terça-feira, 28 de setembro de 2010

Wall Street: Money Never Sleeps


Ricardo Icassatti Hermano

Fim de semana quente e desconfortável. Nada melhor que um cinema com ar-condicionado num shopping com ar-condicionado e uma boa cafeteria. Assim, após uma breve débâcle política no Twitter, despenquei para o novo shopping local, o Iguatemi no Lago Norte. Muita gente passeando e ninguém comprando. Com a honrosa e feliz exceção da Livraria Cultura. Bom sinal.

Assisti a continuação do icônico Wall Street de 1987. Dirigido também por Oliver Stone, o novo filme se chama Wall Street: Money Never Sleeps. Fato inegável é que a história perdeu força, mesmo com a crise econômica americana. Até porque o ganancioso Gordon Gekko não é um participante ativo da crise. Ele apenas tira um pouco de proveito. Michael Douglas está à vontade no papel.

Cartaz do filme

Segundo a visão de Oliver Stone, a prisão tem um efeito curativo em sociopatas. Depois de amargar uns anos em cana, Gekko volta quase uma moça recatada. Para não deixá-lo com fama de bunda-mole, ele meio que rouba um dinheiro que ele havia escondido na Suíça para a filha, que não queria mesmo essa grana. Mas, a filha havia prometido financiá-lo quando saísse da prisão. Daí o irmão viciado morre drogado e ela põe a culpa no pai. E o Gekko usa o namorado da filha, que é corretor de um banco falido em Wall Street, para chegar na grana. Entendeu? Pois é ...

Gekko e o genro tolinho ...

A coisa toda é tratada assim confusamente e os personagens assumem uma certa ingenuidade inacreditável naquele meio financeiro. A parte boa é a cômica, que não me pareceu intencional. Acontece de, às vezes, criar uma cena no papel que acaba se revelando engraçada depois de filmada. Acho que tem várias cenas desse tipo. Podemos ver Charlie Cheen retomar o papel do então jovem Bud Fox. Mas, totalmente possuído pelo personagem Charlie Harper, que interpreta num seriado de TV ...

Outra coisa boa do filme é a explicação dada por Gekko para o estouro da bolha que prevê no livro que escreveu após sair da prisão. Bem didático e não há como não traçar um paralelo com o Brasil. Os mesmo erros estão todos aqui naquilo que Lulla, o Extirpador, pateticamente chama de "política econômica". Os sinais do estouro da nossa bolha já estão visíveis na crescente inadimplência. Aguardem o fim das eleições.

Stone achando que é Coppola ...

O filme vale o ingresso e é só. A pipoca já fica na conta-prejuízo. O casal de jovens atores, Shia LaBeouf e Carey Mulligan, respectivamente o genro e a filha de Gekko, são fracos de dar dó. O tal do Shia é o ator que fez o filho do Indiana Jones no último filme da série. Mal começou a carreira e já é um canastrão. E nem é dos bons. Ele poderia ter buscado inspiração no elenco de apoio, que faz um tremendo trabalho de atuação. Veja o trailer.



segunda-feira, 27 de setembro de 2010

A música do Dia - Maria Moita - Rosália de Souza


Romoaldo de Souza

Da modinha, um jeito lírico e sentimental de se fazer música, até os grandes compositores como Chico Buarque, Caetano Veloso e Gilberto Gil, a música brasileira tem uma das mais brilhantes trajetórias quando o quesito é criatividade, miscigenação e a forma peculiar de expressão.


Em meados do século 17, surgiam os primeiros acordes do que mais tarde veio a ser conhecido como MPB - Música Popular Brasileira - com misturas dos sons indígenas, elementos folclóricos da música portuguesa e o mais marcante que é a influência africana.


No rádio, em 7 de setembro de 1922, a primeira música genuinamente brasileira tocada, se é que a gente pode falar em música genuína, original, foi O Guarani, de Carlos Gomes, abrindo a programação do mais importante veículo de comunicação quando a gente fala de MPB.


