Ricardo Icassatti Hermano
Uma crise econômica é ruim para todo mundo. Até para o crime organizado, onde se reproduz a mesma escala de negócios do mundo corporativo formal. Poucos ganham muito e a maioria sobrevive com os resultados da labuta diária. Volta e meia, um esperto aparece e tenta se dar bem. Pouquíssimos conseguem. A maioria se lasca. Exatamente igual nos dois mundos.
A diferença é que no universo do crime, todo mundo se acha esperto e a idiotice, beirando o retardamento mental, impera. Esse aspecto está muito bem retratado no filme O Homem da Máfia, título pessimamente escolhido porque o original, mesmo traduzido literalmente, seria infinitamente melhor: Killing Them Softly (Matando-os Suavemente). O Homem da Máfia não diz absolutamente nada e nem remete a qualquer coisa no filme.
Cartaz do filme
O ano é 2008. Três idiotas, sendo um drogadaço, resolvem roubar uma casa de pôquer. Explico, casa de pôquer é um lugar onde pessoas não muito bem vistas pela sociedade vão relaxar jogando pôquer com muito dinheiro vivo. Como é uma atividade ilegal, outros criminosos cuidam de tudo para que os jogadores possam se divertir em paz e segurança. Mas, os três patetas se acham muito espertos e querem que o sujeito responsável pela casa, Markie Trattman (Ray Liotta), pague o pato. Como todo mundo é meio retardado, é claro que dá merda.
Ray Liotta, o eterno mafioso
Por causa da insegurança gerada, todas as outras casas fecham e a "crise econômica" chega ao mundo do crime. A solução é chamar um especialista em amarrar pontas soltas e garantir o retorno da paz e dos ganhos financeiros. Exatamente como o então candidato Barack Obama faz no filme em aparições televisivas irônicas, discursando aqui e ali. Bush também dá o seu recado. O especialista é o assassino Jackie Cogan, bem interpretado por Brad Pitt, o que garante a presença maciça de mulheres no cinema.
Nada que uma boa escopeta não resolva
Ao chegar na cidade, Cogan toma ciência do tamanho da encrenca, pois os chefões locais só tomam decisões colegiadas, ou seja, não decidem. Um advogado sem nome, interpretado por Richard Jenkins, faz a ponte entre os chefões o assassino, é quem acaba decidindo tudo. Assim, ele traz um outro assassino para ajudá-lo, Mickey, vivido pelo já conhecido "mafioso" da TV, James Gandolfini. Acontece que Mickey está em meio a uma crise conjugal, bebendo muito e perigosamente instável para o trabalho. Mais um problema.
Gandolfini é o próprio mafioso italiano de Nova Iorque
Mas, é justamente por isso que organizações contratam assassinos profissionais. E valem cada centavo quando são realmente bons. Eles resolvem tudo de maneira limpa, sem rastros que levem aos mandantes e deixam os recados que precisam ser dados. Exatamente como Obama faz com seus agentes secretos e drones. Uma coisa boa, se é que isso é possível, no mundo do crime é que apesar de tudo seus habitantes têm os pés bem plantados no chão. Grande sacada a cena em que o assassino Cogan antecipa e questiona a fala no discurso do então candidato Obama. Sensacional!
As mina pira ...
O filme é brutal, violentíssmo, realista e até engraçado devido ao surrealismo de algumas situações. Embora as poucas cenas de violência - sim, o mundo do crime é violento - possam causar mal estar em almas e estômagos sensíveis, elas foram muito bem feitas e dirigidas. Vi pelo menos um casal saindo no meio do filme. Ter contato com essa realidade, realmente incomoda. Mas, a coisa pode ser ainda pior quando entra o tráfico de drogas no meio.
Dois dos retardados que se acham espertos
O diretor e roteirista é Andrew Dominik, que abraçou a herança deixada por Quentin Tarantino à indústria do cinema, a plasticidade cinematográfica da violência e os longos diálogos que revelam completamente a alma dos personagens. Mas, o que parece ser aparentemente fácil, na verdade é difícil. Especialmente os diálogos. É preciso ter o que dizer ou vira apenas uma maneira de baratear a produção. A trilha sonora é igualmente espetacular. O Café & Conversa viu, gostou e recomenda com cotação cinco canecas. Veja o trailer:
3 comentários:
Bom dia!!!!
Leio todos os posts do blog e simplesmente adoro.
Acho interessante compartilhar isso, afinal, vocês precisam saber que muitas pessoas, mesmo que silenciosas, aprovam tudo por aqui!
Parabéns ;D
Bom dia Lia : )
Para nós é um imenso prazer saber que o nosso trabalho traz satisfação às pessoas. Muito obrigado pela sua companhia.
Receba o abraço coletivo da redação do Café & Conversa : )
Ultra violência e drogas? Isso faz soar Laranja Mecânica, trilogia Poderoso Chefão, Trainspotting e Bastardos Inglórios. Ótimo. Então , merece um ingresso. E Brad, a despeito de ser considerado um rostinho bonito, e' um ótimo ator.
Postar um comentário