Ricardo Icassatti Hermano
Compare uma conversa regada a bebida alcoólica e outra conversa acompanhada de café. Qual é a mais interessante e duradoura? Claro que é a conversa com café. A responsável por isso é uma substância chamada cafeína, uma droga poderosa, mas inofensiva e muito saborosa.
Ao contrário do que o próprio nome sugere, a cafeína não está presente apenas no café. Ela faz parte dos chás e do chocolate, é adicionada a refrigerantes e, mais recentemente, às chamadas “bebidas energéticas”, que exageram na dosagem.
A cafeína é um composto químico bastante estudado pela ciência: a trimetilxantina ou C8H10N4O2, que atua diretamente no sistema nervoso central dos humanos, estimulando o sistema normal de vigília, aumentando a atenção, a concentração e a memória.
Fórmula da cafeína
Uma xícara média de café coado ou uma xícara de espresso pode deixar uma pessoa desperta e produtiva por um período que varia de três a seis horas, sem grandes riscos e com efeitos colaterais leves. Levando-se em conta também a idade, o peso e a capacidade do fígado da pessoa de processar a substância.
Como qualquer estimulante, não se pode exagerar no consumo. O limite de ingestão é 150mg por quilo de uma pessoa. Ou seja: uma pessoa de 50 quilos pode morrer ao ingerir em um dia 7,5 gramas de cafeína, algo próximo a 100 latinhas de energético. Mais de 500mg de cafeína – ou três xícaras de café expresso forte – podem levar a um processo de intoxicação.
Assim, é melhor consumir várias doses pequenas em intervalos de duas horas, pois a cafeína age rápido, mas, em três horas, sua presença no organismo cai pela metade. Se você repor a cafeína antes disso, consegue manter a adenosina longe dos receptores cerebrais e se mantém alerta.
A adenosina é a grande responsável pela sensação de sono. Esse neurotransmissor, que se acumula no cérebro ao longo do dia, diminui a atividade dos neurônios e dilata os vasos sanguíneos. O que a cafeína faz é impedir a ação da adenosina, dando uma turbinada na atividade neural e voltando a contrair os vasos sanguíneos. É por isso que muitos remédios para dor de cabeça trazem cafeína na sua formulação.
Não é por acaso que qualquer conversa fica animada. O que levou o café a ser utilizado como aditivo para rituais religiosos ou para estudar e trabalhar noite adentro. Na Inglaterra, os homens trocavam a bebedeira nos pubs por empolgadas reuniões em cafeterias, a ponto de, no século 19, o rei proibir o consumo de café por medo de conspirações.
Como se vê, não é de hoje que o "rei" da hora tenta impedir a liberdade de expressão, a reunião de pessoas inteligentes, a livre troca de conhecimento e o direito de informar e ser informado ...
Desde então as cafeterias ficaram menos perigosas - para os governantes -, mas não menos animadas. Durante boa parte dos séculos XIX e XX, as cafeterias eram o ponto de encontro obrigatório de intelectuais, filósofos, artistas, escritores, pensadores, e serviram de cenário para obras de arte e momentos que entraram para a história.
Hoje em dia, as cafeterias são mais democráticas, mais populares. Ainda bem, porque mais gente tem acesso a essa delícia. Mas, as cafeterias ainda reúnem cabeças pensantes em torno de incontáveis xícaras de café e sua substância mágica, aguçante das mentes e dos corações.
E, francamente, quem aguenta conversa de bêbado?
2 comentários:
Hummmmm, agora tenho a convicção "científica" do porquê certa conversa, regada a Sto. Grão em plena Livraria Cultura do Recife, ficou tão registrada em minha memória. Será "culpa" do café??? :)
Pode acreditar que a Santa Cafeína faz milagres ... (rs)
Postar um comentário