sábado, 31 de outubro de 2009

Música do dia - Santa Maria (Del Buen Ayre) - Gotan Project


A música desta sábado é criação do Gotan Project, grupo musical formado pelo francês Philippe Cohen Solal, programação e base; o suíço Christoph Müller, também na programação e o argentino Makaroff, violão.

No vocal, está Verônika Silva e mais Arnaldo Zanelli, ao piano; Line Krusse e Maria Pujado, violinos; e Juanjo Mosalini, no bandoneón.

Há críticos reducionistas que tratam a música do Gotan Project como “tango eletrônico”. Mas o trio vai além do modismo que inunda as principais casas de tango e cafés de Buenos Aires. Como nessa canção dedicada à capital portenha, um resgate à sonoridade do bandoneón tão bem executado, em outras épocas por Astor Piazzolla

Dance, cante, com Gotan Project.

Romoaldo de Souza


Santa Maria

Hay milonga de amor

Hay temblor de gotán

Este tango es para vos

Hay milonga de amor

Hay temblor de gotán

Hay milonga de amor

Este tango es para vos

Hay milonga de amor

Hay temblor de gotán

Este tango es para vos



Substitutos


Ricardo Icassatti Hermano

Os fãs de filmes de ficção científica são uns chatos. Sei disso porque sou um deles. Prestamos atenção nos mínimos detalhes e cobramos coerência científica. Não importa se o que é mostrado é possível ou não, mas o embasamento científico tem que ser convincente. Queremos que o filme seja uma janela para vislumbrarmos o futuro ou um dos futuros possíveis.

Com essa expectativa fui assistir o filme de ficção científica "Substitutos". Estrelando o velho e manjado Bruce Willis, que não deixa de ser um ator bom para esse tipo de filme e uma garantia de blheteria, e a estonteante atriz britânica Rosamund Pike.

Cartaz do filme

A história é de um futuro em que os humanos ficam em casa e interagem com o mundo através de andróides - os tais substitutos - quase indestrutíveis, que são pilotados como um video game. Esses substitutos podem ser uma cópia melhorada da pessoa ou uma figura completamente diferente. Um mundo só de gente bonita e jovem. Ninguém quer ser quem é. Nada a ver com a realidade ...

Esses substitutos assumem o lado, digamos, chato da vida, que é trabalhar e produzir, e o lado perigoso de correr todos os riscos naturais. Mas também proporcionam prazeres como a realização de fantasias antes impossíveis. Certamente foi inspirado nas salas de bate-papo da internet, onde cada um assume a personagem que quiser.

Há uma cena engraçada, em que agentes do FBI descobrem o ser humano real por trás de uma linda andróide substituta que foi "morta". Era um sujeito de meia idade, feio, careca e balofo.

Os seres humanos são naturalmente voltados para o ócio e o lazer. Só gosta de trabalhar aquele que vê o trabalho como diversão. O futuro do filme é bem provável e já foi tema de outro filme em desenho animado, "WALL E", onde os seres humanos vivem uma vida preguiçosa e virtual em espaçonaves, enquanto um simpático robozinho é que faz o trabalho pesado de dar um jeito no lixo do mundo.

Mas, aí vem a chatice do fã que percebe as falhas "técnicas" do filme. Será que no futuro os computadores serão os mesmos de hoje, com teclados, mouses e monitores de LCD? Pior. Será que o sistema operacional utilizado ainda será o DOS, quando temos os fantásticos Mac da Apple? Será preciso digitar comandos quando até telefones celulares já disponibilizam comando de voz?

Os computadores continuam os mesmos, mas os meus cabelos ...

E os automóveis? Gasolina ainda? Se foi possível desenvolver uma fonte de energia para manter andróides funcionando o dia inteiro, porque os automóveis não são abastecidos pela mesma bateria? E a andróide fazendo um espresso? Pra quem?

O filme é bom. Puro entretenimento para quem gosta de ação e efeitos especiais. Mas, para nós, os chatos fãs do gênero, a diversão é apenas encontrar as falhas. O que não deixa de ser legal também. Além disso, o filme tem a Rosamund Pike ...

Fala sério ... (suspiro)


sexta-feira, 30 de outubro de 2009

A Cena do Ódio


O blog Café & Conversa está indignado e inconformado com a má educação dos estudantes da Universidade Bandeirante de São Paulo (Uniban), campus de São Bernardo, que xingaram, agrediram e humilharam a aluna Geisy Arruda por estar vestida com uma mini-saia.

Romoaldo e eu fazemos parte de uma geração que usou melhor a universidade e a oportunidade de aprender. Quando estudantes, nos opusemos à ditadura, ao autoritarismo, à censura, às prisões e à tortura praticada por trogloditas nos porões de prédios públicos.

Ao lado de outros milhares de jovens alunos, usamos nossas inteligências e arriscamos nossa integridade física em nome da liberdade de expressão, de pensamento e de escolha independente de cor, sexo, religião ou orientação sexual.

Lutamos para que a Michele - ou qualquer outra mulher - tivesse o direito de vestir a roupa que quisesse, pensar o que quisesse, falar o que quisesse e fazer da sua vida o que quisesse. Pensávamos então que entregaríamos um país melhor aos nossos filhos e netos.

Agora vemos com indisfarçável asco essa juventudade imbecilizada alimentando uma "mudernidade" neo-careta, fascista e estúpida. Usam a liberdade que têm para serem ignorantes por opção. Não passam de uma manada bovina babando e mugindo palavras de ordem, repetindo slogans e se achando os "ixpertos" do mundo. Até acham normal a corrupção e a censura. Incensam e se ajoelham diante de retardados em programas de TV e os elegem como exemplo.

Não é atoa que surgem e se perpetuam tão facilmente os Chavez, Evos, Correas, Zelayas e Lulas. Com essa qualidade de povo não há espanto. Nem saída. Apesar de continuar lutando e educando meus filhos. Sou um lutador e sei apenas que a luta não para nem pode parar.

Por tudo isso, o blog Café & Conversa dedica aos patetas psicopatas da Uniban um poema do artista plástico, dramaturgo, romancista e poeta português, Almada Negreiros (1893-1970). Este sim um modernista que representou, junto com seu grupo "Orpheu", o ponto mais alto do Futurismo em Portugal.

Ricardo Icassatti Hermano


O poema foi escrito durante os três dias e as três noites que durou a revolução de 14 de maio de 1915 e chama-se A Cena do Ódio.

