Ricardo Icassatti Hermano
Nossas memórias são atreladas a músicas, cores, sabores e perfumes. Mas, são sempre, sempre carregadas de emoções, porque são elas que realmente marcam. Por isso, temos muito apego às nossas memórias e pouca exatidão nos fatos. Quando as relatamos, passamos sensações, impressões, versões da verdade nua e crua. Por que? Porque nos são caras, nos definem, nos limitam, nos revelam.
Assim, é sempre difícil assistir a um filme que é releitura de outro mais antigo e que nos marcou. É o caso do recém-lançado Além da Escuridão - Star Trek. Sou fã de ficção científica, do tipo chato mesmo. Quando criança e pré-adolescente, acompanhei toda a série de TV. Adulto, comprei tudo em DVD. Depois, assisti os filmes. Nem todos foram tão bons assim, mas tinham os atores originais do seriado. Só isso já me bastava. Eles mantinham as minhas memórias intactas.
Cartaz do filme
Com a nova rodada de releitura de Star Trek, confesso que fiquei ansioso e angustiado. Estaria o diretor J.J. Abrams à altura do desafio de não macular minhas memórias? O primeiro foi absolutamente fantástico. Sabiamente, começou do zero e contou toda a história que levou à grande amizade entre o capitão James T. Kirk e seu 1º Oficial, o impagável vulcano Dr. Spock. Ambos imortalizados pelos geniais atores William Shatner e Leonard Nimoy. Este último nos alegra com uma rápida aparição.
A amizade entre Kirk e Spock é o elemento fundamental do filme
Acertadíssima foi a decisão de procurar atores - Chris Pine e Zachary Quinto - que tivessem semelhança física com os atores originais, pelo menos os dois principais e os outros que formam o núcleo das aventuras. E aqui a coisa ficou realmente impressionante. O Spock então é brincadeira. Aí veio a renovação do visual futurista e também foi de arrepiar cabeça de careca. Os efeitos especiais são estonteantes e as batalhas no espaço são simplesmente espetaculares. Saí do cinema com minhas memórias intactas e renovadas.
A saga continua
Depois do tradicional almoço com a filharada e nora, fomos ver o segundo filme da série. Barriga cheia e coração apertado. Fiz um curso de edição de vídeo em que editávamos trailers de filmes. Sei como é fácil vender um filme ruim. Por aí não me pegam mais. Mas, novamente e felizmente J.J. Abrams me satisfez por completo. Meu filho caçula, por incrível que pareça, não conhecia a saga Star Trek. Todo moderninho, é ligado à ficção científica mais atual, da turma do Star Wars. Pois ele saiu do cinema de queixo caído. Adorou e disse que vai ver os outros filmes. Papai não erra, menino.
Curiosidade: o filme começa no planeta Nibiru ...
Neste novo filme, ressurge um dos vilões mais famosos do seriado, o alienígena Khan Noonien Singh. Um dos filmes antigos foi dedicado inteiramente a ele: A Vingança de Khan. Também foi interpretado pelo ator que viveu Khan na TV, o ator Ricardo Montalban, famoso por outro seriado, A Ilha da Fantasia. Na TV, ele não era um alienígena, mas um super humano melhorado geneticamente que chegou a dominar uma parte do planeta nas guerras eugênicas dos anos 1990. Foi congelado e depois descongelado pela tripulação da Enterprise em 2.267. Ficou melhor agora como alienígena super forte.
Montalban fez o vilão Khan na TV e um filme
Não sei se foi a direção que estabeleceu o perfil do novo Khan ou se foi trabalho do próprio ator, Benedict Cumberbatch, mas o vilão ficou parecido com o Félix da novela. Uma bicha má, com adição de super poderes e um vozeirão. A boca mole incomoda porque parece que ele vai babar a cada sílaba. Mas, o importante é que a semelhança acaba por fazer um bom contraponto com o capitão Kirk e não compromete o resultado final.
O novo Khan é um Félix alienígena fortão
A supresa fica com a entrada na "família" de uma nova personagem, a 1ª Oficial cientista Carol, interpretada pela loiríssima, gatíssima e saradíssima Alice Eve. Ela é responsável por um dos pontos altos do filme. Aliás, o ponto dela não é alto, é altíssimo. Ela é especialista em armamentos e filha do Comandante da Frota Estelar, Almirante Marcus, que tem importante papel na trama.
Para com isso ...
Por falar na trama, o enredo mostra que a arte capta o momento melhor que qualquer marqueteiro e suas pesquisas. À certa altura, é dito que inimigos cruéis sempre existirão e que, para combatê-los, às vezes é necessário liberar nossos demônios internos. É verdade. Mas, também é aí que tudo começa a ficar confuso e perigoso. Como dizem lá no filme, é preciso nunca esquecer quem somos e que tipo de sociedade queremos ter. É disso que o filme trata. Profético, tendo em vista todas as revoltas que acontecem hoje no mundo e no Brasil, e o escândalo da espionagem ampla, geral e irrestrita patrocinada pelo santo Obama.
Agora tem uma Enterprise do mal, em preto fosco
A nave Enterprise desde sempre é um dos personagens mais importantes do seriado e dos filmes. Tanto é que foi destruída quando acabou a sequência de filmes com os atores originais. Série nova, Enterprise nova e ainda personagem. Ela apanha, perde pedaços e parte da tripulação morre, solta fumaça, ameaça explodir, mas sobrevive a danada. Uma lanternagem aqui, uma pintura ali, troca da fiação, um reator novo e voilá, ela está pronta para novas aventuras e "para audaciosamente ir aonde nenhum homem jamais esteve".
Ela é quem mais apanha, mas sempre dá no couro
Resumindo, o filme é sensacional e imperdível. O seu blog predileto Café & Conversa assistiu, gostou, aplaudiu e recomenda com a cotação de cinco canecas. Diversão para toda a família. Veja o trailer: