Ricardo Icassatti Hermano
Hoje, voltamos com mais uma história que nos foi contada pelo seu protagonista, de acordo com a proposta da editoria "Café, Gente e Papos Bacanas". Utilizamos a licença poética para mudar uma coisa aqui e outra ali, como o nome real do protagonista. Questões de privacidade. Também como sempre, a história é muito boa. Vamos a ela então.
Davi é um sujeito simplório. Os amigos o chamam pelo diminutivo "Davizinho", pejorativamente ou não. Ele também tem um problema crônico de caspa e ainda não sabe que existem shampoos para isso. Mas, Davi é um virador. Começou com um bar pequeno, onde servia prato feito, cachaça, cerveja e uns tira-gostos gordurosos como seu couro cabeludo. Hoje, aos 50 e poucos anos, é dono de uma rede de restaurantes populares, que conseguiu montar depois que se juntou a um obscuro militante de esquerda que, por sua vez, conseguiu um mandato por ser suplente de um parlamentar que faleceu logo após tomar posse. A sorte sorriu para os dois.
Davizinho ficou rico. Não um milionário do jet set, socialite ou celebridade. Nada disso. Apenas juntou muito dinheiro e tocava a vida com conforto, mas com os mesmos hábitos da época da dureza. Algumas pessoas até achavam aquilo uma demonstração verdadeira de humildade. Ele se aproveitava disso para comandar a periferia da capital e amealhar mais votos para o seu "sócio". A próxima eleição vem aí e o parlamentar quer concorrer. "Tomou gosto pela coisa", me disse Davizinho. Não demorou muito até que o próprio se embrenhasse na política e se elegesse presidente da Federação do Comércio. Nem em sonho havia imaginado subir tanto na vida.
Mas, Davizinho estava ficando velho e começou a sentir vontade de aproveitar um pouco aquele dinheiro todo. Até aquele ponto da vida, só havia conhecido o trabalho. Mesmo tendo enricado, continuava trabalhando de sol a sol. Era divertido. Agora, sentia essa sensação estranha e, uma noite, pediu a opinião da sua esposa e companheira.
- Maria, o que você acha da gente viajar?
- Viajar pra onde? Acabamos de voltar lá de Riachão do Bacamarte, visitando a sua mãe ...
- Não, mulher. Vamos para as Europa, vamos viajar pro estrangeiro.
- Estrageiro onde, Davizinho?
- Uns amigos me falaram de uma viagem de navio que passa por um monte de países na Europa, Grécia, Itália, Turquia e não sei mais onde.
- Esse negócio de navio é seguro? Você viu aquele filme do Titanic né? E aquele outro que afundou dia desses por lá também.
- Esse navio é dos bons, Maria. Meus amigos já foram um monte de vezes.
Maria não relutou muito. Na verdade, ficou até excitada. Sair da periferia da capital para viajar de navio no estrangeiro poderia ser bom e ela teria muita história para contar na volta. Uns dias depois, ela deu o sinal verde e Davizinho tomou as providências para montar um grupo de amigos para a viagem. Até o sócio parlamentar quis ir, desde que sua passagem fosse paga por Davizinho, claro. Em uma semana, o grupo já tinha mais de 50 casais, todos já acima dos 50 e poucos anos, arrumados na vida e querendo diversão.
O cruzeiro tinha paradas nas ilhas gregas, na costa italiana e na Turquia. As mulheres faziam questão da parada turca por causa da novela, vôo de balão e outras fantasias tolas e perigosas. A viagem transcorria maravilhosamente bem. Os dias e as noites passavam lentamente graças à sucessão de surpresas para quem não conhecia nada daquilo. Cassino, shows, almoços e jantares suntuosos, lojas, bares, cafeterias, cinema, piscina, academia, atividades em toda parte. O grupo parecia um bando de crianças deslumbradas. Davizinho e Maria até voltaram a ter uma relação sexual meia bomba. Estavam felizes.
A parada na Turquia era a etapa final da viagem. O grupo foi levado a Istambul, onde ficariam por três dias antes de retornar ao Brasil. Uma guia brasileira residente lá, foi designada para o grupo. Jovem, a moça logo prometeu levar o grupo para uma das miores e melhores baladas de toda a Europa. Era uma daquelas boates de filme, enorme, cheia de gente bonita enlouquecida, fumaça, luzes e som altíssimo. A coroada estava alucinada. Davizinho estava metendo o pé na jaca, e não era só bebida alcoólica. Tomou também um daqueles comprimidos que lhe ofereceram. Subitamente, o mundo brilhou, Davizinho se encheu de amor e não parou mais de dançar.
Lá pelas tantas, Davizinho já completamente descontraído e à vontade, precisou ir ao banheiro. Na porta havia uma fila, mas tudo bem. Logo engatou uma tentativa de conversa com um turco enorme que estava na sua frente. O turco falava inglês com sotaque e Davizinho achava que falava inglês. O som alto e muita mímica mantinham a ilusão de que estavam realmente conseguindo conversar. Depois de se aliviar, Davizinho pegou o turco pelo braço e foi até a guia e, quase gritando, pediu que traduzisse o que seu mais recente amigo estava falando.
A moça trocou poucas frases com o turco e não conseguiu esconder a vontade rir. Colocou as mãos sobre o rosto e soltou u ma grande gargalhada. O turco apenas sorriu levemente e olhou mansamente para Davizinho. Intrigado com a reação, Davizinho perguntou à guia o que o turco havia falado. Assim que conseguiu parar de rir, ela respondeu:
- Ele quer te comer ...
Davizinho e Maria voltaram para o Brasil. A vontade de viajar passou.
Você tem uma história bacana? É real? Venha nos contar. O espresso e a água mineral são por nossa conta. Se a história for realmente boa, publicamos aqui no blog.
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