Ergo-Me Pederasta apupado d'imbecis,
Divinizo-Me Meretriz, ex-líbris do Pecado,
e odeio tudo o que não Me é por Me rirem o Eu!
Satanizo-Me Tara na Vara de Moisés!
O castigo das serpentes é-Me riso nos dentes,
Inferno a arder o Meu Cantar!
Sou Vermêlho-Niagara dos sexos escancarados nos chicotes
dos cossácos!
Sou Pan-Demónio-Trifauce enfermiço de Gula!
Sou Génio de Zaratrusta em Taças de Maré-Alta!
Sou Raiva de Medusa e Danação do Sol!
Ladram-Me a Vida por vivê-La
e só Me deram Uma!
Hão-de lati-La por sina!
Agora quero vivê-La!
Hei-de Poeta cantá-La em Gala sonora e dina
Hei-de Glória desanuviá-La!
Hei-de Guindaste içá-La Esfinge
da Vala pedestre onde Me querem rir!
Hei-de trovão-clarim levá-La Luz
às Almas-Noites do Jardim das Lágrimas!
Hei-de bombo rufá-La pompa de Pompeia
nos Funerais de Mim!
Hei-de Alfange-Mahoma
cantar Sodoma na Voz de Nero!
Hei-de ser Fuas sem Virgem do Milagre,
hei-de ser galope opiado e doido, opiado e doido...
Hei-d' Átila, hei-de Nero, hei-de Eu,
cantar Atila, cantar Nero, cantar Eu!
Sou Narciso do Meu Ódio!
- O Meu ódio é Lanterna de Diógenes,
é cegueira de Diógenes,
é cegueira da Lanterna!
(O Meu Ódio tem tronos d' Herodes,
histerismos de Cleópatra, perversões de Catarina!)
O Meu ódio é Dilúvio Universal sem Arcas de Noé, só
Dilúvio Universal!
e mais Universal ainda:
Sempre a crescer, sempre a subir...
até apagar o Sol!
Sou trono de Abandono, mal-fadado,
nas iras dos Bárbaros meus Avós.
Oiço ainda da Berlinda d'Eu ser sina
gemidos vencidos de fracos,
ruídos famintos de saque,
ais distantes de Maldição eterna em Voz antiga!
Sou ruínas rasas, inocentes
como as asas de rapinas afogadas.
Sou relíquias de mártires impotentes
sequestradas em antros do Vício.
Sou clausura de Santa professa,
Mãe exilada do Mal, Hóstia d'Angústia no Claustro,
freira demente e donzela,
virtude sozinha da cela
em penitência do sexo!
Sou rasto espezinhado d'Invasores
que cruzaram o meu sangue, desvirgando-o.
Sou a Raiva atávica dos Távoras,
o sangue bastardo de Nero,
o ódio do último instante
do Condenado inocente!
A podenga do Limbo mordeu raivosa
as pernas nuas da minh'Alma sem baptismo...
Ah! que eu sinto, claramente,
que nasci de uma praga de ciúmes!
Eu sou as sete pragas sobre o Nilo e a Alma dos Bórgias a
penar!
Tu, que te dizes Homem!
Tu, que te alfaiatas em modas
e fazes cartazes dos fatos que vestes

p'ra que se não vejam as nódoas de baixo!
Tu, qu'inventaste as Ciências e as Filosofias,
as Políticas, as Artes e as Leis,
e outros quebra-cabeças de sala
e outros dramas de grande espectáculo
Tu, que aperfeiçoas sabiamente a arte de matar.
Tu, que descobriste o cabo da Boa-Esperança
e o Caminho Marítimo da índia
e as duas Grandes Américas,
e que levaste a chatice a estas Terras
e que trouxeste de lá mais gente p'raqui
e qu'inda por cima cantaste estes Feitos...
Tu, qu'inventaste a chatice e o balão,
e que farto de te chateares no chão
te foste chatear no ar,
e qu'inda foste inventar submarinos
p'ra te chateares também por debaixo d'água,
Tu, que tens a mania das Invenções e das Descobertas
e que nunca descobriste que eras bruto,
e que nunca inventaste a maneira de o não seres
Tu consegues ser cada vez mais besta
e a este progresso chamas Civilização!
Vai vivendo a bestialidade na Noite dos meus olhos,
vai inchando a tua ambição-toiro
'té que a barriga te rebente rã.
Serei Vitória um dia -Hegemonia de Mim!
e tu nem derrota, nem morto, nem nada.
O Século-dos-Séculos virá um dia
e a burguesia será escravatura
se for capaz de sair de Cavalgadura!
Hei-de, entretanto, gastar a garganta
a insultar-te, ó besta!
Hei-de morder-te a ponta do rabo
e por-te as mãos no chão, no seu lugar!
Ahi! Saltimbanco-bando de bandoleiros nefastos!
Quadrilheiros contrabandistas da Imbecilidade!
Ahi! Espelho-aleijão do Sentimento,
macaco-intruja do Alma-realejo!
Ahi! macrelle da Ignorância!
Silenceur do Génio-Tempestade!
Spleen da Indigestão!
Ahi! meia-tigela, travão das Ascensões!
Ahi! povo judeu dos Cristos mais que Cristo!
Ó burguesia! Ó ideal com i pequeno
Ó ideal ricócó dos Mendes e Possidonios
Ó cofre d'indigentes
Cuja personalidade é a moral de todos!
Ó geral da mediocridade!
Ó claque ignóbil do Vulgar, protagonista do normal!
Ó Catitismo das lindezas d'estalo!
Ahi! lucro do fácil,
cartilha-cabotina dos limitados, dos restringidos!
Ai! dique-impecilho do Canal da Luz!
Ó coito d'impotentes
a corar ao sol no riacho da Estupidez!
Ahi! Zero-barómetro da Convicção!
bitola dos chega, dos basta, dos não quero mais!
Ahi! Plebeísmo Aristocratizado no preço do panamá!
erudição de calça de xadrez!
competência de relógio d'oiro
e correntes com suores do Brasil,
e berloques de cornos de búfalo!
E eu vivo aqui desterrado e Job
da Vida-gémea d'Eu ser feliz!
E eu vivo aqui sepultado vivo
na Verdade de nunca ser Eu!
Sou apenas o Mendigo de Mim-Próprio,
órfão da Virgem do meu sentir.
E como queres que eu faça fortuna
se Deus, por escárnio, me deu Inteligência,
e não tenho sequer, irmãs bonitas
nem uma mãe que se venda para mim?
(Pesam quilos no Meu querer
as salas de espera de Mim.

