quarta-feira, 9 de abril de 2014

Noé interplanetário de Alto Paraíso

Ricardo Icassatti Hermano

Noé foi um dos descendentes diretos de Adão. Era filho de Lameque e neto de Matusalém, aquele que, segundo a Bíblia (Gênesis), viveu 969 anos e morreu no grande dilúvio. Dilúvio esse que foi tema do filme Noé, a que assistimos no último final de semana. Estava curioso para ver como essa história milenar seria mais uma vez recontada. O personagem principal, Noé, que viveu apenas 950 anos, é interpretado por Russell Crowe; a sua esposa Noéma, é vivida pela sempre bela Jennifer Connelly; e a filha adotiva é a Emma Watson. Matusalém é interpretado por ninguém menos que Sir Anthony Hopkins, mas está a cara do Mestre dos Magos, do desenho animado Caverna do Dragão.


Cartaz do filme

De bíblico mesmo, só vi o dilúvio. A trama foi completamente alterada. Os cenários e locações sugerem um outro planeta. O Noé bíblico teve três filhos. No filme tem os três e mais uma filha adotiva. Ele e a família, no filme, são vegetarianos, comem musgos e frutas silvestres, não colhem flores e nem são consumistas. Também eram pacifistas. Mas, somente até que alguém os ameaçasse. Aí valia tudo. Nas falas, um discurso ecológico politicamente correto colocando a culpa de tudo nos "homens". Por isso, o "Criador" ficou chateado e resolveu matar todo mundo afogado. O pessoal do aquecimento global vai vibrar. Resumindo, é isso.


Na hora do pega pra capar é cada um por si

Além do próprio dilúvio, anunciado a Noé através de um sonho, vi poucos links com o texto bíblico. Um deles é o Noé, barbudo, beberrão, dizendo ser escolhido de Deus. Achei até que estava assistindo ao filme errado ... Se o filme fosse classificado como ficção científica seria melhor. Mas, não estou dizendo que a película é ruim. Pelo contrário, é muito bem produzida, os efeitos especiais são de primeira, os desempenhos são convincentes. É uma característica das boas histórias. Podemos recontá-las de diversas maneiras porque são estimuladoras da imaginação e da criatividade.


Matusalém gosta de dormir e parece o Mestre dos Magos

Então não vá ao cinema esperando encontrar mensagens religiosas, citações bíblicas, manifestações divinas etc. Trata-se de um filme de ficção levemente inspirado pela história do dilúvio relatada na Bíblia. Aliás, já sabemos que essa história é bem mais antiga do que se supunha, após a descoberta e tradução de textos sumérios. Lá, a história do dilúvio é bem diferente e tem detalhes que deixaram os cientistas de cabelo em pé. Se quiserem detalhes, leiam a série de livros de Zecharia Sitchin, "As Crônicas da Terra", que começa com "O 12º Planeta".


Esse livro vai mudar suas crenças

No filme, Noé e sua esposa fazem remédios de ervas e um incenso alucinógeno-anestésico que bota a bicharada para dormir, resolvendo os problemas logísticos de abrigar milhares de animais diferentes dentro de um barco. Imagine aquela bicharada comendo e cagando diariamente. A mulher do Noé amassa grãos com pedras, e pega na enxada enquanto ele constrói a arca gigantesca com os filhos e a ajuda providencial de uns anjos caídos. Eles ainda sempre têm um paninho para tudo. A turma que frequenta Alto Paraíso, São Jorge e Cavalcante vai adorar, especialmente o incenso.

Incenso lá do Maranhão ...

Além disso, parece que virou uma tendência irreversível incorporar um draminha adolescente em tudo quanto é filme. Se for da Disney, aí teremos uma criança engraçadinha e super inteligente e uma trilha sonora que dá vontade de vomitar. Um dos filhos de Noé resolve trair o pai porque o dilúvio vai matar todo mundo e ele não vai conseguir uma mulher para casar. Na verdade, ele quer é furunfar mesmo. O irmão mais velho, que não é bobo, já pegou a irmã adotiva. O garoto então se une a um parente derivado da linhagem de Caim e planejam matar Noé. A trama ganha ares de seriado americano, mas não chega a atrapalhar. No final dá tudo certo. 


Noé estilo Alto Paraíso

No frigir dos ovos, o filme é bom como entretenimento. E é só. Mas, vale o ingresso. Esqueça os efeitos 3D prometidos. O máximo que você terá é uma profundidade maior. Mas, após 15 minutos, torna-se imperceptível. Fiz uma breve pesquisa e descobri que Hollywood está fazendo os filmes de modo convencional e na pós-produção digital adicionam o efeito 3D. Ou seja, não estão filmando em 3D real. É bem mais barato. Além disso, filmar em 3D exigiria um esforço extra dos roteiristas para escrever as cenas imaginando o efeito. 



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