segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Os Suspeitos, e não são os mordomos

Ricardo Icassatti Hermano

Como saber se um filme de suspense, do tipo thriller policial, é realmente bom? É quando o cinema inteiro prende a respiração numa cena angustiante e solta o ar ao mesmo tempo. E isso acontece muitas vezes no excelente Os Suspeitos (Prisoners), que tem direção de Denis Villeneuve, roteiro de Aaron Guzikowski e um elenco de primeira, com destaque para os peso pesados Hugh Jackman, o consagrado Wolverine, e Jake Gyllenhaal.

Cartaz do filme

O filme é sobre o sequestro de duas meninas lindas e o desespero que vem em seguida para as respectivas famílias. Não existe situação mais angustiante, impotente, desesperadora  para um pai e uma mãe que o desaparecimento súbito de um filho pequeno. Para ter uma ideia do quanto pode ser traumatizante, uma cena sensacional mostra uma mãe que teve seu filho sequestrado há 20 e tantos anos. Todos os dias, após tomar o café da manhã, ela assiste a uma antiga fita de vídeo. São as únicas imagens que tem dele. E estão começando a desparecer também ...

A distância entre a felicidade e o desespero é menor do se pensa

Inevitável me lembrar dos meus filhos quando eram pequenos como as meninas do filme. Morávamos em Natal, na Ponta Negra, e íamos à praia todo final de semana. Em um deles, estávamos lá tranquilos quando uma mulher se aproximou e começou a elogiar a beleza dos meninos. Ao final de uma longa paparicação soltou essa: "São tão lindos que dá vontade de roubar". Por pouco não pulei em cima dela, mas saiu de lá com os ouvidos recheados de palavrões. Uma coisa é certa. Quem tem filhos pequenos, perdeu o direito de se distrair, de ser relapso, despreocupado. Eu não deixava os meus longe da minha vista. 

Atuações brilhantes desses dois atores

Outra questão se sobrepõe ao sequestro. O que cada personagem faz para achar as meninas antes que seja tarde. O detetive Loki (Jake Gyllenhaal) segue uma direção; o pai Keller Dover (Hugh Jackman) acha que é pouco e resolve ajudar à sua maneira; o outro pai Franklin Birch (Terence Howard) vai por gravidade; as mulheres se entregam à tristeza e ao desespero, com todas as cobranças naturais. Ainda temos o primeiro suspeito, o retardado Alex Jones (Paul Dano) e a sua mãe adotiva, Holly Jones (Melissa Leo). Todos, diga-se, em performances admiráveis. Nem nos damos conta de que Hugh Jackman é o Wolverine. A cada minuto suspeitamos de alguém. Daí o nome do filme.

A impotência diante das circunstâncias

Isso é resultado de um roteiro muito bem escrito e de uma direção brilhante que nos leva apreensivos e amedrontados através dessa terrível história. O caos que caracteriza esse tipo de situação é retratado de maneira genial. A cenografia foi escolhida a dedo, numa cidade em que faz frio, chove quase o tempo todo e, talvez por isso, não tenha gente pelas ruas. Há um clima de absoluta solidão, desamparo e impotência diante de forças que nos são incompreensíveis. Uma dessas forças é a mente tenebrosa dos psicopatas e suas motivações. Muita tensão, algumas surpresas, mas nenhum susto. Mas, nos afundamos em nossas cadeiras. A alma humana é indecifrável e ao tentarmos fazê-lo, é como se rodeássemos um enorme rochedo sólido em busca de frestas que nos mostrem o interior.

Essa dupla também deu show de interpretação

O filme é sensacional e sério candidato a alguns Oscar. O seu blog predileto assistiu, gostou, se angustiou e recomenda apenas para os fortes. A nossa cotação é cinco canecas com louvor. Medo educativo para toda a família.


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