Há alguns anos tomei conhecimento de um movimento iniciado na Itália que havia se tornado uma Associação Internacional chamada Slow Food. O nome já diz quase tudo o que esse movimento representa, uma contraposição ao estressante e sem graça fast food. Nas próprias palavras da Associação:
"O Slow Food está justamente na encruzilhada entre a ética e o prazer, entre a ecologia e a gastronomia. Ele se opõe à padronização do paladar, ao poder irrestrito das multinacionais, à agricultura industrializada e à estupidez da vida agitada. Ele restaura a dignidade cultural do alimento e os ritmos mais lentos da convivência à mesa. É um universo de pessoas que trocam conhecimentos e experiência. Ele acredita que todo prato que comemos deve ser o resultado de escolhas feitas nos campos, a bordo de embarcações, em vinhedos, em escolas e parlamentos."
Uma proposta tão sonhadora, tão lúdica, tão romântica, só poderia ter surgido na Itália, onde a comida é tratada com reverência e onde as mamas e nonas são guardiãs de segredos culinários que são um tesouro da família passado somente às filhas e netas. Uma verdadeira máfia ...
"Non se meta com mia mama, capicce?"
Sendo eu descendente de italianos e um bocado sonhador e romântico, é claro que procurei me associar ao Slow Food. Mas, naquela época o movimento ainda estava restrito a poucos países europeus. Assim, me resignei a acompanhar as notícias ocasionais.
Há pouco tempo assisti a um programa culinário na TV que falou do Slow Food e deu o endereço do site (www.slowfood.com). Acessei apenas para ver se havia algumas receitas e tive a grata surpresa de saber que o Brasil já abrigava uma entidade nacional e uma Convivia em Brasília!
Hoje recebi a minha carteirinha de filiado e um manual ensinando que o movimento cresceu e não apenas em tamanho. O Slow Food foi fundado em 1986 como uma associação enogastronômica (vinhos e alimentos) pelo ativista alimentar Carlo Petrini na pequena cidade de Bra, situada no Piemonte, norte da Itália. É lá que também acontece, a cada dois anos, a feira internacional Cheese, só de queijos e leite.
O Paraíso deve ser mais ou menos assim
Presente em 132 países, com mais de mil Convivias e 85 mil associados, aquele pequeno movimento de idealistas do sabor e da vida digna ampliou seu objetivo inicial para abranger a qualidade de vida e, como consequência lógica, a própria sobrevivência do planeta em que vivemos.
Além de comer e beber muito bem, os associados se comprometem com a proteção dos alimentos tradicionais e sustentáveis de qualidade, dos ingredientes primários, na conservação de métodos de cultivo e processamento e na defesa da biodiversidade, tanto de espécies cultivadas como silvestres.
Batatinha quando nasce ... vai parar no meu caldeirão
O Slow Food organiza e constrói redes que conectam produtores e co-produtores; educa consumidores; promove seminários locais e internacionais, feiras, eventos e mercados; e atua politicamente junto a parlamentos de todo o mundo. Além disso, criou a editora Slow Food Editore e a Fundação Slow Food para a Biodiversidade, que tem promovido projetos como a Arca do Gosto, as Fortalezas e o Terra Madre, voltados à conservação da nossa preciosa herança alimentar.
Agora, o blog Café & Conversa tem a honra e a satisfação de fazer parte dessa enorme rede mundial e defender os mesmos princípios que a norteiam. Esse é o nosso desejo e essa é a nossa missão.
Ricardo Icassatti Hermano
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