A inauguração da “era do rádio” se deu quando o presidente da República, Epitácio Pessoa, fez o discurso na abertura da exposição do Centenário da Independência, usando a estação experimental Rádio Corcovado, montada no alto do morro do Corcovado e a estação experimental da Western Electric na Praia Vermelha. Petrópolis e Niterói, no Rio e na capital paulista, os rádios então recém-importados, captaram o discurso empolgado de Epitácio Pessoa e os acordes de O Guarani que ainda hoje abre a Voz do Brasil

A partir daí, aos poucos, o erudito foi dando espaço ao samba, ao chorinho e suas variações. De Chico Alves, o "Rei da Voz" a Chico Buarque o rei da mulherada, a MPB teve de comer muita poeira. Resistiu às pressões mercadológicas, mas se adaptou. Formou escola e hoje é bastante conhecida no exterior. Se bem que um dos elementos mais importantes da música brasileira é sua batida peculiar.


Sim, porque no estrangeiro o som de Ivete Sangalo faz tanto sucesso como a música de João Gilberto. E o que une esses dois conterrâneos de Juazeiro (BA)? O groove, a batida própria. A marcação do Axé ou da Bossa Nova.


A musica árabe, os ritmos ciganos, o som do caribe, são conhecidos por suas batidas. Estudiosos em percussão, na marcação da música, dizem que groove é essa nuance, é a doçura da batida da música que tanto pode ser na bateria como com instrumento de sopro.


Pergunte a qualquer amante da música se a batida, praticamente nascida do violão de João Gilberto, não é a cara do Brasil!!!


Poderia ficar aqui, escrevendo páginas e mais páginas sobre o Rei do Baião, sobre a influência do jazz, na música do Brasil. Dos festivais aos Beatles. De Arrastão, até chegarmos a Disparada, duas canções vitoriosas em festivais de música.


Da influência que a Jovem Guarda trouxe para as músicas internacionais que eram feitas versões, só para serem tocadas em rádios que não permitiam a entrada dos "gringos", a MPB tem de tudo um pouco.


Da moda de viola, do século passado ao sertanejos de hoje, da Bossa Nova ao Axé. Do Samba ao Pagode ao Funk, enfim a "biodiversidade" musical no Brasil é para todos os gostos. Agora, assim como na natureza tem bichos peçonhentos que a gente não pode nem ver, na música brasileira também tem estilos que causam náuseas. Mas, como tem quem goste de ficar alisando uma barata, tem quem use uma sainha curta e vá curtir um pagode. Essa história poderia ficar só na mini-saia, não é?


Bom, por que falei de MPB? Porque hoje é o Dia da Música Popular Brasileira e antes que reclamem que eu não falo do "nosso" gênero musical, fui atrás dessa impecável interpretação que Rosália de Souza dá para Maria Moita, como o nome já diz…


Meu Deus, hoje, então, é o Dia da MPB? Gente, me aprontei toda para fazer esse clip. Espero que vocês gostem. Aqui na Itália tomo muito café. Café brasileiro ouvindo música do Brasil. Um beijo, gostoso pro pessoal que acompanha o Café & Conversa


Natural de Nilópolis, Rosália de Souza foi parar na Itália, onde conheceu o músico Nicola Conte, um dos mais influentes do acid-jazz. Nessa Maria Moita a cantora destaca bem, essa fusão.


Quanto ao vídeo, logo aí abaixo, Maria Moita é a mulher-bala num desses circos de periferia.


Maria Moita

Carlos Lyra

Nasceu lá na Bahia de mocama confeitor
Seu pai dormia em cama, sua mãe no pesador
Seu pai só dizia assim "Venha Cá"
Sua mãe só dizia assim "Sem falar,
Mulher que fala muito perde logo o seu amor"

Deus fez primeiro o homem, a mulher nasceu depois
E é por isso que a mulher trabalha sempre pelos dois
O homem acaba de chegar, tá com fome
A mulher tem que olhar pelo homem
E é deitada, em pé, mulher tem é, é que trabalhar.

