terça-feira, 26 de julho de 2011

Morte na Esplanada - Capítulo 16

Ricardo Icassatti Hermano 

As coisas começaram a clarear ... ou não. Após uma elucidativa conversa com  o ex-soldado da fortuna, Padre Avellar, o delegado Alexandre Dantas estava mais confiante em relação ao rumo que a investigação deveria seguir para encontrar mais pistas. Resolveu passar um pente fino nos pen drives da ministra Sueli Sandoval, a famigerada SS.

A busca seria por qualquer indício da presença daquele presidente de um banco internacional de fomento e ajuda a países em desenvolvimento, que se encontrava preso em Nova Iorque sob a acusação de ter estuprado uma camareira do hotel  onde havia se hospedado. Ele é o não menos famigerado Dometien Salaun Klein, também conhecido como DSK.

A ligar os dois famigerados, um affair mui caliente no passado distante, durante um treinamento em Cuba. Ah, os ares do Caribe ... fazem as pessoas perderem a cabeça e sonhar desvairadamente, dizem ... Desde então, não se tem notícia de qualquer ligação entre os dois. Pelo menos que sejam de conhecimento dos órgãos de inteligência.

Agora que você está informada(o) sobre o andamento das perigosas aventuras de "Morte na Esplanada", prepare-se! Pegue a sua caneca fumegante, vista o seu pijama, calce as suas meias e cubra-se com o seu edredon. Ligue o som do seu computador, apague as luzes para dar aquele clima e comece a roer as unhas, porque vem aí o 16º capítulo da sua Blog-Novela predileta ...


Morte na Esplanada

Capítulo 16 

Após a reunião, Gabriel dividiu os arquivos em quatro partes mais ou menos iguais e as distribuiu entre os integrantes da equipe. Todos tinham muito trabalho pela frente e imediatamente deram início ao pente fino. Mas, a primeira providência foi comprar um bom café para manter a mente alerta e não deixar escapar nenhum detalhe. 

Alexandre foi até a cafeteria Grenat à procura de bons grãos. Estava olhando as opções junto com Gabriela quando entrou na loja Bebel Hamu, a barista representante das máquinas italianas de espresso La Marzocco. A tiracolo, uma sacola cheia de pacotes de café em grão. Gabriela logo fez as apresentações e o delegado ficou sabendo que a barista havia chegado há poucos dias de uma viagem pela Europa e trouxera cafés variados para fazer degustações. 

- Você gostaria de participar? - perguntou Bebel. 

- Claro, mas aviso logo que não entendo nada de café.

- Não precisa "entender". Basta dizer se gostou ou não e quais características você destacaria.

- Ok! Isso eu posso fazer (risos). 

Alexandre foi então conduzido a uma viagem por aromas e sabores que surpreenderam seu paladar e encheram sua imaginação de imagens de países tão diferentes e distantes quanto Panamá e Ruanda. Ficou encantado com o café panamenho, 100% variedade Caturra, com aroma e sabor de morango. Mas, também gostou dos encorpados Bourbon africanos. Cada qual com suas características absolutamente distintas. 

- A Gabriela me contou o que aconteceu com vocês aqui. Deve ter sido terrível.

- Realmente ... chegamos a pensar que nossa hora havia chegado. Mas, tivemos uma ajuda inesperada dos amigos do Café & Conversa. Se não fosse eles, não sei não ...

- O Kassatti e o Romoaldo? Eu conheço os dois jornalistas! Fiz essa mesma degustação com eles na semana passada e os danados não me contaram nada!

- Acho que eles preferem falar de café (risos). 

- Eles são uns doces ... delegado, vamos fazer o seguinte. Leve esses cafés aqui, deve ter uns seis quilos. É um presente meu para manter vocês acordados nessa investigação.

- Puxa, fico até sem jeito ... parece que esse pessoal que mexe com café consegue ler pensamentos!

- Só de vez em quando, delegado, só de vez em quando (risos). Aceite delegado, é só um presente de reconhecimento para quem está fazendo um trabalho honesto, o que é difícil de ver.

Devidamente abastecidos de cafeína da melhor qualidade para muitos dias, a equipe de investigadores grudou os olhos nos monitores e não tirou mais os headphones das orelhas. Duas semanas se passaram até que a primeira informação surgisse. Dometien Salaun Klein foi citado pela ministra numa conversa telefônica.

A ligação foi feita do gabinete. Sueli usou um celular, aparentemente uma linha segura. Mas, o problema de sistema de vigilância e gravação em vídeo é que eventualmente esquecem que aquilo está ali. O ser humano é um animal de hábitos e também se acostuma às situações e circunstâncias. Especialmente quando se encontra em situação de poder. É como andar de carro blindado e esquecer de trancar as portas.

Na conversa, a ministra acertava detalhes para a chegada de Dometien, que se daria em dois dias. O telefonema havia sido gravado três semanas antes do assassinato. Alexandre deduziu que deveria ter algo a respeito dessa visita do banqueiro francês. As buscas foram então concentradas nesse período. Não demorou a aparecer. Numa das festas promovidas pela ministra, lá estava DSK confraternizando com figuras proeminentes dos partidos da base aliada. Num cruzamento com as fitas das orgias, logo surgiu ele novamente. Era um dos muitos estrangeiros e fôra confundido com diplomatas na primeira vez que assistiram os vídeos. Sueli gostava de gravar as intimidades dos seus convidados, especialmente quando se trancavam em seus quartos.

