quinta-feira, 31 de março de 2011

La Vie, o Barista Juscelino e as gentilezas

Ricardo Icassatti Hermano

Estive outro dia lá em Águas Claras, bairro aqui de Brasília que está passando por uma dessas dantescas explosões imobiliárias que transformam o ato de morar em algo parecido com o Inferno. Não tenho muita certeza, mas alguém está ganhando rios de dinheiro e não sou eu.

Mas, fui até lá para dar uma olhada no meu apartamento, que estava alugado. Pretendo morar lá e será preciso fazer uns "ajustes". Gosto de cozinhar, de ler, meditar, assistir filmes, escrever, namorar, receber os(as) amigos(as) e os filhotes. Para isso, é preciso ter um lugar que transpire paz e tranquilidade.

Como havia esquecido a indispensável trena para tirar algumas medidas e ainda era cedo, decidi conhecer a cafeteria do nosso amigo Barista Juscelino Medeiros. O local fica no shopping Águas Claras, bem ali na praça de alimentação, e chama-se La Vie. Ficou bem simpático.

La Vie, um bom lugar para tomar café

Com apenas 23 anos de idade, Juscelino é um rapaz surpreendente. Iniciou sua vida trabalhadora colhendo café em uma fazenda. Hoje é Barista e sócio da sua primeira cafeteria. Ele estudou e ainda estuda um bocado o tal do café. Fizemos o curso de prova juntos. A La Vie serve o café Octavio e já está colecionando fregueses.

Além dos espressos e cappuccinos, o La Vie também serve drinks elaborados com café, chás, bebidas geladas, tortas, salgados, e doces. Pressinto que Juscelino terá muito sucesso em sua nova empreitada. Ele me disse que a clientela ainda estranha espressos "curtos" e acham o gosto muito forte. Mas, aos poucos, vão voltando e procurando mais daquele precioso líquido para dar início ao dia. É a magia do bom café.

Juscelino extraindo o meu espresso (note que usei o X e o S corretamente)

Mas, além de tudo isso, Juscelino é um cara gentil e a gentileza anda escassa no mundo em geral. É claro que procuro me cercar de pessoas gentis, mas nem sempre isso está sob o nosso controle. Viajei e viajo muito e encontro todo tipo de gente. Não sei se é por ser sortudo, mas sempre encontrei pessoas gentis no meu caminho.

Tudo fica melhor depois que aqueço a alma com um espresso

Todo mundo gosta de gentileza. Principalmente de receber gentilezas. Poucos sabem dar valor ao que recebem. Menos ainda sabem ser gentis ou são capazes de um gesto de gentileza. Muita gente que gosta de receber gentileza, também acha que quem lhe foi gentil deve ser usado como saco de pancadas. Por azar, também esbarrei em muitos desses.

Esses cometem o grave erro de achar que quem é pacífico não sabe se defender. Um erro que lamentam para o resto da vida. Lembro-me de quando tinha uns sete ou oito anos de idade e um garoto maior me viu como alvo fácil para a prática do bullying, justamente porque gosto da paz e aprecio a gentileza.

No mesmo instante compreendi a situação e sabia que deveria enfrentá-lo. O resultado é que o tal garoto chorou como um bebê. E nem precisei me defender. Apenas tomei a atitude de enfrentá-lo, sem pensar nas consequências. Ele ficou aterrorizado apenas com a minha disposição e os amigos dele não tiveram coragem de intervir.

Isso é algo que fiz questão de ensinar aos meus filhos. É preciso estabelecer limites para o desaforo alheio: "Daqui não passa", costumo dizer. E não passa mesmo.

Assim, aprecio a gentileza e dou valor a quem sabe do que estou falando. Acredito que a gentileza é fator fundamental no universo do café. O amigo Juscelino é um barista competente, trabalhador, esforçado e gentil. Só por isso, já vale a pena conhecer o La Vie. Quando for a Águas Claras, dê um pulo até lá, peça um espresso "curto", troque dois dedos de prosa com o Juscelino e depois me diga se não tenho razão.

Juscelino fazendo cara de mau, mas ele é um Barista gentil

domingo, 20 de março de 2011

Mea Culpa, Mea Culpa, Mea Maxima Culpa ...


