segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Contágio e a vontade de tomar banho com álcool

Ricardo Icassatti Hermano

Os americanos não gostam de amadorismo e adoram dinheiro. Quando descobrem uma boa ideia, logo a transformam num produto industrializado e vendem para o mundo todo. Foi o que fizeram com o cinema. Transformaram um experimento em indústria altamente lucrativa, quer dizer, quando o filme é bem feito, né?

Na hora do pega pra capar, é cada um por si

Com o tempo foram aperfeiçoando as técnicas e o modo de fazer cinema. Criaram estilos e classificaram tipos de filmes: drama, comédia, ação. Mais tarde, subdivisões foram surgindo: comédia romântica, policial, aventura, ficção científica, western, terror, romance, catástrofe, suspense etc.

Os menores gestos, hábitos que sequer notamos, podem ser mortais ...

No final de semana, fui assistir o filme "Contágio", que já é uma subdivisão do cinema catástrofe. Eu o chamo de "aflitivo". Não é um filme de terror, porque não nos deixa com medo do escuro; também não é suspense, porque não nos tira o fôlego; não é drama porque não nos acabamos em lágrimas; muito menos romance. É um filme que apenas nos aflige e nos deixa com coceira, vontade de tomar um banho com álcool.

Cartaz do filme aflitivo

A história é sobre uma contaminação virótica mortal em escala global. É o pesadelo dos infectologistas, pois é algo que vai acontecer. É apenas uma questão de tempo. Atingimos a marca dos sete bilhões de seres humanos disputando espaço no planeta com florestas e animais. Os diversos ecossistemas estão carregados de vírus, bactérias, micróbios, germes que não nos oferecem qualquer perigo. Desde que se mantenham onde estão. Porque basta uma pequena mutação e nós estamos no sal.

Não se anima não, porque a Gwyneth morre logo no início

Esse é o tema central do filme. A cadeia de acontecimentos que levam o vírus que habita a saliva de um morcego a matar 26 milhões de habitantes de grandes metrópoles. Nossa espécie vive amontoada em cidades, empilhadas em arranha-céus, transitando aos milhões por buracos mal ventilados, se apertando nas ruas, nos shoppings, no trabalho, em casa e ainda por cima viajamos entre países e continentes em aviões lotados. É o meio ideal para a transmissão em massa de micro organismos.

O bom do cinema é que toda cientista é gata

O filme é bom, mas apesar do aparente alerta sobre um perigo iminente, não foi feito com o intuito de educar. Isso ficou patente no comportamento das pessoas dentro do cinema ao tossirem e espirrarem sem se preocupar em colocar algo diante da boca, nem que fosse a mão. Mesmo depois de uma cena em que essa situação era exemplarmente demonstrada ... Nem vou falar de corrimãos, maçanetas e outros lugares em que colocamos nossas mãos sem pensar.

Blogueiro descobre e revela epidemia. Espero que a gente aqui
do Café & Conversa não precise usar essas roupas ...

Não se espante se deixar o cinema procurando não encostar em nada, ouvindo cada tosse e espirro num raio de dezenas de metros, tendo uma vontade súbita de usar máscara cirúrgica e evitando contato físico com outras pessoas. É uma reação absolutamente normal e o diretor do filme, Steven Soderbergh, atingiu seu objetivo: causar aflição na gente. 

Nem mesmo as cientistas gatas escapam do vírus letal

No mais, o filme é bom e tem um elenco estelar, com Matt Damon, Gwyneth Paltrow, Kate Winslet, Jude Law e Laurence Fishburne. Só isso já vale a pena, mas seria bom também aproveitar para repensar os seus hábitos de higiene. Não esqueça de levar máscara e álcool gel para o cinema. E torça para, na loteria da vida, você ter nascido naturalmente imune. 

Veja o trailer:


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