O rico acorda tarde e já começa a resmungar
O pobre acorda cedo e já começa a trabalhar
Vou pedir ao meu babalorixá
pra fazer uma oração pra Xangô
Pra pôr pra trabalhar gente que nunca trabalhou

O rico acorda cedo e já começa a resmungar
O pobre acorda cedo e já começa a trabalhar
Vou pedir ao meu babalorixá
pra fazer uma oração pra Xangô
Pra pôr pra trabalhar gente que nunca trabalhou
Pra pôr pra trabalhar gente que nunca trabalhou
Pra pôr pra trabalhar gente que nunca trabalhou



domingo, 26 de setembro de 2010

O Café da Manhã da Fellini Caffè, finalmente!


Ricardo Icassatti Hermano

Domingão preguiçoso. Calor e secura acima da minha paciência ... Mas, sempre há motivos para alegria. A cafeteria Fellini Caffè (SCLS 104 Bloco "B" loja 1, fone: 3223-1333) iniciou o serviço de café-da-manhã somente aos domingos, que a clientela e nós aqui do Café & Conversa vínhamos cobrando há algum tempo. Fui conferir junto com meu filhote Xanxão. Pablo e Aline foram para o churrasco na casa do sogrão e o Rato ... dormindo, é claro.

Fellini Caffè, agora serve café-da-manhã aos domingos, das 9h até 13h

O café-da-manhã ainda não é um brunch, mas dá para dispensar o almoço, pois vai de 9h às 13h. Com cardápio diferenciado e específico, as opções são bem variadas. São três opcões com uma estrutura básica contendo salada de frutas com iogurte e granola, pães, manteiga, geleia, bolo, bebida quente e suco de fruta a escolher. Cada opção traz alguns pratos diferentes, como ovos en cocotte com azeite trufado, crepes, queijos e salmão defumado.

Houve uma nítida e benvinda preocupação em oferecer um cardápio saudável e com baixíssimo teor de gordura. Por exemplo, não há uma fritura sequer. Nada de bacon, salsicha, linguiça, ovos mexidos e outros famosos entupidores de artérias.

Outra preocupação louvável foi a manteiga pré-amolecida. Lidar com manteiga congelada num domingo de manhã é sempre um pé no saco ... A geleia também se destacou pelo baixo teor de açúcar, realçando o sabor da amora, mais cítrico. Perfeito e o Xanxão elogiou. Coisa rara.

Tenho como regra que o primeiro dia de uma nova atividade não serve como parâmetro para uma avaliação. É mais um teste para mapear erros e acertos e preparar as mudanças necessárias. Mas, a Moema Dourado, proprietária do estabelecimento, me disse que conta com a opinião do Café & Conversa. Então vamos lá.

O serviço estava atencioso como sempre, até um pouco acima da média. Isso mostra o comprometimento da equipe com o acerto. Todos querem que o café-da-manhã continue e faça sucesso. Inclusive nós : )

A principal observação que fazemos é que a entrega dos pratos à mesa seja feita de maneira compassada. A cada prato consumido, o seguinte é servido. Poderia até oferecer ao cliente a opção de escolher a ordem de chegada dos pratos.

O café-da-manhã começou assim e ...

O nosso café-da-manhã foi servido todo de uma vez. Assim, tivemos que comer a salada de frutas rapidamente para que o cappuccino não esfriasse demais e por aí vai. Essa refeição, num domingo, deve ser feita com mais vagar e até uma certa preguiça.

... rapidamente ficou congestionado. E ainda faltavam os bolos.

Sentimos falta da banana na salada de frutas, ingrediente tradicional aqui em terras brasileiras. Também faltou ajustar o cardápio às condições meteorológicas. Com o calor e a secura, talvez fosse melhor servir água gelada, copo com gelo, limonada suíça e/ou adicionar sorvete à salada de frutas no lugar do iogurte. A cestinha de pães poderia ser maior e mais sortida. Pessoalmente, adoraria um mingau de aveia.

De resto, o café-da-manhã da Fellini não decepcionou. As quantidades estavam de bom tamanho, com exceção do crepe, muito pequeno e sem o molho Pesto, prometido. O cappuccino estava magnificamente delicioso, os bolos estavam soberbos e o ambiente arejado estava bastante confortável. Xanxão e eu pudemos conversar tranquilamente sobre a Trincheira da Resistência e os editoriais do Estadão e da Folha. A música erudita caiu muito bem para o horário, mas eu não acharia ruim ouvir bons Cajun, Zydeco e Bayou : ).