Tu chegas sempre primeiro...
Eu volto sempre amanhã...
Agora vou esperar que morras.
Mas tu és tantos que não morres...
Vou deixar d'esp'rar que morras
- Vou deixar d'esp'rar por mim!)
Ah! que eu sinto, claramente, que nasci
de uma praga de ciúmes!
Eu sou as sete pragas sobre o Nilo
e a alma dos Bórgias a penar!
E tu, também, vieille-roche, castelo medieval
fechado por dentro das tuas ruínas!
Fiel epitáfio das crónicas aduladoras!
E tu também ó sangue azul antigo
que já nasceste co'a biografia feita!
Ó pajem loiro das cortesias-avozinhas!
Ó pergaminho amarelo-múmia
das grandes galas brancas das paradas
e das Vitórias dos torneios-lotarias
com donzelas-glórias!
Ó resto de cetros, fumo de cinzas!
Ó lavas frias do Vulcão pirotécnico
com chuvas d'oiros e cabeleiras prateadas!
Ó estilhacos heráldicos de Vitrais
despegados lentamente sobre o tanque do silêncio!
Ó Cedro secular
debruçado no muro da Quinta sobre a estrada
a estorvar o caminho da Mala-posta!
E vós também, ó Gentes de Pensamento,
ó Personalidades, ó Homens!
Artistas de todas as partes, cristãos sem pátria,
Cristos vencidos por serem só Um!
E vós, ó Génios da Expressão,
e vós também, ó Génios sem Voz!
ó além-infinito sem regressos, sem nostalgias,
Espectadores gratuitos do Drama-Imenso de Vós-Mesmos!
Profetas clandestinos
do Naufrágio de Vossos Destinos!
E vós também, teóricos-irmãos-gémeos
do meu sentir internacional!
Ó escravos da Independência!
Vós que não tendes prémios
por se ter passado a vez de os ganhardes,
e famintos e covardes
entreteis a fome em revoltas do Mau-Génio
no boémia da bomba e da pólvora!
E tu também, ó Beleza Canalha
Co'a sensibilidade manchada de vinho!
Ó lírio bravo da Floresta-Ardida
à meia-porta da tua Miséria!
Ó Fado da Má-Sina
com ilustrações a giz
e letra da Maldição!
Ó fera vadia das vielas açaimada na Lei!
Ó xale e lenço a resguardar a tísica!
Ó franzinas do fanico
co'a sífilis ao colo por essas esquinas!
Ó nu d'aluguer
na meia-luz dos cortinados corridos!
Ó oratório da meretriz a mendigar gorjetas
p'rá sua Senhora da Boa-Sorte!
Ó gentes tatuadas do calão!
carro vendado da Penitenciária!
E tu também, ó Humilde, ó Simples!
enjaulados na vossa ignorância!
Ó pé descalço a calejar o cérebro!
Ó músculos da saúde de ter fechada a casa de pensar!
Ó alguidar de açorda fria
na ceia-fadiga da dor-candeia!
Ó esteiras duras pra dormir e fazer filhos!
Ó carretas da Voz do Operário
com gente de preto a pé e filarmónica atrás!
Ó campas rasas, engrinaldadas,
com chapões de ferro e balões de vidro!

Ó bota rota de mendigo abandonada no pó do caminho!
Ó metamorfose-selvagem das feras da cidade!
Ó geração de bons ladrões crucificados na Estupidez!
Ó sanfona-saloia do fandango dos campinos!
Ó pampilho das Lezírias inundadas de Cidade!
ó trouxa d'aba larga da minha lavadeira,
Ó rodopio azul da saia azul de Loures!
E vós varinas que sabeis a sal
as Naus da Fenícia ainda não voltaram?!
E vós também, ó moças da Província
que trazeis o verde dos campos
no vermelho das faces pintadas!
E tu também, ó mau gosto
co'a saia de baixo a ver-se
e a falta d'educação!
Ó oiro de pechisbeque (esperteza dos ciganos)
a luzir no vermelho verdadeiro da blusa de chita!
Ó tédio do domingo com botas novas
e música n'Avenida!
Ó santa Virgindade
a garantir a falta de lindeza!
Ó bilhete postal ilustrado
com aparições de beijos ao lado!
E vós ó gentes que tendes patrões,
autómatos do dono a funcionar barato!
Ó criadas novas chegadas de fora p'ra todo o serviço!
Ó costureiras mirradas,
emaranhadas na vossa dor!
Ó reles caixeiros, pederastas do balcão,
a quem o patrão exige modos lisonjeiros
e maneiras agradáveis pròs fregueses!
Ó Arsenal fadista de ganga azul e coco socialista!
Ó saídas pôr-do-sol das Fábricas d'Agonia!
E vós também, ó toda a gente, que todos tendes patrões!
E vós também, nojentos da Política
que explorais eleitos o Patriotismo!
Macrots da Pátria que vos pariu ingénuos
e vos amortalha infames!
E vós também, pindéricos jornalistas
que fazeis cócegas e outras coisas
à opinião pública!
E tu também roberto fardado:
Futrica-te espantalho engalonado,
apoia-te das patas de barro,
Larga a espada de matar
e põe o penacho no rabo!
Ralha-te mercenário, asceta da Crueldade!
Espuma-te no chumbo da tua Valentia!
Agoniza-te Rilhafoles armado!
Desuniversidadiza-te da doutorança da chacina,
da ciencia da matança!
Groom fardado da Negra,
pária da Velha!
Encaveira-te nas esporas luzidias de seres fera!
Despe-te da farda,
desenfia-te da Impostura, e põe-te nu, ao léu
que ficas desempregado!
Acouraça-te de senso,
vomita de vez o morticínio,
enche o pote de raciocínio,
aprende a ler corações,
que há muito mais que fazer
do que fazer revoluções!
Ruína com tuas próprias peças-colossos
as tuas próprias peças colossais,
que de 42 a 1 é meio-caminho andado!
Rebusca no seres selvagem
no teu cofre do extermínio
o teu calibre máximo!
Põe de parte a guilhotina,
dá férias ao garrote!
Não dês língua aos teus canhões,
nem ecos às pistolas,
nem vozes às espingardas!

