Ricardo Icassatti Hermano
Hoje é o Dia de Finados. Mas, sou da mesma filosofia cigana do Romoaldo. Não choro meus mortos. Sinto saudades e lembro os bons momentos que desfrutamos. Afinal, o problema dos mortos já está resolvido. O nosso é que continua ... e sempre prefiro celebrar a vida, que apesar de tudo é uma dádiva.
Foi o que fiz ontem. Comecei o dia dormindo. A maratona das eleições chegou ao fim e pude descansar o corpo. Para descansar a mente, fui almoçar com a filharada e a querida nora Aline. Depois fomos assistir o filme Federal, totalmente produzido e rodado em Brasília.
Confesso que fui por curiosidade e acredito que todos no cinema estavam lá pelo mesmo motivo. Ninguém botou fé que o filme fosse realmente o que a propaganda alardeia: "Considerado o Tropa de Elite 3" ... E exatamente como nós, todos saíram decepcionados com a péssima qualidade de tudo.
O filme é farto. Farta roteiro, farta iluminação, farta edição, farta continuidade, farta som, farta atuação decente, farta direção. Eu sei, a piada é velha. Mas, quem disse que o mundo é justo? Já vi experimentos de estudantes muito melhores que aquilo. Esse filme merece apenas um conselho: não desperdice o seu dinheiro com ele.
Cartaz do mico ...
O curioso foi ver que entre os patrocinadores daquela josta estão a Petrobras e o BNDES. Fiquei a pensar quais seriam os critérios dessas instituições conhecidíssimas pela probidade, para botar dinheiro público nas mãos de incompetentes. Sei não ... Será que tem taxa de sucesso? Quem são os responsáveis por atestar a qualidade do que patrocinam? Quem fiscaliza isso?
Em seguida, Romoaldo e eu fomos ao que ficou conhecido no mundo virtual como "O Grande Encontro com @ruthmarias". Antes preciso explicar quem é a Ruth. Ela foi minha professora no Colégio Objetivo e a responsável por momentos inesquecíveis da minha vida. Ela também me deu lições valiosas sobre aceitar desafios que, num primeiro momento, nos parecem gigantescos. Não conheço professora melhor.
Naquela época, meados dos anos 1970, o Segundo Grau estava iniciando uma nova abordagem pedagógica com os chamados Laboratórios. Acredito que a ideia era facilitar a escolha de uma profissão quando fôssemos nos inscrever para o vestibular. A Ruth foi minha professora no Laboratório de Comunicação. Ela foi uma das pessoas decisivas na escolha profissional que fiz.
O Colégio Objetivo, que nasceu em São Paulo, estava começando sua expansão para outros estados. Havia uma competição entre os diretores para ser o primeiro em certos quesitos. No nosso caso, era qual colégio seria o primeiro a editar um jornal. O nosso Laboratório seguia uma linha que nenhum outro seguia: não ter uma linha.
Combinamos que nosso horário seria o noturno e nosso "aprendizado" não seguiria os padrões ortodoxos. Claro que tudo isso foi liderado e organizado pela Ruth. Não vou entrar nos detalhes da nossa heterodoxia para não arrumar encrenca. Mas o resultado foi que conseguimos editar nosso jornal antes até mesmo que São Paulo, que tinha mais alunos e muito mais recursos que nós. Nossa "sala de aula" era um barracão de madeira.
A partir dessa "vitória", o diretor do colégio, o César, passou a nos dar um tratamento melhor. O barracão ganhou uns upgrades, mas manteve a alma libertária. Uma bela noite, o César entrou esbaforido na nossa sala de aula. Estava desesperado. A primeira festa de formatura do Objetivo de Brasília estava para naufragar. A turma de alunos encarregada de preparar a festa, simplesmente não havia feito nada.
Ele nos pediu socorro. Éramos meia dúzia de garotos cabeludos, barbudos e meio embriagados, liderados por uma professora super gata.
Essa foi uma das grandes lições que aprendi com Ruth. Não há desafio que não possamos enfrentar. Precisamos de vontade, recursos e criatividade. Os recursos estavam garantidos pelo César. O resto, investimos em três dias e três noites sem dormir. Ruth administrou tudo e nós botamos a mão na massa. Fizemos toda a decoração de um ginásio de esportes alugado para o evento. Montamos palco e até distribuímos mesas e cadeiras, com toalhas e tudo o mais.
Saímos do ginásio quando os primeiros convidados estavam chegando. Fui para casa me arrumar para a festa. Apaguei no chuveiro. Alguém me tirou de lá, mas estava difícil não dormir. Alguém me deu um comprimidinho. Saí quicando para a festa. A turma chegou mais ou menos junta, mas já era tarde e não encontramos mesa vazia.
Assim que nos avistou, o César veio até nós e perguntou onde estávamos sentados. Espantado com a nossa resposta, pediu que o seguíssemos até uma grande mesa colocada à frente do palco onde haveria um show. Era a mesa da turma de estudantes que deveria ter feito o trabalho que fizemos. César mandou todo mundo levantar, esclarecendo que quem merecia estar sentados ali éramos nós.
Bom, o resto é história. Passaram-se os anos e de repente reencontro minha querida professora no Twitter. Foi uma alegria só. Desde então, passamos a combinar um encontro ao vivo e a cores. Mas, a correria da vida sempre adiava. Até que finalmente surgiu a oportunidade para "O Grande Encontro com @ruthmarias", lá na Fellini Caffè. Com direito a caneca e tudo o mais.
Mulher é foda. Marca hora, chega atrasada e ainda
precisa ajeitar o cabelo para receber uma caneca ...
Foi um encontro emocionante. Hoje, Ruth preside uma ONG que leva educação a crianças carentes. É realmente uma professora. Embalados por um excelente Santo Grão Sul de Minas e todas aquelas guloseimas deliciosas, ficamos horas lembrando essas estórias que você acabou de ler e outras tantas que alongariam demais esse post. E tudo graças à internet e ao café.
Ruth recebendo a caneca diretamente das minhas mãos. À mestra com carinho : )
Muitos teóricos apressados disseram que as redes sociais acabariam por afastar as pessoas do convívio pessoal. Não é o que tenho visto e experimentado. Conheci pessoas incríveis através das redes. Reencontrei outras tantas que havia perdido contato ao longo da vida. Passamos a nos encontrar pessoalmente graças também ao café.
"Nooooooossssssa! É uma caneca do Café & Conversa!!!"
Ultimamente o Café & Conversa tem se dedicado a levar leitores e leitoras para degustações em cafeterias bacanas da cidade. Por exigência deles(as) mesmos(as). Apertar os laços de velhas e novas amizades em torno de xícaras fumegantes e cheirosas, é uma ciência delicada. Em nossa mesa, sentam-se as mais diversas personalidades, linhas de pensamento e preferências políticas. Nada disso jamais impediu a amizade entre todos. E tem gerado excelentes conversas.
Alegria incontida com o sonho realizado
Amizade é uma espécie de amor. Como tal, exige respeito, tolerância, bom humor, curiosidade, mente aberta e inteligência. O café atrai tudo isso e mistura divinamente como um Lacrima. Sou um abençoado por conhecer gente desse calibre. E é muita gente. Também sou abençoado por ter "descoberto" o café e tudo de bom que ele acrescenta ao convívio dos amigos. Agora me deu vontade de tomar um espresso ... Fui ----- >
2 comentários:
amei esta historia e este post. parabéns! bjs @solangewww
Li a estória e me deu vontade de tomar café tb!!! :-) Apesar de hoje já ter até exagerado na dose (se é que isso existe!) rsrsrs
Que barato! Gostei!
beijo
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