Ricardo Icassatti Hermano
Estão gostando da Blog-Novela? Eu estou adorando escrevê-la com a valiosa ajuda das nossas leitoras. São mulheres sensíveis, gentis e inteligentes de todo o país que nos enviam opiniões, críticas e sugestões valiosíssimas para a composição da personagem Carmem. Até para o Raffaello tem sobrado sugestões. Os leitores agora também estão se engajando e enviando suas observações.
A trama está esquentando e hoje a nossa heroína vai ao apartamento do charmoso homem de coração partido. O mistério do sumiço de Raffaello será desvendado? Carmem terá bom senso? A amiga Emília está na retaguarda, colada ao telefone para qualquer eventualidade. Vamos torcer para que tudo saia bem.
Desculpem o tamanho do texto relativo à trilha sonora deste capítulo. Houve um upgrade na qualidade musical e a letra dessa canção merece ser traduzida porque se casa perfeitamente com o momento vivido pelos nossos já queridos personagens.
Agora eu entendo o que os autores de novela falam sobre como se apaixonam pelos seus personagens e como é difícil dizer adeus a eles depois. Ouçam a música e leiam a letra, que está em inglês, com a tradução logo em seguida. O texto do capítulo 4 está logo abaixo. Divirtam-se : )
Shave Yo' Legs
Keb' Mo'
You don’t need no fancy tricks / Você não precisa de truques extravagantes
Painted eyes or glossy lips / Olhos pintados ou lábios brilhando
I love you just the way you are / Eu te amo do jeito que você é
Hope you don’t mind my beat up car / Espero que não se importe com meu carro batido
You don’t need to change your dress / Você não precisa mudar seu vestido
You don’t need to change your shoes / Você não precisa mudar seus sapatos
Don’t try to hide your natural looks / Não tente esconder sua aparência natural
Forget about the cover let me read the book / Esqueça a capa, deixe-me ler o livro
Don’t get me wrong I like them heels / Não me entenda mal, eu gosto de saltos altos
But the way I feel is the way I feel / Mas o jeito que eu sinto é o jeito que eu sinto
You don’t need to change your dress / Você não precisa mudar seu vestido
You don’t need to change your shoes / Você não precisa mudar seus sapatos
Go ahead be wild and free / Vá em frente, seja selvagem e livre
You don’t have to shave yo’ legs for me / Você não tem que depilar suas pernas para mim
Hunnybabe don’t starve yourself / Meu amor, não passe fome
You’re lookin good you’re lookin well / Você é bonita, você está bem
And I’m proud to have you by my side / E eu estou orgulhoso de tê-la ao meu lado
Glad to have you in my life / Feliz por ter você na minha vida
You don’t have to clean my house / Você não tem que limpar minha casa
You don’t have to wash my clothes / Você não tem que lavar minhas roupas
Go ahead be wild and free / Vá em frente, seja selvagem e livre
Cause you don’t have to shave yo’ legs for me / Porque você não tem que depilar suas pernas para mim
You’re an angel / Você é um anjo
You don’t have to read them magazines / Você não tem que ler essas revistas
You already know how to get to me / Você já sabe como chegar em mim
Just be yourself and I will too / Apenas seja você mesma e eu também serei
That’s all we really have to do / Isso é tudo que realmente precisamos fazer
You don’t have to be ashamed / Você não tem que se envergonhar
You don’t have to hide your knees / Você não tem que esconder seus joelhos
Go ahead be wild and free / Vá em frente, seja selvagem e livre
You don’t have to shave yo legs for me / Você não tem que depilar suas pernas para mim
Now go ahead be wild and free / Agora vá em frente, seja selvagem e livre
You don’t have to shave yo legs for me / Você não tem que depilar suas pernas para mim
Broken Heart's Brodo
Capítulo 4
Ao se arrumar para o jantar, Carmem avaliou o que seria preciso para parecer bem. Resolveu usar o barbeador para se depilar, apenas o necessário. Uma coisa assim emergencial. Cabelos e unhas OK, ela achou melhor não complicar. Maquiagem leve, umas gotas de Chanel nº 5 e cabelo solto, ainda úmido do banho. Uma calça comprida, uma blusa de seda, um colar de pérolas, brincos e pronto.
Afinal, ela tinha apenas 37 anos de idade. Estava distante de ser uma "gatinha", estava acima do peso, mas longe de ser idosa, como às vezes achava.
Raffaello dava os toques finais na comida que fumegava cheirosa na panela, quando a campainha tocou. Ele olhou o relógio, que marcava 21h37. "Pontual. Gostei", pensou consigo mesmo.
- Oi Carmem. Benvinda à minha casa. Você está linda!
Beijos estalam nos rostos.
- Ah, obrigada ... demorei muito?
- De jeito nenhum. O jantar está quase pronto. Dá tempo de tomarmos uma taça de vinho e batermos um papo. Ou você prefere outra bebida?
- Por enquanto, só água.
- Com gás ou sem gás?
- Sem.
- OK, por favor sente-se. A casa ainda tem pouca coisa. Estou montando aos poucos.
Raffaello liga o som e vai buscar a água. Enquanto o jazz suave preenche a sala, Carmem escaneia o ambiente. Meia luz de abajur, um sofá, uma mesa de centro, uma estante desarrumada repleta de livros e CDs, alguns quadros apoiados no chão, uma TV com os aparatos eletrônicos habituais e uma mesa de jantar simples. Nenhuma planta. "Parece que está montando mesmo", pensou.
- Pronto, a sua água.
- Obrigada. Mudança recente?
- A mudança sim, mas o apartamento já tenho há alguns anos. Estava alugado. Viajo muito, você sabe.
- E as coisas que você me disse ter comprado em Nova Iorque para o apartamento?
- Pouca coisa, como você pode ver. Essa aparelhagem para a TV e utensílios para a cozinha. Gosto de cozinhar de vez em quando para os amigos.
- Aposto que a sua cozinha é toda high tech.
- Não, não ... na verdade, ela é até bem rústica. Tem alguns aparelhos sim, mas eu não sou um chef. Minhas receitas são bem básicas, nada sofisticadas. Quer conhecer?
- Não só a cozinha, né? Quero conhecer o apartamento todo.
- Vamos fazer um tour então.
Satisfeita a curiosidade, o tour para na cozinha. Ali Carmem viu o quanto Raffaello gosta de cozinhar. Completamente equipada, sem exageros. Realmente tinha um ar rústico, lembrando a Toscana, e destoava do restante do apartamento que tinha apenas o básico. "Bom, gay ele não é, senão estaria tudo com decoração clean, impecável", pensou. Ele verifica o andamento do jantar nas panelas e pede a ela ajuda para arrumar a mesa.
- Qual é o cardápio?
- Hoje eu preparei um jantar à moda italiana com inspiração oriental. Teremos o Primo Piatto, o Secondo Piatto e a Dessert.
- Hummm, que delícia! E quais são os pratos?
- O Primo Piatto é uma refrescante salada de melancia e queijo Feta. O Secondo Piatto é uma pasta com cogumelos ao molho de limão e gengibre, com inspiração oriental. E a Dessert (sobremesa) será queijo Brie assado com geleia de blueberry. Que tal?
- Uau! - exclamou Carmem, já salivando.
O jantar transcorreu tranquilo. Carmem gosta de comer bem, apreciou cada garfada e não fez questão de disfarçar o prazer que sentia. A culpa, deixou só para ela mesma. Os pratos eram levíssimos e não pesaram no estômago, mas também eram ricos em sabor, textura, aroma e exotismo. Raffaello tinha as manhas ...
Ao final, Raffaello serviu um café feito na cafeteira French Press. O grão especial, um Bourbon Amarelo do Sul de Minas Gerais, foi moído na hora e o perfume inebriante invadiu todo o apartamento. Em seguida, ele convidou Carmem para irem até a pequena varanda saborear um cálice do licor Baileys. Tinha início a madrugada.
- Essa varanda é um dos meus dois lugares prediletos neste apartamento. Quando quero relaxar, vou para a cozinha. Quando quero meditar, pensar, refletir, venho para a varanda.
- Mas, onde você se senta?
- No chão.
- No chão?
- É. Olha só.
Raffaello foi até o quarto e voltou com um enorme edredon, que cobriu quase todo o chão da varanda. Depois trouxe algumas almofadas. O céu estava limpo e estrelado. A lua cheia lutava com a escuridão e deixava o céu completamente azul. Brasília é bonita assim.
Na conversa que se seguiu, Carmem soube que Raffaello foi piloto de corridas, é escritor de livros e de letras para músicas, gosta de fotografar, filmar e pratica artes marciais desde criança. Sua presença no mesmo edifício em que ela trabalha se devia ao fato da sua editora estar no mesmo prédio.
- E a sua família - quis saber Carmem.
- Meus pais já morreram. Tenho uma irmã que mora na França. Daí a minha ida a Paris. Queria vê-la e às minhas sobrinhas. Aliás, tenho uma confissão a fazer.
- É? Qual? (surpresa)
- Eu não fui a Bali para surfar.
- Ah não?
- Não. Fui à Índia.
As pupilas de Carmem dilataram. O coração aumentou o ritmo. Sua curiosidade acabara de ser irremediavelmente incitada.
- Ah é? (piscando nervosamente os olhos) Não sabia que tinha surf na Índia.
- É uma longa história. Quer ouvir?
- Claro ...
- Eu era casado até uns meses antes de nos encontrarmos naquela livraria.
O queixo de Carmem caiu.
- Separou? Divórcio?
- Não ... ela faleceu ... um aneurisma ... fulminante ... o médico disse que ela não sentiu nenhuma dor e foi instantâneo.
O rosto de Raffaello foi tomado pelo ar de tristeza que Carmem já conhecia.