– São coisas fora de moda!
Põe-te a fazer uma bomba
que seja uma bomba tamanha
que tenha dez raios da Terra.
Põe-lhe dentro a Europa inteira,
os dois pólos e as Américas,
a Palestina, a Grécia, o mapa
e, por favor, Portugal!
Acaba de vez com este planeta,
faze-te Deus do Mundo em dar-lhe fim!
(Há tanta coisa que fazer, Meu Deus!
e esta gente distraída em guerras!)
Eu creio na transmigração das almas
por isto de Eu viver aqui em Portugal.
Mas eu não me lembro o mal que fiz
durante o Meu avatar de burguês.
Oh! Se eu soubesse que o Inferno
não era como os padres mo diziam:
uma fornalha de nunca se morrer...
mas sim um Jardim da Europa
à beira-mar plantado...
Eu teria tido certamente mais juízo,
teria sido até o mártir São Sebastião!
E inda há quem faça propaganda disto:
a pátria onde Camões morreu de fome
e onde todos enchem a barriga de Camões!
Se ao menos isto tudo se passasse
numa Terra de mulheres bonitas!
Mas as mulheres portuguesas
são a minha impotência!
E tu, meu rotundo e pançudo-sanguessugo,
meu desacreditado burguês apinocado
da rua dos bacalhoeiros do meu ódio
co'a Felicidade em casa a servir aos dias!
Tu tens em teu favor a glória fácil
igual à de outros tantos teus pedaços
que andam desajuntados neste Mundo,
desde a invenção do mau cheiro,
a estorvar o asseio geral.
Quanto mais penso em ti, mais tenho Fé e creio
que Deus perdeu de vista o Adão de barro
e com pena fez outro de bosta de boi
por lhe faltar o barro e a inspiração!
E enquanto este Adão dormia
os ratos roeram-lhe os miolos,
e das caganitas nasceu a Eva burguesa!
Tu arreganhas os dentes quando te falam d'Orpheu
e pões-te a rir, como os pretos, sem saber porquê.
E chamas-me doido a Mim
que sei e sinto o que Eu escrevi!
Tu que dizes que não percebes;
rir-te-has de não perceberes?
Olha Hugo! Olha Zola, Cervantes e Camões,
e outros que não são nada por te cantarem a ti!
Olha Nietzche! Wilde! Olha Rimbaub e Dowson!
Cesário, Antero e outros tantos mundos!
Beethoven, Wagner e outros tantos génios
que não fizeram nada,
que deixaram este mundo tal qual!
Olha os grandes o que são estragados por ti!
O teu máximo é ser besta e ter bigodes.
A questão é estar instalado.
Se te livras de burguês e sobes a talento, a génio,
a seres alguém,
o Bem que tu fizeres é um décimo de seres fera!
E de que serve o livro e a ciência
se a experiência da vida
é que faz compreender a ciência e o livro?
Antes não ter ciências!
Antes não ter livros!
Antes não ter Vida!
Eu queria cuspir-te a cara e os bigodes,
quando te vejo apalermado p'las esquinas
a dizeres piadas às meninas,

e a gostares das mulheres que não prestam
e a fazer-lhes a corte
e a apalpar-lhes o rabo,
esse tão cantado belo cu
que creio ser melhor o teu ideal
que a própria mulher do cu grande!
E casaste-te com Ela,
porque o teu ideal veio pegado a Ela,
e agora à brocha limpas a calva em pinga
à coca de cunhas p'ró Cunha examinador
do teu décimo nono filho
dezanove vezes parvo!
(É o caso mais exemplar de Constância e fidelidade
a tua história sexual co'a Felisberta,
desde o teu primogénito tanso
'té ao décimo nono idiota.)
'Té no matrimónio te maldigo, infame cobridor!
Espécie de verme das lamas dos pântanos
que de tanto se encharcar em gozos
o seu corpo se atrofiou
e o sexo elefantizado foi todo o seu corpo!
Em toda a parte tu és o admirador
e em toda a parte a tua ignorância
tem a cumplicidade da incompetência
dos que te falam 'té dos lugares sagrados.
Sim! Eu sei que tu és juiz
e qu'inda ontem prometeste a tua amante,
despedindo-a num beijo de impotente,
a condenação dos réus que tivesses
se Ela faltasse à matinée da Boa-Hora!
Pulha! E és tu que do púlpito
d'essa barriga d'Água da Curia
dás a ensinança de trote
aos teus dezanove filhos?!
Cocheiros, contai: dezanove!!!
Zute! bruto-parvo-nada
que Me roubaste tudo:
'té Me roubaste a Vida
e não Me deixaste nada!
nem Me deixaste a Morte!
Zute! poeira-pingo-micróbio
que gemes pequeníssimos gemidos gigantes
grávido de uma dor profeta colossal.
Zute! elefante-berloque parasita do não presta!
Zute! bugiganga-celulóide-bagatela!
Zute, besta!
Zute, bácoro!!
Zute, merda!!!
Em toda a parte o teu papel é admirar,
mas (caso inf'liz)
nunca acertas numa admiração feliz.
Lês os jornais e admiras tudo do princípio ao fim
e se por desgraça vem um dia sem jornais,
tens de ficar em casa nos chinelos
porque nesse dia, felizmente,
não tens opinião pra levares à rua.
Mas nos outros dias lá estás a discutir.
É que a Natureza é compensadora:
quem não tem dinheiro p'ra ir ao Coliseu
deve ter cá fora razões p'ra se rir.
Só te oiço dizer dos outros
a inveja de seres como eles.
Nem ao menos, pobre fadista,
a veleidade de seres mais bruto?
Até os teus desejos são avaros
como as tuas unhas sujas e ratadas.
Ó meu gordo pelintrão,
água-morna suja, broa do outro v'rao!
Os homens são na proporção dos seus desejos
e é por isso que eu tenho a Concepção do Infinito...
Não te cora ser grande o teu avô
e tu apenas o seu neto, e tu apenas o seu esperma?
Não te dói Adão mais que tu?
Não te envergonha o teres antes de ti

