sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Rush, um filme cheio de boas lembranças

Ricardo Icassatti Hermano

Eu estava sem rumo na minha adolescência. Normal. Meu pai quis me dar um rumo ou uma motivação, não sei dizer, quando notou meu interesse pelo automobilismo. Um belo dia, ele anunciou que havia comprado um kart para mim. Meu amigo Wagner Rossi já havia começado a competir nessa categoria iniciante e assim que soube da novidade, propôs que montássemos uma equipe. Não me lembro se tinha um nome. Acho que esquecemos desse detalhe.

Cartaz do filme

Foram dias muito bons e cheios de graxa, velocidade, gasolina, ferramentas e maluquices. Até que em uma corrida dentro de um estacionamento, um piloto bêbado se envolveu num acidente com o Roberto Pupo Moreno (Baixinho), que decolou com seu kart e aterrissou em cima da minha perna direita. Não quebrou, mas meu kart se espatifou no meio-fio e fui ejetado, caindo de cabeça na calçada. Ainda bem que estava vestindo capacete. Apenas fiquei tonto por uns 15 minutos e minha carreira automobilística se transformou num monte de ferro retorcido. 

 Daniel Bruhl interpreta Niki Lauda e Chris Hemsworth é James Hunt. Semelhança física impressionante

Fiz essa introdução - que no jornalismo chamamos de "nariz de cera" - para falar do filme Rush: No Limite da Emoção (Rush), que trata da rivalidade entre os pilotos James Hunt e Niki Lauda, na Fórmula 1 dos anos 70. Uma época de ouro do automobilismo. E perigosa também. Éramos fãs desses caras e de outros: Emerson Fittipaldi, Carlos Reutman, René Arnoux, Giles Villeneuve, José Carlos Pace etc. Eram equipes quase de fundo de quintal. Quase todas utilizavam o mesmo motor Ford, menos Ferrari e BRM. Eram tempos heróicos. Aí veio a TV, a grana começou a entrar, o risco aumentou e obrigou a profissionalização. As grandes fábricas tomaram conta do negócio. 

Niki Lauda e James Hunt, pilotos sensacionais

Mas, rever aquilo tudo na tela foi emocionante. Chorei em algumas cenas, como a do acidente que queimou e marcou definitivamente Niki Lauda. A competição com James Hunt em 1976 é a espinha dorsal do filme e nos mostra um pouco dos bastidores comparando duas personalidades diametralmente opostas. Lauda era racional, disciplinado, meticuloso, e excelente estrategista. Hunt era um putanheiro desenfreado, bebia, cheirava e fumava desesperadamente, mas tinha um talento excepcional para pilotar um carro de corrida. Lauda também era talentoso, mas tinha que se esforçar e não corria riscos desnecessários. Hunt não fazia a menor força. Os dois eram adversários absolutamente leais.

Época marcada por grandes acidentes e mortes

Wagner e eu tínhamos personalidades mais ou menos equivalentes às dos personagens do filme. Wagner era mais Niki Lauda e eu mais James Hunt. Ele não bebia, não fumava, estudava a fundo a mecânica e tinha uma única namorada, com quem se casou. Eu bebia demais, fumava demais, namorava adoidado, vivia em alta velocidade, só sentava no kart para correr e me casei quatro vezes. O Wagner seguiu no automobilismo por alguns anos. Eu virei jornalista e lutador de artes marciais. E parei de fumar quando meu primeiro filho nasceu. Bebo vinho de vez em quando. Estamos os dois vivos, saudáveis e continuamos grandes amigos. Niki Lauda está vivo também e ainda trabalha com a Fórmula 1. James Hunt continuou na vida louca e morreu aos 45 anos anos de idade.

Não existe emoção melhor que a desse instante antes da largada

O filme é excelente. Qualquer pessoa que goste de automobilismo e anda decepcionado com a Fórmula 1 atual, vai se arrepiar como eu me arrepiei ao rever os carros originais ligando seus motores, os autódromos, as corridas, o frisson. Quase dá para sentir o cheiro de gasolina e óleo. Cheiro bom demais : ) Era tempo de aventura e de coragem. Imagine se um piloto daquela época aceitaria ordem dos boxes para deixar outro piloto ultrapassar ... Basta lembrar do Piquet com Nigel Mansel e do Senna com Alain Prost. Ninguém aliviava. Esse tempo acabou. Agora é o tempo do diminutivo, com nomes terminando em "inho" ou "inha". Uma invenção idiota do Galvão Bueno. 

Os carros da Fórmula 1 não voam mais ...

O Café & Conversa assistiu ao filme, gostou, se emocionou e recomenda. Diversão para quem realmente ama o automobilismo, aquele de verdade. Veja o trailer:


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