Ricardo Icassatti Hermano
Espero que vocês estejam gostando dessa Blog-Novela. Estou me esforçando, porque meu processo criativo é confuso. Quando começo a escrever, é rápido. Mas, até chegar lá, enrolo um bocado. A parte difícil é começar. Antes de escrever a primeira letra, leio os e-mails, passeio pelo Twitter, pela internet, arrumo uma coisa, arrumo outra, leio uma revista.
E o pior é que quando termino um capítulo, não tenho a menor ideia do que vai acontecer no capítulo seguinte. Ou melhor, tenho apenas uma vaga ideia. A partir dela, vou construindo com o que aparece na minha cabeça enquanto escrevo. Às vezes, paro no meio, ou vou ler os e-mails, passear pela internet, dou uma olhada no Facebook e volto a escrever.
Como vocês viram é confuso mesmo, mas ao mesmo tempo é uma prazer indescritível ficar zanzando pela imaginação, onde tudo é possível. Ah, esqueci de dizer que sempre escrevo ouvindo uma rádio americana que só toca Blues : )
Agora, reitero o pedido de colaboracão, ajuda, comentários, críticas, dicas, sugestões etc. É tudo muito benvindo e bem aproveitado. Incorporo isso ao meu processo criativo. A sobrevivência de um blog está na interação com os leitores e se alimenta dos comentários deixados lá.
Mas, vocês já devem estar prontos para ler o nono capítulo de "Morte na Esplanada", sempre preparando antes uma caneca fumegante de qualquer coisa, vestindo um pijama de flanela ou seda (depende do seu humor), um edredon e o som ligado no computador para ouvir a trilha sonora de hoje. Divirtam-se!
Morte na Esplanada
Capítulo 9
O delegado Alexandre Dantas está em Fernando de Noronha, onde acompanha o resgate de destroços e corpos do vôo 447 da Air France que caiu no meio do Oceano Atlântico. Ele está interessado apenas em saber se o assassino Gaston Perrin estava naquele avião. Dr. Hamilton o acompanhou e ajuda nas autópsias.
Mas, lá na ilha, ele conheceu Lígia Dupont, a investigadora da companhia responsável pelo seguro das aeronaves da Air France. A beleza daquela mulher causou comoção entre os homens que trabalham no resgate. O delegado e a investigadora se encontram na praia e se falam pela primeira vez.
- Posso me juntar a você?
- Claro ... fique à vontade ...
Lígia caminhou calmamente até onde Alexandre estava e sentou ao seu lado, bem próximo. A brisa constante soprava e atravessou os cabelos dourados da investigadora. Imediatamente, trouxe até o delegado a discreta e suave fragância de um perfume.
- J'Adore, de Dior ... inconfundível - pensou Alexandre, enquanto fechava os olhos e lembrava das ruas de Paris nas tardes de Outono.
- Você escolheu um belo lugar para meditar.
Alexandre abriu rapidamente os olhos.
- É ... eu venho aqui todas as manhãs para pensar um pouco, organizar as ideias, antes de começar a trabalhar. Melhor, começar a angústia da espera.
- E o que você está esperando?
- Espero confirmar a presença de um suspeito naquele avião.
- Você é policial?
- Sou delegado da Polícia Federal brasileira.
- Ontem, quando cheguei no centro onde estava ocorrendo a reunião, achei engraçada a forma como me apresentaram a todos e ninguém se apresentou a mim.
- Acho que foi porque tinha muita gente e a reunião já havia começado ... -Alexandre não falou sobre o efeito paralisante que ela havia causado em todos os presentes, mas certamente já sabia disso.
- Esse suspeito fez o que? Se é que posso perguntar ...
- Ele é suspeito do assassinato de uma ministra de estado.
- Ah ... Li algo a respeito. Se não me engano, ela era ministra de ... de ...
- ... Assuntos Femininos.
- Sim! Assuntos Femininos! E que assuntos seriam esses?
- Eu realmente não saberia lhe dizer (risos).
Lígia continuou perguntando e Alexandre resumiu toda a história aos fatos mais importantes e que já eram de conhecimento público. Em seguida, o delegado mudou o rumo da conversa.
- Mas, onde você aprendeu a falar português tão bem?
- Sou filha de mãe brasileira e pai canadense. Minha mãe fazia questão que eu falasse as duas línguas. Nasci em Quebec e meu pai é de um pequeno distrito chamado Pointe du Lac. Ele foi estudar em Quebec, onde conheceu minha mãe. Os dois se casaram e foram trabalhar na mesma empresa, uma multinacional francesa do ramo petroquímico. Quando eu tinha quatro anos de idade, meus pais foram transferidos para a sede da empresa e fomos morar em Paris. Aos 13 anos de idade, meu pai foi designado para a direção da filial no Brasil, onde fiquei até os 18 anos. Depois retornamos a Paris, onde moro hoje.
Alexandre acompanhava o relato como se ouvisse uma sonata de Mozart.
- Essa empresa não tem nada a ver com seu sobrenome, né?
- Não, não! (risos) Esse sobrenome é bem comum na parte francesa do Canadá. A família do meu pai começou com os primeiros colonos franceses que chegaram à região onde hoje é Pointe du Lac. Você já tomou café da manhã?
- Ainda não. Só tomo café depois que medito um pouco por aqui.
- Podemos tomar café juntos? Eu trouxe a minha cafeteira French Press, caso não tivessem aqui.
- Eu trouxe café especial em grão, vendido numa cafeteria lá de Brasília, e moedor. Também comprei uma French Press. Graças ao caso da ministra, estou aprendendo a gostar de bons cafés. Sem veneno, claro (risos).
- Ótimo! Adoro os cafés brasileiro e africano. Quero experimentar esse que você trouxe. Podemos ir então?
- Será um prazer.
Após a reunião de praxe no final da tarde, Lígia se aproximou de Alexandre.
- O que se faz aqui à noite?
- Não há muita coisa para se fazer mas, se você gosta de dançar, tem um forró muito bom.
- Você dança?
- Não sou dançarino profissional, mas arrisco uns passos. Você gostaria de ir comigo?
- Que hora?
- Jantamos às 20h e vamos em seguida. Está bom assim? - ousou Alexandre.
- Está ótimo! Nos encontramos no saguão da pousada? - Lígia não conseguiu evitar o rubor que tomou conta do seu rosto.
- Perfeito.
Alexandre achou que nada conseguiria ofuscar a beleza de Lígia naquela noite. Ela surgiu no saguão da pousada simplesmente deslumbrante. Seu corpo estava coberto por um vestido simples de algodão com estampas de pequenas flores azuis, leve, sem mangas e com um decote que deixava parte do colo à mostra. Ela contou que comprara o vestido numa pequena loja local, a Ilha Artes. Era a típica roupa para turistas, mas nela o vestido obteve a mais perfeita tradução da beleza.
Os cabelos presos num coque atrás da cabeça, com alguns fios soltos nas laterais e uma flor do lado direito, emolduravam um rosto que beirava o divino. O baton vermelho dava um toque sensual. Nos pés, um par de sandálias Havaianas brancas e azuis, que ela achou baratíssimo em relação ao preço cobrado na França. Era uma visão suavemente perfumada.
Alexandre trajava uma calça de linho branco, uma camisa azul de mangas curtas e estava boquiaberto.
Para o jantar não havia muitas escolhas e Alexandre optou pelo Restaurante Maravilha, da pousada de mesmo nome onde estavam hospedados. Além disso, era considerado o "melhor da ilha". A atração principal dos restaurantes - e não poderia ser diferente - são os frutos do mar e Lígia fez questão de pratos da culinária regional. Assim, a entrada foi uma porção de bolinhos de carne seca e uma salada de camarões e manga.
Em seguida, Lígia escolheu o peixe do dia assado em crosta de castanha de caju, servido com molho de manteiga cítrica e caponata de legumes. Alexandre optou pelo peixe da ilha com salada de feijão verde e côco, farofa de cuscuz e molho pesto de coentro e castanha de caju. Claro que a investigadora experimentou o peixe do delegado também.
Para acompanhar os pratos, decidiram por um vinho branco brasileiro. A escolha recaiu sobre o Chardonnay Premium 2008, da Casa Valduga, que a investigadora adorou. Os dois conversaram bastante em francês, para que Alexandre matasse a saudade do som das palavras.
Lígia disse que não queria sobremesa, mas comeu mais que a metade do cheesecake com crosta de granola, coberto por calda de pitanga colhida no jardim da pousada e sorvete de creme, escolhido por Alexandre. Prevenido, ele havia solicitado ao garçon que trouxesse duas colheres junto com a sobremesa.