Ainda tivemos a felicidade de encontrar lá também tomando seu desejum, a chef Cordon Bleu Adriana Nasser, querendo passar incógnita. Estragamos logo o seu disfarce. Ela nos contou que recentemente esteve a trabalho na Região Norte e experimentou uma iguaria local, que ela chama de "molusco" e eu chamo de "verme": oTuru.

O Turu é considerado uma iguaria afrodisíaca no Norte

O animal, que parece uma minhoca albina com uns 20 cm de comprimento e um dedo de largura, vive no interior de troncos apodrecidos e pode ser comido ainda vivo ou cozido, na forma de um caldo.

Você encara um caldo de Turu?

Adriana garante que degustou as duas versões e que nos enviará um texto contando a experiência, bem como as fotos comprovadoras de tamanha valentia. Estamos aguardando. Ou na versão gerúndio de telemarketing, "estaremos aguardando" ...

sábado, 25 de setembro de 2010

Lena Gasparetto e o pink americano


Ricardo Icassatti Hermano

Uma das coisas bacanas a respeito do blog Café & Conversa é que ele nasceu sob a égide das muitas amizades que Romoaldo e eu tivemos a sorte de arrebanhar ao longo da vida. Outro aspecto legal é que o blog nos permitiu fazer novas e boas amizades por todo o Brasil e pelo mundo. Todos esses amigos - antigos e novos - são gente generosa, que fica feliz em colaborar como o nosso esforço prazeroso.

Várias dessas amizades já deixaram aqui suas impressões sobre a vida, as artes, o café, o mundo. Fotografaram e compartilharam tudo o que as maravilhou e também um monte de receitas maravilhosas, verdadeiros segredos de família guardados por gerações. É muita generosidade e muita sorte podermos conviver com essas pessoas e sua carga de conhecimento.

Somos realmente privilegiados por podermos contar com o carinho e a colaboração de mulheres como Little Mary, Catita de Mônaco, Rosão Avião, Raíssa Abreu, Elina Rodrigues, Silvia Gomide, Lena Gasparetto, Kátia Maia, Mariinha, Juju Cury, Adriana Nasser, Anna Magal, Kivia Gomes, Djania Savoldi, Raquel Alves e as aquisições mais recentes Memelia Moreira, Clara Favilla e Isabel Favilla. Se esqueci alguém, me perdoe. Minha memória virou memória RAM ...

Hoje, trazemos o relato e as fotos enviados pela Lena Gasparetto, uma Patissière de mão cheia que se dedica ao único ingrediente em todo o mundo capaz de acalmar uma mulher na TPM: o poderoso chocolate. Ela esteve viajando pelo Texas e pela ensolarada Califórnia, onde foi conhecer vinícolas e restaurantes. Generosa, visitou algumas cafeterias a nosso pedido. Infelizmente, não deu tempo de levar a caneca ...

Lena Gasparetto

Uma semana em San Francisco, da qual tirei um dia e meio para visitar Napa Valley; mais focada em Yountville e adjacências. Sou uma eterna aprendiz sobre vinhos, cuja paixão paralela aos doces me enriquece...

Em meio aos restaurantes de chefs estrelados em Yountville, despontam verdadeiras jóias de cafés charmosos, para onde migram os clientes da Bouchon Bakery, depois de longa e ansiosa espera na fila para devorar as gostosuras do premiado chef Thomas Keller, proprietário no local do The French Laundry e do Bouchon Bistrô. Dono também do Per Se, em Nova York, eleito em 2010 o 11° melhor restaurante do mundo pelo Guia Michelin.

Como a bakery não possui mesas, o jeito é andar com as caixinhas à procura de um bom café para harmonizar com os doces. Tudo à pé e muito pertinho, já que a cidade é minúscula e as lojas e restaurantes concentrados a poucos passos uns dos outros.

Num dia quente de verão, a 35°C como estava naquele, eu imaginava como as pessoas sentem tanto prazer em tomar um café nas mesas ao ar livre... mas elas simplesmente adoram!

