e as loiras peitudas : ) Por isso, despertou a inveja do resto do planeta que não teve competência para fazer o mesmo. É o caso do Irã e agregados.
Eu aprecio, mas tem gente que não gosta
O filme conta como um agente de campo da CIA, Tony Mendes, evitou que o governo de Jimmy Carter cometesse o segundo fiasco em terras iranianas. Para isso, utilizou sua experiência em resgates, atenção aos detalhes e criatividade. Não por acaso é um latino. Ele também contou com a preciosa ajuda de duas feras hollywoodianas, o maquiador John Chambers (John Goodman), Oscar por Guerra nas Estrelas, e o igualmente premiado produtor Lester Siegel (Alan Arkin).
O sucesso do resgate dependeu em grande parte de duas feras do cinema
Verdade universal: engravatados cheios de diplomas e sentados o dia todo em escritórios bem decorados e refrigerados, não sabem porra nenhuma a respeito de operações de campo. Deve ter sido duro para Carter não poder divulgar este sucesso estrondoso depois do fiasco que acabou inviabilizando a sua reeleição.
Bons conselhos de quem já viveu e viu muito
Mendez tem a brilhante ideia de se passar por um grande produtor de cinema de Hollywood que vai ao Irã em busca de locações para seu novo filme de ficção científica: Argo. Com ele, a sua equipe formada por mais seis integrantes. Todo regime autoritário só consegue se manter se tiver uma boa quantidade de gente boçal para sustentá-lo. Era o caso do Irã. Hoje em dia, parece que as coisas estão mudando um pouco, mas a balança ainda pende em favor dos boçais.
Gosto dos boçais porque são facílimos de enganar
O agente da CIA sabia disso e usou em seu favor para resgatar os americanos. Não que não houvesse risco envolvido. Afinal, ele estaria em solo iraniano com americanos cuja presença no país já era uma desconfiança bastante acentuada entre os "revolucionários" e que deveriam aprender a interpretar suas novas identidades em apenas 72 horas. O filme transpõe para a tela com altas doses de aflição os momentos de maior risco. Mas, a boçalidade é sempre uma grande aliada. O boçal sempre acredita que a violência e as armas são sua garantia de sucesso.
Curso rápido de interpretação em 48 horas para fugas
O filme chega num momento interessante, quando o anão (em todos os sentidos) Ahmadinejad saracoteia pelo mundo como se o Irã fosse uma potência nuclear e ele um democrata. EUA e Israel dão boas risadas e Argo ainda tira um sarro dos "revolucionários". Não levante da sua cadeira quando os créditos começarem a surgir na tela. Logo em seguida vem a melhor parte, com vídeos da época e fotos dos atores ao lado das fotos dos diplomatas. Hilariante ver as declarações e ameaças dos "revolucionários". Saiba como fica a cara de um boçal quando descobre que foi enganado.
O Café & Conversa viu Argo, gostou e recomenda com cotação de cinco canecas. Diversão garantida para qualquer pessoa que aprecie liberdades democráticas, Harley Davidson e loiras peitudas. Veja o trailer: