segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

O Mensageiro - As Várias Facetas da Guerra


Ricardo Icassatti Hermano

Acredito que quase todos concordam que a guerra - qualquer guerra - é uma merda. Mas, os povos que não conhecem ou não passaram por uma guerra de verdade nos últimos 50 anos, simplesmente não têm como medir seus horrores e suas consequências.

É assim conosco, os brasileiros. Conhecemos guerra de notícias, fotos, televisão, video games e cinema. Esse último a melhor e mais contundente fonte de informação. Porque, numa sociedade organizada, os artistas são os que mais sofrem quando a guerra se instala, mas são eles que vão contar as histórias sobre o que aconteceu e o que sobrou depois que a guerra acaba. Ao contarem essas histórias, utilizarão a mais eficiente ferramenta de comunicação: a emoção.

Abro aqui um parêntese para um alerta importante. É preciso ter muito cuidado nos períodos eleitorais. Os políticos também usam a emoção para ludibriar o eleitor sobre as reais motivações da sua incansável busca pelo poder. Através de publicidade emocionante, mentirão descaradamente sobre o que já fizeram, fazem e o que farão. Basta olhar a cara do seu atual governante e de quem ele quer que o suceda. Você saberá instantaneamente sobre o que estou falando.

Mas, retornemos à boa emoção. Ontem assisti o filme O Mensageiro, estrelado por Woody Harrelson, no papel do Capitão Tony Stone, Ben Foster como o Sargento e herói ferido em combate Will Montgomery, e Samantha Morton fazendo a viúva de um combatente morto no Iraque. Aliás, ela está quase irreconhecível por ter precisado engordar um bocado para compor a personagem. Em participações menores aparecem Steve Buscemi e Jena Malone. O filme é muito bem dirigido por Oren Moverman, que também escreveu o roteiro a quatro mãos com Alessandro Carmon.

Cartaz do filme

O filme conta a história da relação entre o Capitão Stone e o Sargento Will em sua difícil missão de comunicar, antes de qualquer outro, ao parente mais próximo a morte do familiar militar na guerra. Anunciar e aguentar o tranco físico, psicológico e emocional das reações. O Sargento está saindo da recuperação de ferimentos de combate. Faltam apenas três meses para dar baixa no Exército, quando é designado para fazer dupla com o Capitão.

A dupla tem a dura missão de anunciar a morte

Esse filme me trouxe a lembrança de outros dois filmes sobre o mesmo tema, a morte de militares americanos em guerras e como tratá-las com o respeito e a dignidade que merecem. O primeiro é estrelado por James Caan. Acho que o nome era Gardens of Stone (1987) e ele interpretava o oficial que comandou a primeira companhia dedicada exclusivamente aos serviços funerários dos combatentes mortos. São aqueles soldados em uniforme de gala que carregam os caixões nos cemitérios, dão a salva de 21 tiros e dobram a bandeira que é entregue à família.

Foi somente na Guerra do Vietnã que o tratamento dado aos mortos e seus familiares mudou. Até então, a família recebia apenas um telegrama. O segundo filme é mais recente, 2009, e chama-se Taking Chance, uma produção do canal HBO estrelada por Kevin Bacon, trabalho que lhe rendeu o Globo de Ouro de melhor ator de filmes para TV.

Neste filme, Bacon interpreta o Tenente Coronel Mike Strobl, que se oferece como voluntário para acompanhar o traslado do corpo do soldado Chance Phelps - morto em combate no Iraque aos 19 anos de idade - desde a sua chegada em solo americano até a sua cidade natal, onde será enterrado. O filme é baseado num caso real. Ao longo da jornada de alguns dias, os dois recebem diversas homenagens de pessoas anônimas e o Tenente Coronel descobre muito a respeito de Chance, do país e de si próprio.

O povo americano está acostumado com a presença da guerra em suas vidas, mas como todos nós, jamais estará preparado para encarar a dureza da notícia que um ente querido está voltando para casa em um caixão, que nem sempre pode sequer ser aberto. As forças armadas americanas criaram rituais belíssimos para esse momento. São várias etapas, desde a visita com a notícia da morte, o suporte aos familiares, a preparação do corpo, o traslado até o enterro com as homenagens. Todas elas são acompanhadas de perto por oficiais dedicados unicamente a esse serviço.

É claro que isso tem implicações profundas em todos os envolvidos. É justamente disso que esses filmes tratam. Cada um deles tem como cenário uma ou várias dessas etapas. As marcas que ficam são para sempre. Nós nem temos imaginação suficiente para tentar entender o que acontece com essas pessoas. Mas, temos os filmes, os relatos que nos dão a visão de um quadro. O bastante para nos emocionar também.

Woody Harrelson concorre ao Oscar de Melhor Ator Coadjuvante com esse papel. Não sei se vai ganhar porque está concorrendo com outros atores talentosos e com performances fantásticas. Mas, a indicação foi merecida. Harrelson mostra a cada filme que é um ator tremendamente versátil e que pode desempenhar muito bem em qualquer gênero.

Harrelson, um ator versátil que só melhora a cada filme

Uma nova geração de cineastas está mudando o enfoque que os filmes usam para abordar a guerra. Saem os julgamentos, as ideologias e os panfletos e entram as análises dos desdobramentos, a feridas e a busca da esperança. O Café & Conversa assistiu O Mensageiro e recomenda. Nota 10. Veja o trailer.



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