Ricardo Icassatti Hermano

"A culpa disso tudo aqui é de vocês". (Rodrigo Menezes Ramos)

Esse foi o maior cumprimento ou elogio que o blog Café & Conversa já recebeu em seu pouco tempo de vida. E reconhecemos com muito orgulho que a culpa é nossa mesmo. Nossas leitoras e leitores devem estar um pouco confusos nesse momento. Mas, não se preocupem que eu vou explicar tudo.

No início do ano passado, tomamos conhecimento de uma máquina profissional de espresso chamada SLAYER. Seus fabricantes, três jovens extremamente criativos, apaixonados por café e pelo Barismo - Eric Perkunder, Dan Urwiler e Devin Walker - se propuseram o desafio de criar a máquina de espresso perfeita lá em Seattle, nos Estados Unidos.

Os geniais criadores e sua criatura

Passamos a acompanhar as notícias desde o lançamento da máquina em 2009, na feira especializada Specialty Coffee Association of America (SCAA 2009). Foi um sucesso instantâneo e os nossos posts a respeito acabaram chamando a atenção de um outro grupo de jovens empreendedores igualmente apaixonados pelo café, bem aqui ao lado em Goiânia e fora do eixo Minas-São Paulo.

Eles já atuavam no mercado gastronômico com a lanchonete/restaurante Tribo do Açaí. Mas, queriam expandir seus negócios nessa área e voar um pouco mais alto. Queriam montar uma cafeteria dedicada exclusivamente aos cafés especiais.

O primeiro passo foi procurar informações na internet e o Google lhes apontou o Café & Conversa. Aqui conheceram a SLAYER e assistiram o vídeo dela funcionando na SCAA 2009. Foi amor à primeira vista, nos contou um daqueles jovens, o Rodrigo Menezes Ramos.

Rodrigo nos explicando como o Café & Conversa mudou sua vida

Daí em diante, teve início uma verdadeira epopeia. Resolveram montar o Ateliê do Grão (Rua 36, nº 354, Setor Marista). Fizeram cursos de Barismo, Provador e Coffee Hunter. Entraram em contato com os fabricantes da máquina e viajaram para a SCAA 2010 em cima do laço. O Rodrigo (que também é amigo do Wilsinho e do Bocão) conseguiu passaporte e visto em tempo recorde e conseguiu viajar.

"O dente do Bocão tinha caído dentro do snorkel ..."

Comprou a SLAYER sem saber que ainda teria de aguardar três meses para que fosse montada. Desconfiado, pegou o dinheiro que tinha no bolso e deu como entrada para garantir o negócio. Voltou para o Brasil e se dedicou aos cursos necessários, à procura de consultoria especializada, à caça dos grãos especiais e à montagem do Ateliê do Grão. Voltou a Seattle e trouxe a máquina para Goiânia.

"Quando abrimos a caixa, parecíamos crianças", revelou emocionado

Ousadia e coragem são adjetivos que não conseguem retratar com fidelidade o que esses caras fizeram. De um post do Café & Conversa criaram uma cafeteria que não faz feio em lugar nenhum do mundo. Investiram pesado e o bom gosto em tudo é o que se percebe logo de cara. O foco definitivamente é o café. E o grão é tratado com o devido respeito.

Ateliê do Grão poderia estar em New York, Roma, Paris, Londres, fácil fácil

E tem mais. Eles ainda compraram um moedor Versalab e estão aguardando a chegada de um torrador, cujo nome não anotei ... Vão torrar o próprio café porque desejam ter o efetivo controle da qualidade daquilo que servem. Esse pessoal vai longe. Mas, o importante é que eles se dedicaram com afinco à seleção de excelentes grãos. Afinal, não adianta ter máquinas caras e maravilhosas se o grão não é bom.

Até o moedor é bacana

No Ateliê do Grão você vai encontrar os seguintes cafés:

- Blend Ateliê - Composto de cafés Catuaí 99 e Vermelho 144 da região do Cerrado Mineiro, produzidos em Monte Carmelo e Unaí, em Minas Gerais;

- Chapadão de Ferro Natural - Café Mundo Novo, cultivado a 1260 metros de altitude na fazenda de mesmo nome, em Patrocínio/MG. O diferencial fica por conta do solo vulcânico da região;

- Chapadão de Ferro Cereja Descascada - Café Mundo Novo da mesma origem acima, mas com tratamento diferente na despolpação dos grãos;

- Grand Cru Vulcano Cereja Descascada - Mesma origem acima.