- Nossa, que coisa terrível ...
- Tínhamos comemorado dois anos de casamento naquele dia. Estávamos assistindo um filme na TV, ela deitou-se no meu colo e pediu um beijo. Nos beijamos longamente e quando terminamos ela disse que me amava. Ela sempre dizia isso depois que nos beijávamos. Eu a olhei nos olhos. Os olhos dela começaram a se encher de sangue e ...
Raffaelllo não conseguiu continuar. Lágrimas encheram discretamente seus olhos, que se viraram em outra direção. Carmem chegou mais para perto e colocou a mão em seu ombro.
- Meu Deus, que tristeza ... que tragédia ...
- Ela sempre quis conhecer a Índia. Era fascinada. Fazia Yoga, meditação. E a culpa foi minha. No aniversário dela, dei de presente uma caixa com 365 cartões postais da Índia. Ela me pedia para irmos até lá, mas sempre havia uma urgência qualquer, outra prioridade. Seis meses depois da morte dela, fiz a viagem que ela tanto quis.
Carmem estava atônita. Havia se preparado para desancar o "mentiroso". E agora? A história rasgou seu coração em mil pedaços. Lágrimas derretiam o rímel. Ela logo procurou a bolsa e retirou de lá a salvação na forma de uma caixa de lenços de papel.
- Fiquei seis meses vivendo como um zumbi. Não sabia em que acreditar, onde buscar forças. É uma dor que não cessa. Mas, com o tempo, a agonia foi diminuindo e a vida voltando ao normal. Depois da Índia, minha alma encontrou alguma paz. Estou até escrevendo outro livro.
- Eu ... eu ... nem sei o que dizer ...
- É difícil mesmo. Desculpe pela pequena mentira, mas achei melhor não tratar desse assunto lá no seu trabalho. Por isso estou te contando agora. Você me perdoa?
- Snif! Perdoar? De que?
- Mas, não vamos ficar nesse astral triste, né? Deixa eu botar uma música mais animada.
Era a deixa para que Carmem se recompusesse.
- Vou ao toilette ...
- Sim, claro. É bem ali, à direita.
A campainha toca enlouquecidamente, seguidas vezes. Raffaello cruza na sala com Carmem.
- Nossa! O que houve? Algum problema?
- Não sei. Não estou esperando ninguém.
Raffaello abre a porta. Uma ruiva escultural, cabelos longos, pele branca como a neve, num vestido tomara-que-caia vermelho que só fazia realçar suas curvas perfeitas. Saltos altíssimos, colar e brincos de brilhantes, batom vermelho, olhos azuis da cor do céu. Na mão esquerda, uma garrafa de champanhe Veuve Cliquot ... Brut. A Deusa estava completamente bêbada. Carmem com o queixo caído, mais uma vez.
- Helga? O que você ...
- Oi bonitão ... - disse a ruiva, já enlaçando o pescoço de Raffaello para não cair.
- O que você quer, Helga? A essa hora da noite? Como descobriu meu endereço?
- Eu tava numa fexta muuuuuuuiiiiito chata ... aí o Paulinho me disse que voxê tinha voltado pra cá ... deu saudade ... tô aqui ... a noite tá só começando ...
Helga foi logo entrando e deu de cara com Carmem, completamente estática.
- Ups ... quem é a gordinha, Raffa? Cheguei numa hora ruim?
Carmem poderia aguentar muita coisa, mas ser chamada de "gordinha" não. Rapidamente pegou sua bolsa. Helga se deitou languidamente no sofá. Parecia uma atriz hollywoodiana.
- Escuta aqui ô sua ... gordinha é a ...
- Carmem, calma.
- Acho melhor eu ir embora ...
- Peraí Carmem, não vai embora não. Quem vai embora é ela.
Helga vomita demoradamente no chão e sobre a mesa de centro. Desmaia em seguida.
- Raffaello, eu não sei o que está acontecendo, mas é melhor eu ir agora.
- Carmem, eu não sei o que essa louca está fazendo aqui. Eu posso explicar.
- Tá bom. Me liga amanhã.
Ao entrar no elevador, Carmem pega o celular e liga para Emília, sua melhor amiga de plantão.
- Emília?
- Tá tudo bem?
- Não! Tá tudo mal!
Carmem não contém as lágrimas ...
E agora? Que raios está acontecendo? Quem é Helga, essa Deusa ruiva? Qual é a história dela com Raffaello? E Carmem? O que estará pensando disso tudo? Como esse imbroglio vai terminar? Será que vai terminar mesmo? Que confusão!
Essas e outras encrencas você só encontra aqui no seu blog predileto. Portanto, fique de olho e acompanhe todas as terças e sextas-feiras o desenrolar da minha, da sua, da nossa Blog-Novela Broken Heart's Brodo. E como diz o Romoaldo todas as manhãs em nosso quadro na CBN Recife: Um abraço! Bom café!