terça-feira, 9 de agosto de 2011

Morte na Esplanada - Capítulo 20

Ricardo Icassatti Hermano

Último capítulo ... Trilha sonora abaixo. Considerações ao final : )




Morte na Esplanada

Capítulo 20

O delegado Alexandre Dantas reuniu toda a equipe, incluindo o médico legista Dr. Hamilton. Decisões importantes precisavam ser tomadas. A partir daquele dia, a vida de todos jamais seria a mesma, qualquer que fosse a decisão. Ele fez um relato detalhado das conversas que tivera com a dupla do Café & Conversa e com o Padre Avellar. Não apenas as que se seguiram logo após o atentado, mas outra ocorrida um dia antes.

Na semana seguinte, a jornalista Mércia Trancoso receberia os prêmios com que tanto sonhara. Toda a imprensa brasileira e os correspondentes estrangeiros estariam naquele evento de proporção gigantesca. Após a premiação, com transmissão ao vivo na TV paga e pela internet, haveria um jantar para três mil pessoas e, em seguida, um show com a banda do momento.

Devido ao "sucesso" midiático da investigação sobre o assassinato da ministra Sueli Sandoval, a famigerada SS, surgiu um inesperado e inusitado convite da Presidência da República. O presidente tinha o péssimo hábito de pegar carona no sucesso alheio para sugar popularidade. Como estava em plena campanha eleitoral para fazer seu sucessor, o descaramento habitual havia saltado para o abuso completo.

Aliás, uma sucessora. Seu candidato ideal havia sido abatido em pleno vôo com a revelação dos vídeos das orgias com dinheiro público. Buscou no seu Ministério um nome novo, que ainda não estivesse contaminado com as mazelas do seu partido. De todo o governo e dos quadros do partido, só havia restado aquela ministra com fama de durona. Logo, suas mentiras também apareceram, mas era tarde demais.

O presidente infligia descaradamente a legislação eleitoral promovendo comícios totalmente ilegais e imorais, onde uma claquete contratada era postada a frente de um enorme palanque. Grades e policiamento ostensivo mantinham longe o povo de verdade. Sobre o palanque uma renca de políticos desvertebrados que se dispunham ao ridículo de ficar sentados numa espécie de Escolinha do Professor Raimundo, assistindo a performance criminosa do presidente. A Justiça Eleitoral nem se coçava.  

Alexandre e sua equipe foram convidados para se juntarem ao presidente em um desses comícios ilegais, que seria realizado na cidade de São Paulo e no mesmo dia da premiação de Mércia. A capital paulista era o berço do partido do presidente que, após duas administrações desastradas na Prefeitura, perdia votos maciçamente a cada eleição. Se fosse necessário pendurar uma melancia no pescoço e vender a própria mãe para recuperar os votos, o presidente não hesitaria sequer um segundo. Mas, era mais fácil mentir e roubar a notoriedade dos policiais que eram tidos como heróis pela população. 

Na reunião, os policiais tomaram uma decisão unânime. Eles tinham sete dias para se preparar e tomar todas as providências necessárias. Alexandre disparou alguns telefonemas, marcou encontros e os demais foram cuidar do resto. Havia pouco tempo e muito a fazer.

Enquanto tinha início a premiação jornalística, o delegado e sua equipe eram encaminhados pelo cerimonial do Palácio para seus lugares no palanque. Ficariam atrás das fileiras de cadeiras onde se sentavam os desvertebrados. Em pé. No momento oportuno, seriam chamados para se postar ao lado do presidente junto com o diretor Miguel Brochado. Não falariam nada. Apenas ficariam ali parados enquanto o alcoolizado presidente cuidava da verborragia, da fanfarronice e da leviandade habituais. Estava programado falar do "combate à corrupção" que dera início em seu governo.

Na premiação, chegara o momento tão aguardado por Mércia. Chamaram-na ao palco. O mestre de cerimônias, um desses galãs descamisados de novela, a recebe e anuncia uma surpresa. Um telão desce no fundo do palco e o galã diz que a organização do evento preparou um videoclipe com a trajetória de vida da jornalista. Seria algo melodramático para tentar arrancar algumas lágrimas de profissionais do ceticismo. Uma tarefa duríssima. Especialmente porque todos conheciam a fama da homenageada.