- Grand Cru Umami - Café do tipo Obatã cultivado a 480 metros de altitude na Fazenda Califórnia, em Jacarezinho/PR. Segundo especialistas, Umami é o nome dado por cientistas japoneses para o chamado "quinto sabor" básico, além dos outro quatro: doce, salgado, amargo e ácido. Umami pode ser traduzido como "delicioso" ou "saboroso".

Cafés especiais cuidadosamente selecionados e bem tratados

A equipe também mereceu atenção especial, que não se resume ao belo uniforme. Todos, vou repetir, todos os funcionários do Ateliê do Grão fizeram curso de Barista. Qualquer um deles está habilitado a pilotar a SLAYER e tirar deliciosos espressos. Investimento na qualificação profissional é essencial e poucos empresários do ramo se dão conta disso.

Magdiel e Jessica, garotada competente e motivada

Outro ponto que considero o mais importante, é o resultado final na xícara. Afinal, se o cliente não gostar do que está bebendo, o investimento vai por água abaixo. A satisfação do cliente é que vai garantir a continuidade do negócio. E nisso o Ateliê do Grão também acertou. Inclusive tomando o cuidado de elaborar um blend adequado a quem está fazendo a transição entre o café ruim que sempre tomou e o café especial.

Esse foi apenas um dos muitos "resultados na xícara" que tomei

Dito isso, um dia entramos em contato através do Twitter com aquela rapaziada. Soubemos da compra da SLAYER e ficamos aguardando a oportunidade para irmos até Goiânia e conhecermos a maravilha tecnológica. E o dia chegou. No sábado, fomos até lá. Inclusive, demos carona para Little Mary, que morre de medo de avião e cancelou a passagem quando soube que iríamos de carro.

Os criadores dessa beleza trabalharam na customização
de motos tipo chopper. Daí esse visual agressivo e heavy metal.
O pessoal do Ateliê do Grão mandou fazer essa pintura
numa oficina de Harley Davidson. É mole?

Por dentro, o chassi e a distribuição dos componentes
seguem a engenharia motociclística. Parece até coisa da NASA ...

Fomos super bem recebidos pelo Rodrigo, que fez questão de não apenas nos mostrar todos os detalhes da SLAYER e do moedor Versalab (veja abaixo o vídeo sobre este revolucionário moedor), como também manifestou toda a sua emoção em nos conhecer pessoalmente. Além de nos "afogar" em café.

Os goianos podem se orgulhar de ter uma cafeteria desse porte

Para nós, foi um privilégio ter podido ajudar em alguma coisa gente que, como nós, é apaixonada por café. Nossa intenção sempre foi, é e será ver o setor de cafeterias crescer e o café se tornar um assunto tão íntimo dos brasileiros como é o futebol.

Passando por Goiânia, não deixe de conhecer
o Ateliê do Grão. Você não vai se arrepender

Foi um dia realmente especial e como o Rodrigo está indo para a SCAA 2011, já o elegemos Correspondente Especial e Internacional do Café & Conversa. Aguardem muitas novidades desse universo apaixonante do café. Nós já estamos esfregando as mãos.



quinta-feira, 17 de março de 2011

St. Patrick's Day


Richard O'Connor

Hoje o mundo comemora o St. Patrick's Day (Dia de São Patrício), o padroeiro da Irlanda, com muita cerveja é claro. Eu até senti saudade do meu fígado. A data comemorativa foi tornada oficial no início do século XVII. Em Chicago, onde tem uma enorme colônia irlandesa, o rio que corta a cidade é inteiramente tingido de verde. Na Casa Branca, a Fonte Norte também jorra água verde nesse dia.

O Chicago River fica inteiramente verde

St. Patrick foi de escravo a Bispo da Igreja Católica na Irlanda, onde evangelizou por 30 anos. Conta a lenda que ele utilizou o trevo de três folhas para explicar a Santíssima Trindade. Daí também veio a associação com a cor verde. O santo é mais conhecido por expulsar as cobras da Irlanda. Provavelmente, é o simbolismo do seu trabalho para acabar com as práticas pagãs.