Avistei a casa de tijolos aparentes (coisa bem tipica por lá) do Pacific Blues Café e entrei para olhar. Em ambiente com ar condicionado, as mesas de dentro eram privilegiadas.

Imagine o dia em que Brasília tiver uma profusão de cafeterias bacanas assim

Mas lá o cardápio era mais amplo. Lanches e refeições servidas o dia todo, das 8 da manhã às 9 da noite, davam prazer e matavam a fome dos menos sortudos que não tinham reservas nos "restôs" badalados ou que não queriam gastar tanto.

Havia um balcão interno e para provar apenas o espresso, de pé mesmo no balcão, pedi um "double shot" porque simplesmente não gosto dos espressos italianos que você toma meio gole e já acabou tudo... Muito bom. Encorpado, acidez equilibrada, notas de frutas e um leve defumado me deram um ânimo pra enfrentar o calor de céu azul californiano novamente.

Atravessei a pequena rua cheia de verde, e logo de deparei com um lugar inusitado, pra dizer o mínimo: Uma linha de trem "aposentada". Com vagões reformados e adaptados em 9 suites, formavam o Napa Valley Railway Inn - uma mini pousada cujos preços não eram doces... de US$ 170 até US$ 280 a diária! Tava lotado!

O Caboose Café era um anexo charmosíssimo e muito bem estruturado em cafés com qualidade de grãos, baristas e atendimento. Macchiatos e café-lattes com espuminhas desenhadas, como no Brasil.

Caboose Café

Nada de xícaras gigantes, nem espuma jogada de qualquer jeito. Eram cafés bem tirados, montados e servidos como um expert sabe fazer. Era O café, coisa muito rara nos EUA. Claro, pra aliviar o calor, existiam as bebidas geladas, em drinks com ou sem sorvetes. Esmero. Havia duas mesas com 2 ou 3 cadeiras. Nunca vazias, claro...

Já em San Antonio, minha amiga de infância, brasileira que mora no Texas há 15 anos, me levou entre outros lindos lugares, numa bakery, a Sugarbakers, gracinha, recém-inaugurada, com sofás de encosto pink, e capitonês aplicados em toda sua altura.

A Lena tentando harmonizar com o pink da Sugarbakers

Estilo americano, é verdade. Mas de lá saíam fornadas de cookies de todos os tipos e a todo momento. E cinnamon rolls, bars, danishes, e tudo que eles fazem de melhor.
Sentei com minha amiga pra dar boas risadas em volta de meia dúzia de espressos (nós duas) que, embora servidos numa caneca, estavam um primor. Surpreendeu.

Fornada de cookies da Sugarbakers para acompanhar o café

Enquanto ela ligava para o marido e filha pra avisar que ia chegar mais tarde (eu estava hospedada com ela), de lá ela insistiu em me levar a uma Happy Hour - mas isso
já é uma outra história...

A verdade é a seguinte: em volta de uma bela xícara de café, seja ele espresso ou de coador, com a fumaça exalando o aroma da cafeteira, nossas almas ficam mais leves,
nossa cabeça pensa melhor e o coração é capaz de sorrir. Experimente!!


Quem quiser saber sobre a outra parte da viagem da Lena, basta acessar o blog dela: http://www.helenagasparetto.com.br/

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Vapiano, Flautas, Queijos, Clara e Bebel


Ricardo Icassatti Hermano

Como vocês, leitores assíduos do Café & Conversa, já sabem, a jornalista Clara Favilla está em Haia, na Holanda, dando tratos à bola, paparicando a filhota, fazendo uns freelas, tomando café e levando a nossa caneca personalizada para passear.

Clara é antes de tudo uma alma generosa. Assim, toda vez que encontra um lugar bacana, seja cafeteria, restaurante ou loja, ela leva a caneca, bate fotos e nos envia. Dessa vez, ela nos reservou uma bela surpresa. Fiquem com o relato dela.

Nós no Vapiano

Esta quarta, 22 foi um dia especial, aqui em Haia. Um dia lindo e morno de outono. Acompanhei Bebel e Inês d'Avena que fizeram um belíssimo concerto numa das igrejas valonas (rito em francês) da cidade, a Waalsekerk. Os valões são protestantes que se refugiaram aqui, já que a região deles que faz parte da Bélgica, é católica. Mas isso faz tempo, viu!!!