outros muito maiores que tu?
Jamais eu quereria vir a ser um dia
o que o maior de todos já o tivesse sido
eu quero sempre muito mais
e mais ainda muito pr'além-demais-Infinito...
Tu não sabes, meu bruto, que nós vivemos tão pouco
que ficamos sempre a meio-caminho do Desejo?
Em toda a parte o bicho se propaga,
em toda a parte o nada tem estalagem.
O meu suplício não é somente de seres meu patrício
ou o de ver-te meu semelhante,
tu, mesmo estrangeiro, és besta bastante.
Foi assim que te encontrei na Rússia
como vegetas aqui e por toda a parte,
e em todos os ofícios e em todas as idades.
Lá suportei-te muito! Lá falavas russo
e eu só sabia o francês.
Mas na França, em Paris - a grande capital,
apesar de fortificada,
foi assolada por esta espécie animal.
E andam p'los cafés como as pessoas
e vestem-se na moda como elas,
e de tal maneira domésticos
que até vão às mulheres
e até vão aos domésticos.
Felizmente que na minha pátria,
a minha verdadeira mãe, a minha santa Irlanda,
apenas vivi uns anos d'Infância,
apenas me acodem longinquamente
as festas ensuoradas do priest da minha aldeia,
apenas ressuscitam sumidamente
as asfixias da tísica-mater,
apenas soam como revoltas
as pistolas do suicídio de meu pai,
apenas sinto infantilmente
no leito de uma morta
o gelo de umas unhas verdes,
um frio que não é do Norte,
um beijo grande como a vida de um tísico a morrer.
Ó Deus! Tu que m'os levaste é que sabias
o ódio que eu lhes teria
se não tivessem ficado por ali!
Mas antes, mil vezes antes, aturar os burgueses da My
Ireland
que estes desta Terra
que parece a pátria deles!
Ó Horror! Os burgueses de Portugal
têm de pior que os outros
o serem portugueses!
A Terra vive desde que um dia
deixou de ser bola do ar
p'ra ser solar de burgueses.
Houve homens de talento, génios e imperadores.
Precisaram-se de ditadores,
que foram sempre os maiores.
Cansou-se o mundo a estudar
e os sábios morreram velhos
fartos de procurar remédios,
e nunca acharam o remédio de parar.
E inda eu hoje vivo no século XX
a ver desfilar burgueses
trezentas e sessenta e cinco vezes ao ano,
e a saber que um dia
são vinte e quatro horas de chatice
e cada hora sessenta minutos de tédio
e cada minuto sessenta segundos de spleen!
Ora bolas para os sábios e pensadores!
Ora bolas para todas as épocas e todas as idades!
Bolas pròs homens de todos os tempos,
e prà intrujice da Civilização e da Cultura!
Eu invejo-te a ti, ó coisa que não tens olhos de ver!
Eu queria como tu sentir a beleza de um almoço pontual
e a f'licidade de um jantar cedinho
co'as bestas da família.

Eu queria gostar das revistas e das coisas que não prestam
porque são muitas mais que as boas
e enche-se o tempo mais!
Eu queria, como tu, sentir o bem-estar
que te dá a bestialidade!
Eu queria, como tu, viver enganado da vida e da mulher,
e sem o prazer de seres inteligente pessoalmente!
Eu queria, como tu, não saber que os outros não valem nada
p'ra os poder admirar como tu!
Eu queria que a vida fosse tão divinal
como tu a supões, como tu a vives!
Eu invejo-te, ó pedaço de cortiça
a boiar à tona d'água, à mercê dos ventos,
sem nunca saber que fundo que é o Mar!
Olha para ti!
Se te não vês, concentra-te, procura-te!
Encontrarás primeiro o alfinete
que espetaste na dobra do casaco,
e depois não percas o sítio,
porque estás decerto ao pé do alfinete.
Espeta-te nele para não te perderes de novo,
e agora observa-te!
Não te escarneças! Acomoda-te em sentido!
Não te odeies ainda qu'inda agora começaste!
Enioa-te no teu nojo, mastodonte!
Indigesta-te na palha dessa tua civilização!
Desbesunta te dessa vermência!
Destapa a tua decência, o teu imoral pudor!
Albarda te em senso! Estriba-te em Ser!
Limpa-te do cancro amarelo e podre!
Do lazareto de seres burro!
Desatrela-te do cérebro-carroça!
Desata o nó-cego da vista!
Desilustra-te, descultiva-te, despole-te,
que mais vale ser animal que besta!
Deixa antes crescer os cornos que outros adornos da
Civilização!
Queria-te antes antropófago porque comias os teus
– talvez o mundo fosse Mundo
e não a retrete que é!
Ahi! excremento do Mal, avergonha-te
no infinitamente pequeno de ti com o teu papagaio:
Ele fala como tu e diz coisas que tu dizes
e se não sabe mais é por tua culpa, meu mandrião!
E tu, se não fossem os teus pais,
davas guinchos, meu saguim!
- Tu és o papagaio de teus pais!
Mas há mais, muito mais
que a tua ignorância-miopia te cega.
Empresto-te a minha Inteligência.
Vê agora e não desmaies ainda!
Então eu não tinha razão?
P'ra que me chamavas doido
quando eu m'enjoava de ti?
Ah! Já tens medo?!
Porque te rias da vida
e ias ensuorar as vrilhas nos fauteuils das revistas
co'as pernas fogo de vistas
das coristas de petróleo?
Porque davas palmas aos compéres e actorecos
pelintras e fantoches
antes do palco, no palco e depois do palco?
Ora dize-Me com franqueza:
Era por eles terem piada?
Então era por a não terem
Ah! Era p'ra tu teres piada, meu bruto?!
Porque mandaste de castigo os teus filhos p'r'ás Belas-Artes
quando ficaram mal na instrução primária?
Porque é que dizes a toda a gente que o teu filho idiota
estuda p'ra poeta?
Porque te casaste com a tua mulher
se dormes mais vezes co'a tua criada?
Porque bateste no teu filho quando a mestra
te contou as indecências na aula?