Sai fora cobra, que a Irlanda é terra de macho!!!
Vão para a Escócia, onde os homens vestem saia ...

Mas, o que interessa mesmo é que hoje o mundo se embebeda com cerveja Guinness, e as ruivas irlandesas brotam nos pubs de todo o planeta. Já contei aqui, no ano passado, as minhas aventuras com essas mulheres especialmente malvadas. O que elas fizeram comigo foi pura covardia. Elas me embebedaram e se aproveitaram do meu corpo. O pior é que não escrevem, não telefonam, não mandam um SMS ...

Irlandesa ruiva malvada ...

Aqui na Redação do Café & Conversa, não há mais grandes bebedores. Já fomos bons nisso. Hoje, as nossas bebidas são o café e a água mineral. Por isso, a homenagem do seu blog predileto a St. Patrick será uma receita típica daquelas terras rochosas, áridas e selvagens da Irlanda. Eu certamente fui irlandês em alguma vida passada.

Beer-Baked Irish Beef

Ingredientes

- 6 fatias de bacon picadas
- 1/3 xícara de farinha de trigo
- 1 colher chá de sal
- 1/2 colher chá de pimenta do reino moída na hora
- 1 colher chá de pimenta da jamaica em pó
- 1 kg de carne (patinho, alcatra, músculo ou filé) cortada em cubos
- 2 batatas grandes cortadas em pedaços grandes
- 4 cenouras cortadas na diagonal com espessura de 3 cm
- 4 cebolas grandes cortadas em oito pedaços
- 2 dentes de alho picados
- 1/4 xícara de salsa picada
- 1 colher chá de alecrim desidratado e amassado
- 1 colher chá de manjerona desidratada
- 1 folha de louro
- 1 lata ou garrafa de cerveja preta, tipo Stout

Preparo

Frite o bacon numa frigideira anti-aderente até que fique crocante. Retire e mantenha a gordura na frigideira.

Coloque a farinha, o sal, a pimenta do reino e a da jamaica num saco plástico tipo ZipLoc. Feche o saco e sacuda até misturar bem. Junte a carne e sacuda novamente. Em seguida, coloque a carne na frigideira e refogue até que esteja dourada em todos os lados.

Transfira a carne para uma panela do tipo Slow Cooker e adicione a cenoura, as batatas, as cebolas, o alho, a salsa, o alecrim, a manjerona e a folha de louro.

Em fogo MÉDIO-BAIXO, coloque a cerveja na frigideira e leve à fervura, raspando todo o fundo. Despeje a mistura na panela Slow Cooker. Tampe e deixe cozinhando em temperatura média por 4 a 5 horas, ou até que a carne esteja bem macia.

Antes de servir, remova a folha de louro e espalhe salsa e bacon por cima do cozido.

Se você não tiver a panela Slow Cooker, use uma caçarola com tampa que possa ir ao forno. Siga os mesmos passos e leve ao forno a 135º pelo mesmo tempo.

Lembra o nosso cozido, mas a cerveja faz toda a diferença

segunda-feira, 14 de março de 2011

Broken Heart's Brodo


Ricardo Icassatti Hermano, com valiosa ajuda feminina

A alma feminina é um grande mistério para os homens. Desconfio que seja até para as mulheres também. O que leva uma mulher a se interessar por um determinado sujeito? O que leva uma mulher a permitir que aquele determinado entre no seu universo, conheça detalhes da sua vida?

Nem Renoir conseguiu desvendar o mistério

Foi tentando desvendar esse mistério que me deparei com a seguinte situação. Mulher bonita, por volta dos 30 anos de idade, culta, profissional competente, criativa, cercada de bons amigos, mas procurando pelo cara certo que não aparece.

Um dia, essa mulher suspira ao conhecer um colega de trabalho no elevador da firma. Ele gentilmente havia segurado a porta para que ela entrasse. Um sujeito bem apanhado, educado e suavemente perfumado. Esses foram os primeiros itens a serem ticados por ela na lista de características fundamentais para um possível candidato. A atração brotou naturalmente.