No comício ilegal, a ridícula Escolinha do Professor Raimundo também já havia começado. O presidente contava piadas e se achava engraçado. A claque delirava e dava boas imagens para os telejornais. Ele mentia à vontade. Quanto mais falava, maiores eram as mentiras. O povão acreditava. Depois foi endurecendo a fala e destilando ódio. Ele tinha ódio de tudo e de todos que não o bajulassem e concordassem com os absurdos que cometia. Era um ressentido. Seu sonho não era o do discurso de "um Brasil mais justo", mas o de ser rico e entrar no Jockey Clube pela porta da frente.

O videoclipe mal havia começado e houve uma pequena interrupção. O galã apresentador logo diagnosticou "um probleminha técnico". Em seguida, a imagem retornou. Mas, não era mais o videoclipe programado. Um auditório lotado de jornalistas e convidados, as pessoas em casa assistindo pela TV e os internautas viram Mércia nua e algemada levando palmadas na bunda e pedindo mais aos gritos. Quem manuseava a palmatória era ninguém menos que a ministra Sueli Sandoval. Infelizmente e para horror de todos, também nua.

Técnicos correram para tentar parar aquela exibição. Um tumulto generalizado começou a se formar. O galã apresentador tentou falar alguma coisa, mas o som do microfone foi cortado. Em seguida, foram se sucedendo vídeos de conversas da jornalista com Sueli, com Dometien, com o diretor da PF, Miguel Brochado, e outras "autoridades". Estarrecidos, todos viram e ouviram acertos de pagamentos, planos nada republicanos, corrupção descarada, sabotagens sendo combinadas, um arsenal de falcatruas que faria corar qualquer ditador africano.

O presidente estava babando de ódio. Xingou adversários políticos e sugeriu até o extermínio deles. Estava visivelmente embriagado. O povão já não delirava. Ao contrário, estava abandonando o local aos poucos. Alguém se aproximou de alguém, que foi cochichar no ouvido de outro alguém até que chegou ao ouvido da candidata. Àquela altura, ela seria a única que poderia cochichar a mensagem de "maneirar" no ouvido do presidente. E foi o que ela fez. 

O presidente estava possesso e bêbado, demorou a entender o que ela dizia. Quando finalmente entendeu, voltou a sorrir e tentou contar uma piada. O povão estava ofendido com o comportamento do presidente e lhe virou as costas. Na frente do palanque, restou apenas a claquete contratada entre os partidários. Foi quando o presidente, gritou ao microfone que iria apresentar uma equipe de policiais que eram um exemplo da sua política de combate à corrupção.

O povão já ia longe, quando se virou e viu uma imensa bola de luz tomar conta do palanque. Em seguida, o som apavorante da explosão precedeu uma onda de choque que atirou a todos no chão.

No auditório da premiação, jornalistas e convidados assistiram a entrada de uma dezena de policiais fortemente armados, comandados por um delegado. Os policias se postaram à frente do palco. O delegado subiu e deu voz de prisão à Mércia, algemando-a em seguida. "Essas algemas são um pouco diferentes das que você conhece", disse o delegado. A jornalista disse apenas que queria ligar para o seu advogado, levantou a cabeça e, com toda a arrogância possível, foi escoltada para fora do auditório sob as vaias dos colegas.

No dia seguinte, os jornais estavam enlouquecidos. A jornalista Violeta Dorso era primeira página do grande jornal em que trabalhava. Ela revelava com exclusividade todo o escândalo da licitação para compra dos aviões caças. O plano estava todo lá, como seria feita a maracutaia, o valor da comissão, como e para quem seria repartido, as orgias dos envolvidos, os planos de candidaturas e compra de votos, a participação de Mércia Trancoso e, claro, do presidente da República. Também destacava o trabalho feito pelo delegado Alexandre Dantas e sua equipe. Tudo devidamente documentado. O editorial sugeria um possível link entre o atentado e o desvendamento do esquema.

Os demais jornais estampavam manchetes sobre o atentado que matou toda a cúpula do governo, o presidente, sua candidata e a equipe de policiais que desvendou todo o esquema de corrupção e lavagem de dinheiro montado dentro do Palácio. Pipocavam cobranças e promessas de "investigação rigorosa" e a velha canalhice patriótica. Parlamentares queriam criar CPIs variadas. Ainda na primeira página, lá embaixo, a prisão vexaminosa de Mércia e os vídeos mostrados no evento. 