Pelo jeito, não eram mais aquele casal de amantes calientes sob o luar do Caribe, mas continuavam aliados nos interesses e muito semelhantes nas preferências sexuais, onde a velha paixão ainda se mantinha acesa. A única diferença - gritante - é que enquanto Sueli gostava de mulheres lindas e bem vestidas, DSK preferia as feias e pobres. Cada um exercia sua fantasia de poder de uma maneira e os dois gostavam de brutalizar o sexo.

A equipe de investigadores estava boquiaberta com tanta perversão. Simplesmente não dava para acreditar no que estavam assistindo.  E isso era apenas o que haviam encontrado no cofre da ministra. Eles sabiam que alguma caixa-forte de banco deveria estar aguardando coisa muito mais pesada e com gente muito mais importante. 

Numa das gravações, a ministra fez uma rápida referência a um estupro praticado pelo presidente da República quando esteve preso no passado. A vítima foi um garoto militante com quem dividiu a cela. Ela disse que a prova estava muito bem guardada fora do país e que seria usada na hora certa, "quando já estivermos com o dinheiro nas mãos".

- Esse dinheiro não pode ser aquele que encontramos no cofre. Aquilo era dinheiro de fuga. De que dinheiro ela está falando? - perguntou Rômulo.

- Acho que sei do que eles estavam falando. Consigam todas as informações sobre essa licitação dos aviões caça. Essa grana só pode ser de lá. Vamos atrás disso porque deve haver um plano para o dinheiro. Precisamos descobrir como, quanto e para onde iria essa grana  - disse Alexandre.

Enquanto a equipe saía no encalço das informações, o delegado atende um telefonema. Na tela do celular, uma mensagem diz que o número estava com a identificação bloqueada. Ele resolveu atender. Nunca se sabe quando uma boa informação aparece de graça. Era a jornalista Mércia Trancoso. 

- Oi delegado Alexandre ... por favor, não desligue ...

- O que você quer? Ou melhor, o que você ainda quer?

- Primeiro, eu queria me desculpar por qualquer problema que a minha  matéria possa ter causado a você ...

- A sua "matéria", vamos chamar assim aquilo, quase me custou a vida e a da minha equipe. 

- Eu soube do atentado e quase morri de tanta preocupação ... fiquei tão aflita ... ainda bem que vocês escaparam, né?

- Você foi muito irresponsável ao colocar a minha foto no jornal.

- Ah, Alexandre, mas aquilo foi o meu editor. Você sabe, eu sou apenas uma repórter e não tenho poder de decisão sobre como a matéria vai sair. Você entende, né?

- É sempre culpa do editor. Quem precisa entender são vocês, que não sabem porra nenhuma de investigação e nesse afã de conseguir a notícia, atrapalham todo o nosso trabalho.

- Mas, o público tem o direito de saber ...

- Saber o que? Pode parar com esse discursinho em defesa do direito de informação. Divulgar informação pela metade liquida qualquer investigação séria. Estou pensando seriamente em processar você e o seu jornal.

- Por favor, Alexandre, não faça isso. Não tenho dinheiro para pagar advogado. Sou uma simples repórter ...

- Se vira, peça ao seu jornal que banque.

- Você tem todo o direito de estar zangado, eu entendo, e queria me desculpar pessoalmente. Gostaria de convidá-lo para jantar. Diga que aceita ... por favor ... por favor ...

Alexandre titubeou por alguns segundos. Considerou os pros e os contras.

- Tudo bem, aceito. Quando seria esse jantar?

- Pode ser amanhã?

- Amanhã está bom. Onde e a que hora?

- No restaurante Nero, às 21h. Tudo bem?

- Certo, amanhã às 21h.

- OK. Muito obrigada Alexandre. Você não imagina o quanto isso significa pra mim ... estou tão feliz! Até amanhã então, um beijo! 

Após desligar o telefone, o delegado pensou que poderia realmente não saber qual era o significado daquele jantar. Para ela. Para ele não havia dúvida, pois sabia muito bem com quem estava lidando e tomaria todas as precauções possíveis. Pegou o celular e apertou o botão virtual de discagem rápida.


- Alô, Gabriel? Preciso da sua ajuda.

♦♦♦

E agora? Será que o delegado amoleceu? Será que ele acreditou mesmo na sinceridade da jornalista Mércia Trancoso? Será que ela vai tentar seduzi-lo? Será que ele cai nessa? E a tal grana da SS e do DSK? Quanto mistério, quanta safadeza!

E você? Apostaria suas fichas nesse enredo? Onde isso vai parar? Se é que vai parar ... Ajude a resolver essa investigação com as suas críticas, sugestões, devaneios, opiniões, sonhos, dicas e pirações : ) Vamos nos indignar!!! Como disse aquela operadora de telemarketing: "Estaremos aguardando para estarmos escrevendo" ... hahahahahahaha!!!

Como bem nos recomenda o Romoaldo todas as manhãs, de segunda a sexta-feira, em nosso quadro na CBN Recife e, em seguida, aqui no nosso podcastUm abraço e bom café!

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