Elegância, boas maneiras e um perfume discreto

Mais tarde, conversando com outras colegas durante a pausa para o café, assim como quem não quer nada, levantou a ficha corrida do rapaz. Soube que trabalhava no andar abaixo do dela, que havia sido dispensado pela namorada de longo tempo e por isso andava meio cabisbaixo com aquele olhar distante e tristonho de quem sofre por amor.

- Quem teria sido a louca que abriu mão de tão precioso espécime do gênero masculino? Será que ele precisa de colo? - pensou a moça, já imaginando como poderia oferecer seu ombro ao desolado rapaz.

A oportunidade não demorou a aparecer. Um amigo de infância estava lançando um livro sobre fungos que crescem na Antártida. Lá foi ela para a tarde de autógrafos na livraria. Apesar de não ser longa, a fila não andava devido a atenção - que desconhecia limite de tempo - dedicada pelo autor a cada leitor da sua tese de doutorado.

Ela então decide dar uma volta pelas prateleiras em busca de um guia de viagem sobre a Turquia, país que atiçava a sua curiosidade romântica. Bolsa, computador, livro do amigo e guia de viagem. Tudo foi ao chão quando o celular tocou em algum bolso ainda não identificado. Como ela mesma costumava dizer, é muita coisa para administrar.

Países exóticos atiçam a imaginação de moças românticas

Enquanto se decidia entre atender o celular e recolher seus pertences espalhados pelo chão, o homem atrás dela na fila se agachou e iniciou o resgate. Ela agradeceu sem olhar quem era o seu salvador. Estava atenta ao telefone ouvindo a musiquinha que a sua afilhada de apenas seis anos de idade aprendera na escola.

Ligação encerrada, ela verifica se havia recuperado tudo e deu por falta do guia de viagem sobre a Turquia. Olhou ao redor e, no meio do giro, deu de cara com o seu gentil salvador. O guia estava nas mãos dele, que o folheava displicentemente. Ela então soube que ele conhecia a Turquia e que gostava muito do país, especialmente a região da Capadócia.

Naquele momento, um dia conturbado e sem graça mudou de tom. O seu salvador e conhecedor da Turquia era ninguém menos que o homem do coração partido. A conversa engrenou, é claro, e ela nunca desejou tanto ficar numa fila que não anda. Ela ainda descobriu que o escritor e o salvador também eram amigos. Só familiares e amigos compram e querem autógrafos nesse tipo de livro.

Na saída, chuva torrencial. Na despedida, o homem de olhos tristes a convida para jantar no restaurante logo ali ao lado da livraria, pois ele mesmo não está mais fazendo suas refeições em casa. Após o chute da namorada, estava na fase "largadão". Neste exato momento, a mente feminina deu start no exaustivo processo de avaliação da situação e gerenciamento de crises:

- Meu Deus! Não acredito que ele está me convidando para sair! Meu gato precisa de ração! Minhas pernas não estão depiladas! Melhor assim ... Não, sua boba! Ele só quer ser educado e matar tempo! Jamais olhou pra você ... Mas, de repente, olhou! Meu gato está sem comer a mais de um dia e vai morrer de fome! Não acredito ... Sua tonta! Por que não comprou a comida do gato ontem? - E por aí vai ...

Desanimada com seus próprios pensamentos, ela disse que adoraria, mas antes precisaria alimentar seu gato. Como morava ali perto, sugeriu que se encontrassem em alguns minutos, após o cumprimento dos deveres "felino-maternais". Ele se ofereceu para acompanhá-la e perguntou se poderia utilizar o seu banheiro. O alarme da mente feminina soou ensandecido.

- Meu Deus! Mas, o banheiro está uma zona! E aquela calcinha velha secando no box? A cama! Nem arrumei hoje! - E por aí vai. Novamente.

Chegando ao apartamento, pediu que ele esperasse um pouco na sala. "Me dá cinco minutinhos?". Ele apenas sorriu e disse "tudo bem". Era um sujeito viajado, experiente, educado e cheiroso. Vistoria e arrumação rápidas, calcinhas voaram para o armário, o famélico gato foi alimentado e o banheiro liberado. Enquanto ele se aliviava, a cama teve os lençóis trocados em tempo recorde.

