sábado, 24 de maio de 2014

Feliz Dia Nacional do Café

Publicado, originalmente, no portal NE 10 
Passava de cinco da tarde, o tempo fechado, as ruas quase desertas e o alferes, imbuído do princípio hierárquico, sentia que estava perdendo a batalha.

 – Tanto gasto, tanta expectativa e eu estou voltando ao Brasil de mãos abanando - confidenciou a um guia que o acompanhava pelas arenosas vielas de Caiena.

Francisco de Melo Palheta tinha recebido das mãos governador do Maranhão, o capitão-general, João da Maia da Gama, uma carta de apresentação com um pedido oficial ao governo da Guiana Francesa, Claude d’Orvilliers. “Por este portador, queira encaminhar para este país irmão, mudas de cafeeiro”.

Palheta sentia o frio cortante e úmido de Caiena, mas nada tinha mais amargo que o não ouvido em três idiomas, pronunciado pelo governado: “Non”, “not”, “nãum” (tentando aportuguesar a negativa). Claude d’Orvilliers tinha ordens de Paris para não ceder uma muda, sequer, do café plantado no território.

O alferes brasileiro não desistiu, voltou para o alojamento, tomou banho, perfumou-se, vestiu a melhor farda que tinha, botou o chapéu de lado e voltou à porta da casa do governador. Tocou a aldrava três vezes, enquanto sentia o coração querendo sair do uniforme. As pernas trêmulas, a mão suando.

De repente, a porta se abre, e Palheta é dominado por um impulso instigado pela adrenalina de derrota e o aroma da “eau de toilette”. “Madame saiu do banho”, pensou.

O militar brasileiro quis saber do governador, dissimulando a vontade de apelar à primeira-dama por uns pés de café. Envolvente, charmoso e direto, Francisco de Melo Palheta perguntou à madame d’Orvilliers se ela tinha tempo para  ouvir histórias da colonização brasileira, dos conflitos com os índios e do ritmos musicais que aos poucos iam de destacando nas províncias do Brasil. Nem a madame estava interessada na história do Brasil nem Palheta tinha enredo suficiente para sustentar uma prosa de meia hora, que era o tempo de que dispunha d’Orvilliers, até que o governador retornasse de uma “inspeção” no entorno  da vila.
No dia seguinte, quando se arrumava para retornar ao Brasil, um emissário de madame d’Orvilliers bateu à porta do pensionado e entregou um ramo de flores a Palheta. No meio das folhagens, ela tinha escondido sementes de café. Foi assim, que em setembro de 1727, depois de meia hora de amor clandestino do alferes Francisco de Melo Palheta com madame d’Orvilliers, o Brasil começaria a se tornar o maior produtor de café do mundo.

Essa é a história envolvente de um grão tão sedutor.
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