A opinião pública demonstrava revolta e horror diante da corrupção e da violência do atentado que matou quase 100 pessoas. A sorte é que quase todas as pessoas já haviam saído ou estavam a uma distância segura quando a bomba explodiu. Possivelmente explosivo plástico C-4, especulava-se. Os políticos estavam apavorados com a possibilidade de haver uma célula "terrorista" no país e eles serem os próximos da lista. Ninguém queria assumir o governo e logo passaram a defender a realização imediata de eleições.

Lígia Dupont ainda chorava a morte de Alexandre. Mesmo tendo se passado seis meses, ela não conseguia sair do estado de tristeza em que se encontrava. A perda era sentida de maneira angustiante, como se um grande buraco tivesse sido aberto em seu peito e um vento gelado passasse através dele. Ela pediu demissão da seguradora e se mudou definitivamente para o chalé perdido nas montanhas dos Alpes suíços. Amigos tentaram demovê-la da ideia, pois o isolamento poderia piorar seu estado emocional. Mas, ela ignorou todos os apelos e se instalou no chalé. Queria ficar só com suas lembranças e tristezas.

Para não afundar definitivamente, Lígia procurava manter uma rotina de trabalho com pequenos afazeres e muito exercício físico. Europa não é Brasil, onde ainda existem escravinhos baratinhos para fazer as coisas. Nos países civilizados, cada um é responsável pela limpeza da sua casa, das suas roupas, pela sua alimentação. Não há mão de obra barata para isso. Assim, ela vivia frugalmente, se abastecendo na vila vizinha com produtos dos sítios locais. Fazia longas caminhadas pela montanha. Até um pequeno galinheiro ela construiu e conseguia manter meia dúzia de aves que lhe abasteciam de ovos. 

Numa manhã fria de início do Inverno, Lígia acordou cedo, alimentou as galinhas e foi preparar seu café da manhã. Havia conseguido comprar café brasileiro e isso teve o poder de colocar um leve sorriso no seu rosto. Enquanto a água esquentava, dois ovos foram quebrados e suas gemas alaranjadas despejadas sobre uma frigideira quente, onde duas fatias de bacon já iam a meio caminho da fritura e produziam a gordura necessária aos ovos mexidos. Na torradeira elétrica, duas fatias de pão integral se aqueciam e perfumavam ainda mais a cozinha.

Lígia colocava os ovos mexidos com bacon no prato quando ouviu as batidas na porta do chalé. Colocou a água quente sobre o café recém-moído, que estava acomodado no fundo da cafeteira French Press. Mexeu três ou quatro vezes com uma colher e colocou a tampa com o filtro. Tirou as fatias de pão da torradeira e juntou aos ovos. Em seguida, foi atender quem estivesse à porta.

- Esse bacon está cheirando lá na estrada - disse um homem agasalhado que estava de costas para a porta e apontava para uma estrada tão distante que era impossível de enxergar.

Lígia emudeceu e sentiu o chão sumir sob seus pés. O homem se virou e sob o capuz estava um sorridente Alexandre. Ela desmaiou.

- Lígia ... Lígia ...

Quando ela voltou a si, estava deitada no sofá da pequena sala, em frente à lareira onde toras de madeira crepitavam com o fogo. Lígia sentiu o susto que não sentiu por completo quando viu Alexandre. O desmaio veio primeiro. Seu corpo tentou dar um solavanco, mas não conseguiu. Ela ainda estava com a pressão baixa e um tanto zonza. 

- Como? Você ...

- Não fale por enquanto meu amor. Você sofreu um desmaio. Burrice minha achar que poderia aparecer aqui assim, de repente. Nem me ocorreu que você iria se assustar, claro. Mas, é que eu estava louco para te encontrar, te ver, te abraçar, te beijar ...

Lígia se atirou e agarrou Alexandre num abraço apertadíssimo. Todo o choro, toda a angústia, toda a tristeza, saíram num longo e sofrido gemido. As lágrimas jorravam dos seus lindos olhos de tom turquesa, que transita naquela faixa indefinida entre o azul e o verde. Seu corpo inteiro tremia. Eles ficaram abraçados por um longo tempo. 