Clara, Bebel e Inês, as três sereias

Antes do concerto, que foi na hora do almoço, enquanto as meninas faziam a passagem das músicas, dezenas de turistas franceses que visitavam a igreja se encantaram com o que ouviam. Alguns ficaram particularmente interessados em saber como duas brasileiras estavam ali e tocando tão bem. E o melhor para eles, falando em francês.

Bebel e Inês executando peças barrocas numa igreja valona

No programa Quantz (1697-1773), Guillemant (1705-1770), Teleman (1681-1767) . Foi lindo. A igreja fica na rua Nordeind, também conhecida por Palais Promenade, assim chamada porque vai dar no palácio da Rainha Beatriz. É uma rua muito simpática, cheia de lojas bonitas e alguns bistrôs.

Depois do concerto fomos (eu, Bebel, Inês e o namorado dela, o cravista Cláudio Ribeiro) almoçar do Vapiano (o nome é assim mesmo tudo junto). Uma cadeia alemã de restaurantes de comida ... italiana.

Viajar tem isso tudo de bom, restaurante Vapiano

A decoração faz aquela linha casual. A comida é boa e não é cara. Reduzem custos de pessoal porque mesmo não sendo um self service é preciso ir em cada uma das estações (saladas, pastas, sobremesas, bebidas, pode-se pedir uma ou duas taças de vinho, não toda a garrafa) fazer o pedido. Aí entregam um aparelhinho que vibra (rs) quando o seu prato fica pronto. Paga-se na saída.

Clara gostou da comida, mas adorou o aparelhinho que vibra ...

O restaurante também é cafeteria. Você pode se sentar dentro ou fora para degustar várias bebidas a partir do café e mesmo um espresso (o café é o Illy). A decoração é fofa. O atendimento é rápido e você pode levar para a sua mesa um vasinho de ervas (basílico e alecrim) para dar um sabor ainda mais especial ao seu prato.

Esses vasinhos com ervas são uma grande sacada

Foi mais um dia feliz em Haia.

Beijos Clara e Bebel

Filho de peixe, peixinho é. Fiquei curioso com a decisão da Bebel de se mudar justamente para a Holanda e solicitei à Clara mais informações sobre isso. E foi a própria Bebel quem me respondeu.

Ela me contou que é música profissional e seus instrumentos são a flauta doce e o fagote barroco. Foi na Bélgica e agora na Holanda, que Bebel se especializou na interpretação de música antiga, especialmente medieval, renascentista e barroca.

- Por que justo aqui? Porque aqui ficam os conservatórios com os maiores departamentos dedicados à essa área musical e, consequentemente, também tem mais orquestras e grupos dedicados a esse repertório - esclareceu.

Bebel estuda e se apresenta como free lancer e não está vinculada a nenhum grupo que não sejam os organizados por ela mesma. Como vocês podem ver, ela é uma garota sensível, jóia rara, belíssima e realmente não teve saída senão ir para um país onde o seu talento é valorizado. No Brasil governado por Lulla o Extirpador, ela não teria a menor chance.

Essa é a Bebel ... PAREM AS ROTATIVAS!!!

O Café & Conversa torce pelo sucesso da Bebel em qualquer país e espera que ela volte a se apresentar para os primos tupiniquins um dia. Enquanto isso, ela vai encantando os europeus e matando de inveja as torcedoras holandesas ...

Para fechar esse post, Clara me enviou a foto de um templo do queijo que encontrou por lá. Acho que em alguma encarnação passada eu fui um camundongo que vivia em Paris e sonhava em se tornar um Chef de cozinha. Quase tive um troço quando vi essa foto.

Eu sinto até o cheiro ...

A música do Dia - Amanheceu, Peguei a Viola - Renato Teixeira


Romoaldo de Souza


Estava aqui pesquisando sobre o que escrever hoje no blog Café & Conversa. Primeiro me veio a ideia de falar sobre um lançamento, no fim de semana, que tem alguma chance de dar certo.