Uma chuva sempre ajuda ...

O convite para jantar acabou invertido. Ela o convenceu de que seria mais fácil fazer algo ali mesmo e evitar a chuva que só aumentava. Uma inspeção rápida na cozinha a colocou em modo "pânico". Além de uma garrafa de vinho (coisa que todo mundo parece ter), geladeira e despensa forneciam poucos ingredientes.

Uma cebola, alguns dentes de alho, azeite extra virgem, manteiga, sal, pimenta do reino, sementes de coentro, um pedaço de queijo parmesão e molho inglês. Na geladeira, um pacote de Capelletti (massa moldada a mão no formato de um antigo chapéu masculino italiano), com recheio de nozes e ricota.

Se eu disser com o que isso se parece, aí é que vão me chamar de machista mesmo

A coisa já melhorou de figura, mas nem tanto. Uma olhada desesperada ao redor e PIMBA! Os vasinhos de ervas que sua mãe lhe dava de presente todo mês. Santa e insistente mamãe!

Toda mulher deve ter esses vasinhos na cozinha

A ideia para o prato veio como um raio. Ela resolveu fazer um Brodo (caldo de legumes, carne ou frango) com as ervas para acompanhar a pasta. Seria um feito digno dos melhores chefs. O prato foi preparado com extremo cuidado e o homem do coração partido ajudou a cortar as cebolas enquanto narrava suas interessantes histórias de viagem, muitas aventuras pelo mundo.

Brodo é um caldo absurdamente delicioso

Um dia, querida leitora, pode ser que você esteja na mesma situação e precise lançar mão da criatividade incentivada pela carência e curar um coração partido. As mulheres são bem mais complicadas, como vocês podem notar pela extensão do texto. Por isso, mantenha suas calcinhas fora do banheiro, deixe sua cama sempre impecável e use a receita do Brodo. E ainda tem gente que me acha machista. Tremenda injustiça ...

Broken Heart's Brodo

Ingredientes

- 1 pacote de Capelletti semi pronto
- 1 cebola bem picada
- 3 dentes de alho inteiros amassados com a faca
- Azeite extra virgem
- 1 colher sopa de manteiga
- Molho Inglês Worcestershire em dose farta (50 ml)
- Alecrim fresco
- Tomilho fresco
- Sálvia fresca, no final 1 minuto antes de servir
- Pimenta do Reino
- Sementes de coentro
- Sal
- Queijo Parmesão
- 2 litros de água

Preparo

Aqueça o azeite e a manteiga. Refogue a cebola. Adicione o molho inglês (Worcestershire, por favor). Acrescente o alecrim, o tomilho e a água, alho, sal e pimenta. Acertar o molho inglês. Ferver por pelo menos 20 minutos.

Coloque o Capelletti no caldo e cozinhe pelo tempo indicado na embalagem ou até atingir o ponto al dente. Adicione a sálvia um minuto antes de servir. Sirva com um fio de azeite e Parmesão ralado na hora.

Isso cura qualquer coração partido ...

segunda-feira, 7 de março de 2011

A Música do Dia - Always On My Mind - Michael Bublé


Romoaldo de Souza


Lendo uma discussão na internet, sobre o comentário de uma jornalista paraibana, a respeito do Carnaval, e sem querer tirar a razão de quem gosta da festa, fiquei pensando em alguns fatos marcantes, à época em que pegava meu saxofone alto, Veril, depois um Yamaha, e saia de casa, para tocar no Carnaval, por um trocados. Bem um trocadilho, tocando por uns trocados.


Não era, mesmo, pelo dinheiro. Recordo bem, que a última vez que enfrentei essa empreitada não recebi nem R$ 800. E ainda tinha um agente público perguntando se a gente assinaria um recibo num valor maior. Foi denunciado, perdeu o cargo de comissão, mas já está de volta, com a ascenção do partido dele. Essa gente se multiplica com uma facilidade impressionante.


O tempo passa (“o tempo voa”) e eis que estou nesse “retiro” mais que espiritual, ouvindo a música de que gosto, sem atentar para o play da TV e sequer dar uma espiadinha no Carnaval do Rio, de São Paulo, da Bahia ou mesmo de Recife. Como não tenho mais intenção de criar uma legião de seguidores dos meus princípios, me abstenho de dar qualquer opinião sobre Carnaval.