Não te lembras das que tu fizeste
com a própria mestra de moral?
Ou queres tu ser decente,
tu, que tens dezanove filhos?!
Porque choraste tanto quando te desonraram a filha?
Porque lhe quiseste matar o amante?
Não achas isto natural? Não achas isto interessante?
Porque não choraste também pelo amante?...
Deixa! Deixa! Eu não te quero morto com medo de ti-próprio!
Eu quero-te vivo, muito vivo, a sofrer!
Não te despetes do alfinete!
Eu abro a janela pra não cheirar mal!
Galopa a tua bestialidade
na memória que eu faço dos teus coices,
cavalga o teu insecticismo na tua sela de D. Duarte!
Arreia-te de Bom-Senso um segundo! peço-te de joelhos.
Encabresta-te de Humanidade
e eu passo-te uma zoologia para as mãos
p'ra te inscreveres na divisão dos Mamíferos.
Mas anda primeiro ao Jardim Zoológico!
Vem ver os chimpanzés! Acorpanzila-te neles se te ousas!
Sagra-te de cu-azul a ver se eles te querem!
Lá porque aprendeste a andar de mãos no ar
não quer dizer que sejas mais chimpanzé que eles!
Larga a cidade masturbadora, febril,
rabo decepado de lagartixa,
labirinto cego de toupeiras,
raça de ignóbeis míopes, tísicos, tarados,
anémicos, cancerosos e arseniados!
Larga a cidade!
Larga a infâmia das ruas e dos boulevards
esse vaivém cínico de bandidos mudos
esse mexer esponjoso de carne viva
Esse ser-lesma nojento e macabro
Esse S ziguezague de chicote auto-fustigante
Esse ar expirado e espiritista...
Esse Inferno de Dante por cantar
Esse ruído de sol prostituído, impotente e velho
Esse silêncio pneumónico
de lua enxovalhada sem vir a lavadeira!
Larga a cidade e foge!
Larga a cidade!
Vence as lutas da família na vitória de a deixar.
Larga a casa, foge dela, larga tudo!
Nem te prendas com lágrimas, que lágrimas são cadeias!
Larga a casa e verás - vai-se-te o Pesadelo!
A família é lastro, deita-a fora e vais ao céu!
Mas larga tudo primeiro, ouviste?
Larga tudo!
– Os outros, os sentimentos, os instintos,
e larga-te a ti também, a ti principalmente!
Larga tudo e vai para o campo
e larga o campo também, larga tudo!
– Põe-te a nascer outra vez!
Não queiras ter pai nem mãe,
não queiras ter outros nem Inteligência!
A Inteligência é o meu cancro
eu sinto-A na cabeça com falta de ar!
A Inteligência é a febre da Humanidade
e ninguém a sabe regular!
E já há Inteligência a mais pode parar por aqui!
Depois põe-te a viver sem cabeça,
vê só o que os olhos virem,
cheira os cheiros da Terra
come o que a Terra der,
bebe dos rios e dos mares,
- põe-te na Natureza!
Ouve a Terra, escuta-A.
A Natureza à vontade só sabe rir e cantar!
Depois, põe-te a coca dos que nascem
e não os deixes nascer.
Vai depois pla noite nas sombras
e rouba a toda a gente a Inteligência
e raspa-lhos a cabeça por dentro

co'as tuas unhas e cacos de garrafa,
bem raspado, sem deixar nada,
e vai depois depressa muito depressa
sem que o sol te veja
deitar tudo no mar onde haja tubarões!
Larga tudo e a ti também!
Mas tu nem vives nem deixas viver os mais,
Crápula do Egoísmo, cartola d'espanta-pardais!
Mas hás-de pagar-Me a febre-rodopio
novelo emaranhado da minha dor!
Mas hás-de pagar-Me a febre-calafrio
abismo-descida de Eu não querer descer!
Hás-de pagar-Me o Absinto e a Morfina
Hei-de ser cigana da tua sina
Hei-de ser a bruxa do teu remorso
Hei-de desforra-dor cantar-te a buena-dicha
em águas fortes de Goya
e no cavalo de Tróia
e nos poemas de Poe!
Hei-de feiticeira a galope na vassoura
largar-te os meus lagartos e a Peçonha!
Hei-de Vara Magica encantar-te Arte de Ganir
Hei-de reconstruir em ti a escravatura negra!
Hei-de despir-te a pele a pouco e pouco
e depois na carne-viva deitar fel,
e depois na carne-viva semear vidros,
semear gumes,
lumes,
e tiros.
Hei-de gozar em ti as poses diabólicas
dos teatrais venenos trágicos do persa Zoroastro!
Hei-de rasgar-te as virilhas com forquilhas e croques,
e desfraldar-te nas canelas mirradas
o negro pendão dos piratas!
Hei-de corvo marinho beber-te os olhos vesgos!
Hei-de bóia do Destino ser em brasa
e tua náufrago das galés sem horizontes verdes!
E mais do que isto ainda, muito mais:
Hei-de ser a mulher que tu gostes,
hei-de ser Ela sem te dar atenção!
Ah! que eu sinto claramente que nasci
de uma praga de ciúmes.
Eu sou as sete pragas sobre o Nilo
e a Alma dos Bórgias a penar!...
de José Almada Negreiros
poeta sensacionista
e Narciso do Egipto

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

O que é um Barista


Barista é o especialista responsável pelo manuseio da máquina de espresso, é o detentor do conhecimento técnico sobre o café servido e o criador das diversas bebidas que têm como ingrediente básico o café. Aqui, um vídeo da TV UOL com o barista Marcelo Babinski, contando porque nessa profissão não basta saber "tirar" um espresso.


Dica da leitora Flávia Barros


Nossa leitora Flávia Barros indica esse vídeo-aula da TV UOL, sobre como tirar um espresso perfeito. A aula é dada pela barista Cecília Megumi Sanada, da cafeteria paulistana Octavio Café, e está disponível também no site da Revista Espresso (www.revistaespresso.com.br)


quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Música do dia - Ilusión - Marisa Monte















A sonoridade da mexicana Julieta Venegas com o timbre e a voz ímpar de Marisa Monte em "Ilusión", a música do dia:




Café gelado na Primavera


O Café & Conversa recebeu da leitora Alê dos Santos, a sugestão para visitar a Gelateria Parmalat, que tem como carro chefe, o café gelado.

A idéia da casa é "surpreender pelo clima agradável da Gelateria Parmalat" com um convite aos amantes do café, com um "breakfast e o lanchinho da tarde".

No cardápio, conta Alê, "delicias como Caffé Macadâmia, que é o café gelado, batido com leite e um toque de macadâmia."

Outra novidade, conforme mostra a foto, é o Scossa Cioccolato Caffé – café com sorvete de chocolate, chantilly e cobertura de chocolate.

A Gelateria Parmalat também tem na vastíssima carta de Latte Caffé – café com sorvete de leite Parmalat, chantilly e cobertura de caramelo.

Agora, se você é "tradicional" a gelateria não esquece o café quente, os espressos com chantilly, cappuccino, espresso puro e café com leite.

A Gelateria Parmalat fica na 108 Sul, comercial.

Romoaldo de Souza

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Música do dia - Hadouk Trio Hijaz



Café com laranja


Esta receita é para quem gosta de misturar a adstringência da laranja com o sabor marcante do café.

Ingredientes

- 500ml de suco de laranja
- 6 cubos de gelo de café
- 3 colheres de sopa de crema de leite
- 3 colheres de sopé de açúcar.

Modo de preparo - Coloque todos os ingredientes no liquidificador e bata até desmanchar as pedras de gelo de café.

Feriado no cafezal



Ricardo Icassatti Hermano 


Pensei em usar o feriado para ir ao cinema e relaxar. Havia ganho duas entradas num sorteio. Mas, nem tudo sai do jeito que a gente imagina. Fui mais uma vítima do famoso "já que ..."

Já que eu estava no Embracine, resolvi avaliar o café servido na praça dos cinemas. Uma pequena loja chamada Café Rayuela (http://www.rayuela.com.br/cafe.html#) que tem até "carta de cafés", apesar de servir apenas a marca Cristina, que já foi muito boa, hoje nem tanto. A tal "carta" na verdade lista os tipos de café que são preparados no local. Para minha surpresa, preparam até o espresso ristretto.