É que o Fellini Caffè finalmente, depois de muita insistência nossa, vai abrir aos domingos, para servir café da manhã. Ricardo e eu temos insistido muito com a Moema Dourado, dona da cafeteira. Em diferentes oportunidades, escrevemos aqui mesmo que Brasília é muito carente nesse tipo de serviço. Um delicioso café da manhã.


Mas, aí vem uma preocupação. Uma não, duas. Quem sai de casa para um café da manhã num domingo, quer sossego. Quer tranquilidade e comer bem, independentemente do preço.


A Fellini encerra suas atividades à meia-noite, mas antes disso, por volta das 11h30, 11h45, os garçons de lá já começam a colocar cadeiras em cima da mesa, numa atitude que beira a hostilidade.


Por isso, não sei se no próximo fim de semana, mas quando for à Fellini para o café da manhã, se começarem a me enxotar antes que eu termine de comer, de ler o jornal, de navegar pela internet e tomar minha água com gás, vou subir nas tamancas. Precedentes já tenho de sobra.


Bom, mas hoje eu nem queria falar da Fellini, minha cafeteria predileta. É que nesta quinta-feira, comemora-se o Dia Internacional do Filho. Vou ser sincero. Já li de tudo. Da "Wikipedia" ao almanaque distribuído pela farmácia que fica lá perto da casa da minha tia, no interior de Pernambuco. Não sei o motivo, mas que é hoje, é!


Aí peguei o telefone, chamei meu filho para esse café da manhã da Fellini. E ele:


- Ah, pai, domingo estarei em Pirenópolis. Faz uns dez anos que não vou lá - disse Don Diego, ator e diretor de teatro.


Ator e diretor, Diego de León é esse bonitão à esquerda

Adivinhem o que me veio à mente. Aliás, foram duas lembranças. A primeira foi de um livro que eu lia para Don Diego quando ele ainda era pequenino. O Homem que Calculava, do engenheiro Júlio César de Mello e Souza (1895-1974) que usava o pseudônimo de Malba Tahan.


O escritor "narra as aventuras e proezas matemáticas de um matemático fictício, criado pelo autor; que retrata a vida de Beremiz Samir, recheado de problemas, quebra-cabeças e curiosidades da matemática".


O outro livro que me lembrei, agora, foi do escritor de origem libanesa, Khalil Gibran:


- Vossos filhos não são vossos filhos. São os filhos e as filhas da ânsia da vida por si mesma. Vós sois os arcos dos quais vossos filhos são arremessados como flechas vivas - diz o escritor.


Pronto. Me derramei em lágrimas de saudades.


E, a outra lembrança. E eu dizendo que eram apenas duas. A terceira recordação, vem de um programa de TV que era apresentado todo domingo na Globo. Era o Som Brasil, ainda da época de Roland Boldrin.


Continuo sem saber por que hoje é Dia Internacional do Filho, mas pelo menos me fez ter boníssimas recordações. Essa música de Renato Teixeira era a abertura do programa. Feliz Dia do Filho, filho. Filhos!!!


Amanheceu, Peguei a Viola

Renato Teixeira


Amanheceu eu peguei a viola
Botei na sacola e fui viajar
Sou cantador e tudo nesse mundo
Vale prá que eu cante e possa praticar
A minha arte sapateia as cordas
E esse povo gosta de me ouvir cantar

Amanheceu...

Ao meio dia eu tava em Mato Grosso
Do Sul ou do Norte, não sei explicar
Só sei dizer que foi de tardezinha
Eu já tava cantando em Belém do Pará

Amanheceu...

Em Porto Alegre um tal de coronel
Pediu que eu musicasse uns versos que ele fez
Para uma china, que pela poesia
Nem lá de Pequim se vê tanta altivez

Amanheceu...

Parei em Minas prá tocar as cordas
E segui direto para o Ceará
E no caminho fui pensando, é lindo
Essa grande aventura de poder cantar

Amanheceu...

Chegou a noite e me pegou cantando
Num bailão, lá no norte do Paraná
Daí prá frente ninguém mais se espanta
E o resto da noitada eu não posso contar

Anoiteceu e eu voltei prá casa
Que o dia foi longo e o sol quer descansar

Amanheceu...