Até porque, certamente, no balanço que a Polícia Rodoviária Federal fizer na Quarta-feira de Cinzas, a notícia sobre os acidentes nas estradas já será essa análise. Tomara que corra tudo bem. Se bem que tem motorista que corre que é uma beleza.


Coisa simples, Romoaldo, instiga minha mente. Coisas simples era meu propósito quando comecei a ouvir Michael Bublé, cantando Always On My Mind. Pois não é que recordo de momentos interessantes que podem ser classificados como simples. Como um telefonema, um abraço, uma xícara de café. Um oi!


Pessoas importantes na sua vida, que às vezes vão sendo deixadas “nessa longa estrada da vida”, quando poderiam ser reconquistadas com um alô. Um torpedo. Dependendo da operadora, grátis.


Agora mesmo, recordei de uma professora que tive na infância. Ela insistia que eu tinha jeito para bancário. Oh, um menininho de quatro, cinco anos e a professora já sabia o que eu seria.


- Bancário, meu filho, é aquele rapaz que fica no banco, recebendo dinheiro, contando prata (moedas) atendendo as pessoas - dizia.


O único banco que eu conhecia, era o banco da praça. Não fazia a menor idéia do que minha professora falava, mas eu fui gostando da fantasia. Até que um dia a professora chegou na minha carteira - como eram chamadas as bancadas dos estudantes - e sentenciou.


- Só tem um pequeno problema. Para ser bancário você vai ter de estudar muito. Muito mesmo. Depois, nenhum banco emprega gente canhota, li isso no Cruzeiro - mostrando a regista colorida.

Danou-se. Pensei! Pronto! Lá se foi por água abaixo minha primeira profissão. Sou uma dessas minorias, uns 10% da humanidade que se apoia na esquerda. Na esquerda, a mão claro!

"Ah, é bom que você saiba que no período medieval, os canhotos eram
queimados na fogueira porque a Igreja achava que eles eram bruxos"

    Um mês depois, a professora me passou uma receita. Eu tinha de decorar a fórmula química da Cibalena, um analgésico que marcou minha infância. “Dimetilaminofenildimetilpirasolona”. Não sei para que serve, mas serviu para a professora parar de me encher a paciência e deixar de ameaçar de que eu nunca seria nada na vida, sendo canhoto.


    Então. E o que as pequenas coisas têm a ver com tudo isso? Tudo. Always On My Mind já foi cantada por muito gente: Pet Shop Boys, Willie Nelson, Elvis Presley. Mas eu preferi trazer essa versão com o canadense Michael Bublé.


    Por dois motivos. A versão de Bublé está fundamentada num impecável quarteto. Um piano, um baixo, guitarra e bateria, o que deixa a melodia harmoniosamente integrada. Preste atenção no “diálogo” da voz de Bublé com o piano. Sinta como a guitarra “arma” o momento para o baixo se sobressair. Arranjo simples, mas inconfundível!


    Bom, isso sem perder de vista esse casaco que o canadense está usando. Já copiei esse vídeo para vários amigos que estão com o passaporte carimbado para o Canadá. Eu quero um casaco desses. Tamanho G. Simples, não?



    Always On My Mind

    Wayne Thompson, Mark James & Johnny Christopher


    Maybe I didn't treat you

    Quite as good as I should have

    Maybe I didn't love you

    Quite as often as I could have

    Little things I should have said and done

    I just never took the time


    You were always on my mind

    You were always on my mind


    Tell me, tell me that your sweet love hasn't died

    Give me, give me one more chance

    To keep you satisfied, satisfied


    Maybe I didn't hold you

    All those lonely, lonely times

    And I guess I never told you

    Im so happy that you're mine

    If I make you feel second best

    Girl, Im sorry I was blind


    You were always on my mind

    You were always on my mind


    Tell me, tell me that your sweet love hasn't died

    Give me, give me one more chance

    To keep you satisfied, satisfied


    Little things I should have said and done

    I just never took the time

    You were always on my mind

    You are always on my mind

    You are always on my mind