sexta-feira, 4 de março de 2011

O pen drive da minha filha - "Black Coffee" - Ella Fitzgerald


Romoaldo de Souza

Você sai de casa, pega o carro disposto a tomar um espresso especialmente tirado por um barista que sabe quase tudo daquilo que está fazendo. Ele comenta a temperatura, fala da acidez, do corpo do café. Grãos selecionados. Torra no ponto.

O barista orienta que a água com gás deve ser tomada antes do espresso, para ajudar a limpar as papilas gustativas... Atendimento de primeira. Pronto! Meu paraíso predileto, você pensa. Quando de repente...

- When I was young. It seemed that life was so wonderful. A miracle, oh it was beautiful, magical. And all the birds in the trees. Well they'd be singing so happily. Oh joyfully, oh playfully watching me.

Nada contra as meninas no videoclipe do Supertramp, mas The Logical pode ser música para uma sorveteria infanto-juvenil, daquelas que servem milk shake de Ovomaltine. Numa cafeteria requintada que se preze, o som é outro.

2 bolas de sorvete de creme, 4 colheres de calda de chocolate,
1 copo de leite e 8 colheres de ovomaltine

Aí você pode até perguntar: “Sim, mas existe trilha sonora apropriada para cafeterias?”. Existe. Dependendo do ambiente, do horário de funcionamento, da localização, um jazz cai bem. Blues, preferencialmente instrumentais, marcam o ambiente. Um lounge. Bossa Nova. Agora Supertramp, Eagle, Kool & The Gang, Ana Carolina fazem música para outro ambiente, não para uma cafeteria.

Sabe que, dia desses, estava tomando um espresso daqueles cujo retrogosto marcam o dia. Daqueles espressos que você sai da cafeteria levando as boas recordações, pensando nas pessoas que estavam ao seu lado, na mesa em frente. Aquela jovialidade toda. Recorda até uma frase da infância: Ah se os jovens soubessem e os velhos pudessem ...

Agora, voltando para dentro da cafeteria. Imagens, pensamentos, gente, objetos passando em minha mente e, sem mais nem menos, começo a escutar algo como Last night I dreamt of San Pedro”. Não me contive. Parei a xícara na altura do peito. “Afinei” os ouvidos e constatei. No play da cafeteria tocava Madonna aos berros: “Just like I'd never gone, I knew the song. A young girl with eyes like the desert. It all seems like yesterday, not far away”.

Jesus amado!, pensei. Amado pela Madonna, claro! Assim com aquele jeito de cliente desconfortado, chamo a proprietária e não é que a desculpa foi a mais inusitada que jamais escutei?

- Isso é o pen drive da minha filha. Tem de tudo. Jazz, samba, aquela menina... (Adriana) Calcanhoto. É uma ‘mistureba” só - Pedi a conta, antes que minha paciência contaminasse o retrogosto do café.

Paguei a conta, e sai assoviando uma letra de Paul Francis Webster, interpretada magistralmente por Ella Fitzgerald: Now a man is born to go a lovin' A woman's born to weep and fret”. Trilhas sonoras em cafeterias são para quem entende do riscado. Não é para serem misturados com as músicas que estão no pen drive da filha que gosta de Supertramp. Nada contra as filhas. Especialmente as bonitas ...


Black Coffee

(Sonny Burke e Paul Francis Webster)


I'm feeling mighty lonesome

Haven't slept a wink

I walk the floor and watch the door

And in between I drink

Black Coffee

Love's a hand me down broom

I'll never know a Sunday

In this weekday room


I'm talking to the shadows

1 o'clock to 4

And Lord, how slow the moments go

When all I do is pour

Black Coffee

Since the blues caught my eye

I'm hanging out on Monday

My Sunday dreams to dry


Now a man is born to go a lovin'

A woman's born to weep and fret

To stay at home and tend her oven

And drown her past regrets

In coffee and cigarettes


I'm moonin' all the morning

mournin' all the night

And in between it's nicotine

And not much heart to fight

Black Coffee

Feelin' low as the ground

It's driving me crazy, this waiting for my baby

To maybe come around


My nerves have gone to pieces

My hair is turning gray

All I do is drink black coffee

Since my man's gone away



3 comentários:

Anônimo disse...

Muito bom o post!
Mas Supertramp é bem legal!
O que vc tem contra a banda?
E nem todo mundo tem feeling pra saber qual música combina com café!
I see you Romoaldo de Souza.

Romoaldo de Souza disse...

Absolutamente, nada contra Supertramp. O sentido do post foi dizer - e que pena que parece que não consegui - que cafeteria não é casa de baladas. Cafeteria é um lugar mais introspectivo, mais internalizador. Supertramp e os acorde que tocam, produz uma música mais extrovertida, mais para fora... Combina bem com um vesperal, uma tertúlia.

Romoaldo de Souza

Eliane Raye disse...

Amo Supertramp, mas sinceramente, existe sim um estilo de música ideal para cada situação. Sou movida à música e não consigo escrever uma linha sequer se não estiver embalada por uma boa trilha sonora. Concordo plenamente com você, embora escutar Ella me incline a dizer que ela cabe em qualquer situação onde o bom gosto esteja presente. Com um excelente café então...hum...

beijos