terça-feira, 27 de outubro de 2009

Feriado no cafezal



Ricardo Icassatti Hermano 


Pensei em usar o feriado para ir ao cinema e relaxar. Havia ganho duas entradas num sorteio. Mas, nem tudo sai do jeito que a gente imagina. Fui mais uma vítima do famoso "já que ..."

Já que eu estava no Embracine, resolvi avaliar o café servido na praça dos cinemas. Uma pequena loja chamada Café Rayuela (http://www.rayuela.com.br/cafe.html#) que tem até "carta de cafés", apesar de servir apenas a marca Cristina, que já foi muito boa, hoje nem tanto. A tal "carta" na verdade lista os tipos de café que são preparados no local. Para minha surpresa, preparam até o espresso ristretto.

Rayuela Embracine

O Rayuela também expõe pacotes de café de marcas importadas e procedência variada, que caberiam numa "carta de cafés". Pedi para ver os pacotes e encontrei café jamaicano, haitiano, peruano, etíope e guatemalteco, além das marcas nacionais Octavio e Santo Grão e até dois Starbucks. Mas, segundo a atendente me explicou, os belos pacotes são apenas para decoração ...

Pedi um espresso e perguntei à atendente se ela havia feito o curso de barismo. A moça me disse que uma das proprietárias do estabelecimento (Flávia Monteiro) é barista e havia dado um treinamento ... hummmmm ... já vi esse filme antes e não gostei.

Explico o porquê. Um barista tem que ser o responsável pelo preparo adequado do café. Ao aplicar "treinamentos" e transferir a sua responsabilidade intransferível, o barista está sujando o bom nome da profissão. Seria algo como um cirurgião cardíaco dar treinamento sobre transplante aos atendentes do hospital e deixar as cirurgias nas mãos deles.

Resultado: o espresso estava sofrível. Passou tempo demais coando na máquina e queimou. Nem tive coragem de experimentar um ristretto ou um cappuccino. Fui obrigado a cometer o pecado mortal de adoçar o meu espresso.

Saindo do cinema, dei uma passada na Livraria Cultura e encontrei a segunda edição ampliada do "Guia do Barista, da origem do café ao espresso perfeito". O guia foi escrito por Edgard Bressani, o primeiro juiz brasileiro a conquistar o certificado do World Barista Championship, que organiza o Campeonato Mundial de Barista. Leitura obrigatória para baristas e apaixonados por café que queiram conhecer mais sobre essa formidável bebida.

Capa do livro

Este livro seria leitura bastante útil ao Rayuela. Um exemplo: à página 26, Edgard salienta que "nenhum barista deve trabalhar em uma máquina de espresso sem ter bons conhecimentos sobre grãos, cultivo, colheita e beneficiamento, princípios da torra e da moagem".

Ele ainda acrescenta que "é fundamental que esse profissional conheça profundamente o café servido em sua loja para que possa satisfazer a curiosidade dos consumidores, cada vez mais conhecedores do assunto".

E esse é o propósito do blog Café & Conversa, informar os consumidores para que não comprem gato por lebre. Montar cafeterias bem decoradas, expor máquinas de espresso brilhantes e elaborar um cardápio gigantesco de guloseimas são artifícios que podem até enganar o consumidor leigo. Mas, quem lê este blog, tem paladar e quer qualidade não cai facilmente nessas armadilhas.

Para que esse quadro mude, só depende de nós, consumidores. Rejeite aquilo que não tem qualidade e force a mudança. Nós estaremos aqui servindo de cobaias.

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