Rayuela Embracine

O Rayuela também expõe pacotes de café de marcas importadas e procedência variada, que caberiam numa "carta de cafés". Pedi para ver os pacotes e encontrei café jamaicano, haitiano, peruano, etíope e guatemalteco, além das marcas nacionais Octavio e Santo Grão e até dois Starbucks. Mas, segundo a atendente me explicou, os belos pacotes são apenas para decoração ...

Pedi um espresso e perguntei à atendente se ela havia feito o curso de barismo. A moça me disse que uma das proprietárias do estabelecimento (Flávia Monteiro) é barista e havia dado um treinamento ... hummmmm ... já vi esse filme antes e não gostei.

Explico o porquê. Um barista tem que ser o responsável pelo preparo adequado do café. Ao aplicar "treinamentos" e transferir a sua responsabilidade intransferível, o barista está sujando o bom nome da profissão. Seria algo como um cirurgião cardíaco dar treinamento sobre transplante aos atendentes do hospital e deixar as cirurgias nas mãos deles.

Resultado: o espresso estava sofrível. Passou tempo demais coando na máquina e queimou. Nem tive coragem de experimentar um ristretto ou um cappuccino. Fui obrigado a cometer o pecado mortal de adoçar o meu espresso.

Saindo do cinema, dei uma passada na Livraria Cultura e encontrei a segunda edição ampliada do "Guia do Barista, da origem do café ao espresso perfeito". O guia foi escrito por Edgard Bressani, o primeiro juiz brasileiro a conquistar o certificado do World Barista Championship, que organiza o Campeonato Mundial de Barista. Leitura obrigatória para baristas e apaixonados por café que queiram conhecer mais sobre essa formidável bebida.

Capa do livro

Este livro seria leitura bastante útil ao Rayuela. Um exemplo: à página 26, Edgard salienta que "nenhum barista deve trabalhar em uma máquina de espresso sem ter bons conhecimentos sobre grãos, cultivo, colheita e beneficiamento, princípios da torra e da moagem".

Ele ainda acrescenta que "é fundamental que esse profissional conheça profundamente o café servido em sua loja para que possa satisfazer a curiosidade dos consumidores, cada vez mais conhecedores do assunto".

E esse é o propósito do blog Café & Conversa, informar os consumidores para que não comprem gato por lebre. Montar cafeterias bem decoradas, expor máquinas de espresso brilhantes e elaborar um cardápio gigantesco de guloseimas são artifícios que podem até enganar o consumidor leigo. Mas, quem lê este blog, tem paladar e quer qualidade não cai facilmente nessas armadilhas.

Para que esse quadro mude, só depende de nós, consumidores. Rejeite aquilo que não tem qualidade e force a mudança. Nós estaremos aqui servindo de cobaias.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

A Música do Dia - Dueling Banjos - Eric Weissberg


Nesta segunda-feira, feriado para servidores públicos, a recomendação do Café & Conversa é esta cena do filme Deliverance, que no Brasil recebeu o entranho título de Amargo Pesadelo (1972).


Um grupo de rapazes resolve descer a correnteza do rio Chattooga, no Estado de Geórgia. A idéia dos personagens vividos por Jon Voight, Burt Reynolds, Ned Beatty e Ronny Cox é aproveitar a última oportunidade, porque naquela região será construída uma grande barragem, acabando com a prática da canoagem.

Dueling Banjos (Eric Weissberg) é a cena em que um menino autista duela com seu banjo com um forasteiro que toca violão de seis cordas.

Para esta imagem do duelo já li diferentes versões. Uma diz que o menino que toca o banjo não é ator. Seria um rapaz autista que o diretor do filme, John Boorman teve a “sacada” de encaixá-lo no roteiro de James Dickey bastante violento.

Há quem comente que na verdade, o tocador de banjo é ator e tem um restaurante. Polêmica, à parte, o que interessa é esse imperdível diálogo entre um banjo e um violão.

http://videolog.uol.com.br/video.php?id=400555

Romoaldo de Souza

domingo, 25 de outubro de 2009

Café gelado para uma tarde quente



- 1 copo de leite
- 1/2 copo de gelo moído
- 1 colher de sopa café
- 2 colheres de açúcar

Bater no liquidificador ou em uma coqueteleira. Sirva-se!

PS: pode experimentar adicionando uma colher de sopa de sorvete Häagen-Dazs. Preferencialmente de doce de leite.

Romoaldo de Souza

Distrito 9


Hoje almocei com a imensa filharada e, em seguida, fomos assistir ao comentado Distrito 9. Já havia lido as críticas, mas o filme supera qualquer expectativa.

Quem estiver esperando ficção científica até vai encontrar e não se decepcionará, mas o forte do filme são as relações entre humanos e dos humanos com os milhões de alienígenas que por motivo ignorado estão presos em nosso planeta. Mais especificamente em um favelão nos arredores de Johannesburg, África do Sul. Em regime de total segregação.

Cartaz do filme

O diretor, Neill Blomkamp, mostra com clareza desconcertante como as nossas perspectivas mudam quando estamos na pele do outro. Literalmente.

Utilizando na medida certa os efeitos computadorizados, ele pega pesado no visual e consegue aguçar nossos sentidos a ponto de quase sentirmos as dores, os sabores e os aromas nas cenas.

Não se assuste com algumas cenas. Você vai pensar que está vendo um noticiário sobre a guerra entre traficantes e polícia nas favelas do Rio de Janeiro. É impressionante como todas as favelas do mundo se parecem.

"Aí malandro! Perdeu ..."

Saímos do cinema com a confirmação de que o ser humano só consegue se colocar realmente na pele do outro depois de perder tudo, as referências, as ilusões e a própria identidade. Somente quando atingir o limiar da morte estará apto a encontrar os pontos comuns entre ele e o outro. Os pontos em que não existem as diferenças e onde podem ser iguais.

Distrito 9 é um excelente filme.

Ricardo Icassatti Hermano

A Música do Dia - Lucille - B. B. King


Romoaldo de Souza

B.B. King (Riley Ben King) costuma chamar suas guitarras de Lucille. O hábito vem desde o inverno de 1949, quando o rei do blues estava se apresentando no Arkansas, e ocorreu um incêndio na casa de shows.

King correu para fora da casa de espetáculos, mas esqueceu sua Gibson acústica lá dentro. Mesmo contra a vontade dos bombeiros, entrou e pegou o instrumento musical intacto.

