sábado, 2 de outubro de 2010

Chovendo na Roseira - Japanese Bossa Nova


Romoaldo de Souza


Estava aqui, lendo uma pesquisa que aponta 14% dos jovens já tendo experimentado "algum tipo de droga". Acho que a pesquisa, para ser completa, deveria dizer quantos desses 14% votaram alguma vez na vida. Certamente o percentual passaria para outro patamar.


Mas não quero destilar meu ensandecido veneno contra os jovens que já votaram. Eu já fiz isso, em outras épocas. Tenho até receio de dizer que não votarei nessas eleições. Sim, pode imaginar, com a obrigatoriedade do voto, que torna mais de 135 milhões de cidadãos em carneirinhos de segunda cria, dizer que não votarei pode significar um crime. E do jeito que os valores estão invertidos nesse país, é bem provável que eu vá em cana antes dos que são votados e fazem do mandato uma missão quase messiânica em favor dos próprios interesses.


Ih, nem sei porque deixei escapar isso. Escrever dois parágrafos para um assunto que não move um cílio sequer no meu rosto já é até demais. O que eu quero falar é que depois de 129 dias, finalmente choveu em Brasília. Ainda não foi aquele toró, mas uma chuvinha aconchegante, que lembra um dos raros poemas da MPB dignos de suspiros. Chovendo na Roseira. Tinha de ser Tom Jobim, nosso verdadeiro poeta, para escrever "…O...lha, que chuva boa, prazenteira". Que chuva que traz prazer!!!


Outro dia estava conversando com o amigo Geraldo Freire, certamente um dos maiores comunicadores de rádio do país. Estávamos falando da época de seca em Brasília. Só quem vive em Brasília para saber como a gente conta os dias sem chuva.


Como não tem uma maneira de fazer contagem regressiva, vão se acumulando os números. A quantidade de dias é somada com a ênfase de quem espera o primeiro botão da rosa. "Pétalas de rosa carregadas pelo vento". Entendeu porque a gente fica tão esquisito aqui em Brasília quando está esperando a chuva?


Foi aí que me vieram em mente esses versos do Tom Jobim. E acabei por me lembrar de uma show que vi anos atrás com o Japanese Bossa Nova. É. No Japão, sabe-se muito sobre a Bossa Nova, que não é assim uma criação, mas musicalmente falando, é um gênero musical de fazer inveja em muitos movimentos culturais que vão e voltam ao sabor da ventania mercadológica.


Bom, chega, não é gente!


Bom domingo a todos. A gente se encontra! Se você está entre os que votam. Vote. De preferência no menos pior.


Chovendo na Roseira

Tom Jobim


Olha está chovendo na roseira
Que só dá rosa mas não cheira
A frescura das gotas úmidas
Que é de Luisa
Que é de Paulinho
Que é de João
Que é de ninguém

Pétalas de rosa carregadas pelo vento
Um amor tão puro carregou meu pensamento

Olha um tico-tico mora ao lado
E passeando no molhado
Adivinhou a primavera

Olha que chuva boa prazenteira
Que vem molhar minha roseira
Chuva boa criadeira
Que molha a terra
Que enche o rio
Que limpa o céu
Que trás o azul

Olha o jasmineiro está florido
E o riachinho de água esperta
Se lança em vasto rio de águas calmas

Ah, você é de ninguém
Ah, você é de ninguém



Um comentário:

Rodrigo Jorge disse...

Muito bem!!! Toda essa analogia, relação seca braziliense e poética Jobimniana foi como o tico-tico que mora ao lado, que anunciou a primavera!

Excelente texto companheiro!