Após o jantar, caminharam um pouco pelo jardim. Como a pousada fica numa posição elevada, o visual é simplesmente fantástico. Dali puderam ver a lua prateada nascendo e iluminando o mar sem fim. Devido à pouca iluminação artificial, o céu se apresentava absurdamente estrelado.
Alexandre não resistiu e ... cometeu o erro dos apressados.
- Lígia, vamos deixar esse forró pra lá e vamos para o meu quarto ...
- O que é isso Alexandre? Acho que você bebeu demais. Que tipo de mulher você está pensando que sou?
- Ah, deixa disso ... somos dois adultos ...
- Não! Aqui tem uma adulta e um menino que não consegue se segurar. Boa noite!
Lígia saiu em direção à pousada sem olhar para trás. Alexandre lá ficou, em pé no jardim, meio atordoado com a reação. Passando as duas mãos pelo rosto até o alto da cabeça ele exclamou:
- Merda! Fiz merda ... - lamentou o inconsolável delegado.
Lígia bateu forte a porta atrás de si. Parou no meio do quarto e olhou em volta. Seus olhos projetavam a mais sentida tristeza. Sentou-se na beira da cama, suspirou, escondeu o rosto entre as mãos e chorou.
♦♦♦
Pô delegado! Que pisada feia na bola ... E agora? Será que tem conserto? É difícil saber o que vai pela cabeça das mulheres. E vocês sabem? Eu já desisti de descobrir porque assumo que sou incapaz de tal tarefa : ) Mas, o delegado foi dar uma de Wando logo com uma mulher inteligente, independente e civilizada? Uma mulher de sonho! O que esse cara tem na cabeça? Vamos esperar que o destino trace os caminhos para que os dois se reencontrem? Ou não? Aguardo seus comentários para solucionar o problema.
E como diz o Romoaldo todas as manhãs, de segunda a sexta-feira, em nosso quadro na CBN Recife e, em seguida, aqui no nosso podcast : Um abraço! Bom café!
5 comentários:
Só tenho a dizer: bem feito, Alexandre! Quebrou o encanto...
Só uma observaçãozinha. Delegado da polícia federal com calça de linho branco e tb entende de comida?
Não me parece, ainda mais depois de tentar levar a moça pra cama de forma intempestiva, que ele tenha esse bom gosto todo...
Esse capítulo foi uma espécie de "intermezzo". É perfeito tanto na linguagem cinematográfica (principalmente) quanto na escrita. É a vírgula dos romances policiais. dar tempo ao leitor/espectador respirar fundo. A descrição da roupa de cada um é muito delicada. Com certeza, vai sensibilizar as mulheres.
Mas Alexandre precisa ser assim, vamos dizer totalmente insensível. Mulheres inteligentes, em geral, gostam do flerte, de dançar, mesmo que seja um forró e não Tenderly na voz de Sarah Vaughn.
Minha sugestão para alexandre é que ele pague um menino para colehr dois quilos das mais variadas flores que nascem na ilha, vista o menino de fraque e cartola, pague super bem e peça ao meniono para entregar um bilhete hiper sincero. Tipo "Você tem todas as razões para nunca mais me olhar nos olhos e eu só tenho um pedido a fazer: perdão. Fui egoísta. Não resisti tanta beleza".
Décimo Capítulo Já!!!
Memélia
Pô, meu caro delegado Alexandre, é o seguinte o negócio - "prestenção, rapá!" 'Merde' mesmo! Mulher tem disso, joga a isca só pra pegar o peixe e jogá-lo ao mar. ahahaah
Faz o seguinte - não toque mais no assunto nem insista em desculpas. É a tal estória: 'quanto mais mexe, mais fede'. Haja profissionalmente e como se nada tivesse acontecido da próxima vez que se encontrarem. Se, e apenas se, ela tomar a iniciativa e tocar no assunto, minta como é próprio do ser macho e diga que foi o Chardonnay, que você não teve a intencão (risos).
Agora, falando com o autor, parabéns, Ricardo, pela escolha do perfume J'adore, o figurino, o cardápio... O Alexandre é antenado e tem bom gosto e por que não? Amei!
Um "xêro"!
Marven
É... a Lígia deu mole, né? na verdade, pra mim estava claro que ela queria a parte do quarto, mas só depois de "relar buxo" com ele no forró, cheirar o cangote... ele deveria ter esperado.
É, nem todo dia é dia de ação delegado... rs
Delicia, tanto o capitulo quanto os comentarios.
Muito bom.
Abraços.
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