Escapou por um triz. Quando soube que um dos motivos da briga que provocou as chamas era uma mulher chamada Lucille, passou a chamar suas guitarras de Lucille.


É com sua Lucille
que B.B. King toca essa Lucille, a música deste domingo que merece um excelente café-da-manhã!



sábado, 24 de outubro de 2009

Grenat Cafés Especiais


Ricardo Icassatti Hermano

Como interpreta maravilhosamente a indispensável cantora e compositora de blues e jazz, Etta James, At Last ... encontramos uma cafeteria que entrega o que promete.

Romoaldo e eu fomos hoje pela manhã à cafeteria Grenat Cafés Especiais (www.grenatcafes.com.br), ali na CLS 201, Bloco A, loja 5, fone: 3322-0061, para uma avaliação. A cafeteria abre de segunda a sábado. De segunda a sexta, das 9h às 20h, e no sábado abre às 10h. Estão estudando a possibilidade de abrir mais cedo no sábado com serviço específico de café-da manhã. A escolha inicial era o vizinho Café Cornhill, na CLS 202, mas como só abriria às 13h decidimos pela Grenat. E foi um golpe de sorte.

Grenat Cafés Especiais

A cafeteria ocupa uma loja e tem dois ambientes, um no térreo e outro na sobreloja. Com decoração caprichada, a Grenat tem atendimento simpático, uma ampla vitrine, a benção do ar-condicionado e o jornal local do dia.

Como todo estabelecimento que tem "café" no nome deveria ser, a Grenat Cafés Especiais é totalmente focada na bebida, como nos confidenciou a proprietária e barista Gabriela Sturba. Ali, tomaram o cuidado de sequer vender bebidas alcoólicas isoladamente, que apenas fazem parte de bebidas elaboradas com café.

Gabriela em ação

A cafeteria disponibiliza ao apreciador uma invejável variedade de marcas de cafés gourmet e formas de preparo. Lá - e acredito que seja o único lugar em Brasília - você poderá degustar o delicioso espresso risttretto, muito comum no Sul da Itália. Menor ainda que o espresso curto, o risttretto concentra o sabor e revela a cremosidade e a doçura em apenas 20ml.

Espresso Risttretto

Na Grenat você poderá beber seu café feito na máquina de espresso, coado na forma americana, na forma brasileira, na prensa francesa e na moca. Também vai encontrar cafeteiras manuais e elétricas, acessórios diversos, além do café em grão e/ou moído para exercer seus dons de barista em casa. O foco em café chega ao ponto de vender cosméticos com base em café.

Dentre as cafeteiras à venda temos a tradicional French Press ou, em francês, Cafitiére à Piston, que ganhou até uma semana comemorativa, iniciada ontem (23) e vai até o próximo dia 31.

A Semana da Prensa Francesa faz parte do calendário de eventos comemorativos do Ano da França no Brasil e conta com a participação de 16 cafeterias em todo o país. Durante essa semana, essas cafeterias servirão café preparado na prensa francesa. Em Brasília, a Grenat é a única participante. Uma oportunidade rara para quem quiser experimentar o melhor café coado possível ou aprender como se faz com a barista Gabriela Sturba.

Na Grenat também é possível comprar uma novidade: a cafeteira Aero Press, invenção americana que segue o mesmo princípio de pressão manual da prensa francesa, através de um êmbolo, mas sem deixar resíduos (borra). A diferença está no filtro descartável de papel. Na prensa francesa o filtro é uma peneira finíssima de aço inoxidável. A cafeteira parece uma seringa avantajada e tem capacidade de preparar até quatro xícaras. Estamos agendando um teste.

Aero Press

Os espressos servidos são feitos a partir de duas marcas apenas: Arte e o blend próprio que leva o nome da cafeteria, Grenat. Experimentamos os dois e nos pareceu que o blend próprio ainda requer melhoramentos. Com acidez mediana, boa crema e pouco corpo, não chegou a decepcionar, mas na comparação com o outro perdeu. O café Arte nos agradou mais. Encorpado, cremoso, acidez equilibrada, o café nos surpreendeu pela suavidade e complexidade de sabores e doçura. Até porque experiências anteriores com este mesmo blend, há cerca de um ano, não foram tão felizes.

As demais marcas podem ser apreciadas em outras formas de preparo.

O cardápio de cafés ainda inclui variedades de cappuccino e outras misturas tradicionais com café. No quesito comida é preciso destacar que os pães utilizados pela Grenat são oriundos da famosa padaria La Boulangerie (CLS 106). Você poderá escolher entre pães tradicionais, integrais e croissants que derretem na boca. Não deixe de experimentar o crostino, feito com fatias torradas de pão ciabatta cobertas por tomate, queijo coalho e pesto de manjericão. Também peça uma porção de pastéis de palmito e deixe para começar a dieta na segunda-feira ...

O Café & Conversa aplaude e recomenda a cafeteria Grenat Cafés Especiais.

Comecei este post com Etta James e vou terminar com essa deusa do blues. Com vocês, Etta James cantando At Last ...



A Música do Dia - So What - Miles Davis & John Coltrane


Do extraordinário Kind of Blue, Café & Conversa recomenda hoje, o dueto do trompete de Miles Davis com o tenor de John Coltrane, nessa inebriante So What. Aumente o volume do seu som, sirva um café e se delicie.

O genial trabalho de Miles Davis completou, recentemente, 50 anos. Apesar do atraso da burocracia petista, em autorizar a captação de recursos, por meio da Lei Rouanet, o cinqüentenário de Kind of Blue faz escalas no Brasil com estrelas como o baixista Ron Carter e o saxofonista Wayne Shorter. Os shows serão realizados em São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília.

Miles Davis era tão genial que chegou a dividir a mesma amante com Jean-Paul Sartre. Certa vez, a convite do filósofo francês, o trompetista foi a Paris encontrar-se com Juliette Gréco, a musa do existencialismo, para quem Miles Davis tocava Bach no banheiro da suíte de um hotel.



Romoaldo de Souza

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

A Música do Dia - Take Five - Dave Brubeck Quartet


Para quem já tinha se deliciado com Take Five, o carro chefe de Time Out, um dos mais memoráveis discos de jazz, essa versão que Café & Conversa mostra hoje, destaca mais o refinado sax alto de Paul Desmond.

Gravada ao vivo, em 1961, essa Take Five mantém a mesma marcação em 5/4.

Em Time Out, recém completados 50 anos, Joe Morello faz o inesquecível solo de bateria. Aqui, Desmond está irretocável:


Romoaldo de Souza