O choro enfim se esgotou, mas só conseguiram conversar uns 30 minutos depois. Alexandre terminou de fazer o café e serviu. Sabe-se lá como, pois Lígia não desgrudou dele nem por um segundo. No início, comeram em silêncio. Apenas se olhavam. Mas, logo as inevitáveis perguntas vieram à tona. Ele contou tudo o que acontecera após o atentado que sofrera com sua equipe na cafeteria Grenat Cafés Especiais. Não deixou de lado nem o menor detalhe. Relatou os encontros que teve com Mércia, o plano para desmascarar todos e tornar pública a tramoia com os caças e como a equipe decidiu explodir todos os corruptos de uma só tacada.

- Mas, como você escapou da bomba? 

- Eu e a rapaziada toda.

- Como?

- Plantar a bomba no palanque foi a parte mais fácil. Sendo policiais, tínhamos acesso a tudo. O cerimonial nos colocou no fundo do palanque, atrás de todo mundo. Sabíamos que tinha uma briga danada para ficar próximo do presidente. Assim, foi moleza sairmos cinco minutos antes de explodir a bomba. Uma obra-prima do Pablo e do Gabriel, com detonador à distância. Tudo que eu precisei foi fazer uma ligação de um celular irrastreável.

- Mas, ninguém viu vocês saírem? 

- Acredito que não, porque todos estavam prestando atenção nos gritos do presidente e assustados com o discurso de ódio. Como todos os olhares estavam virados para o outro lado do palco e a segurança preocupada com o povão em frente ao palanque, a saída pelos fundos estava tranquila. Nos dividimos em três carros. Pablo e Gabriel ficaram com um carro; Hamilton e Rômulo com outro; e eu com o terceiro. Nos despedimos - e foi muito emocionante - e partimos. Cinco minutos depois eu fiz a ligação. Se alguém nos viu, não sobreviveu para contar.

- E o que aconteceu depois?

- Cada um foi para um canto do mundo. Todos temos novas identidades, novas vidas, o que também não foi difícil para nós por sermos policiais federais. Oficialmente, estamos mortos. Não sobrou nada com a explosão e não conseguiram identificar quase ninguém que estava no palanque, nem por DNA. 

- E você sabe onde eles estão? 

- Sei. O Rômulo está na Patagônia. Trabalha como guia para excursões off road e faz resgate de veículos atolados ou danificados. É uma região tão erma, que nem insetos tem por lá. A última notícia que tive dele é que estava enroscado com uma chilena.

- E os outros?

- O Gabriel está na China, trabalhando numa empresa de softwares para segurança digital. É o forte dele. O Pablo foi para Israel com a ajuda do Padre Avellar. Está trabalhando para o Mossad. É ele quem cuida da nossa pequena rede de informação e segurança.

- Quem é Padre Avellar?

- É uma figuraça que conheci através dos caras do Café & Conversa. Ele nos ajudou bastante com as rotas de fuga, levou o Pablo para o Mossad e nos ensinou como ficar incógnitos. Você deve ter ouvido falar dele.

- É, o nome não me é estranho ... Padre Avellar ...

- Você deve ter ouvido nos noticiários. Ele é aquele padre que salvou o Papa de um atentado e matou os assassinos com um tiro na testa de cada um.

- Isso! É ele mesmo! Você conhece ele?

- Conheci lá em Brasília. Ex-mercenário, largou tudo para ser padre, mas parece que o instinto e o reflexo de guerreiro ainda ficaram intactos. Assim que ouviu o primeiro tiro, sacou as duas pistolas e matou os assassinos.

- Mas, que tipo de padre anda com duas pistolas embaixo da batina?

- Pois é ... um homem precisa de três coisas, meu amor. Dinheiro no bolso, saber se defender e um amor no coração. Mais nada (risos). Esse mundo não é o da propaganda. Investigando a morte da ministra, aprendi um bocado sobre esse mundo que ninguém vê e que é onde as decisões sobre as nossas vidas são tomadas. É o ambiente mais próximo do que imagino ser o inferno. Ter saído vivo daquilo já considero quase um milagre. Depois do incidente com o Papa, o Padre Avellar teve que sair da Igreja. Mas, acabou realizando um antigo sonho. Hoje, ele comanda uma estação de rádio chamada "Voice of Peace", instalada dentro de um veleiro e navegando pelos mares do Sul. Dá para ouvir pela internet também e ele só toca rock progressivo dos anos 70. Esse é o nome de uma rádio pirata em que ele trabalhou como DJ e também era instalada num navio. Eles navegaram entre Chipre e Israel, no Mar Mediterrâneo, de 1978 a 1980.

- E o Dr. Hamilton, que conheci lá em Fernando de Noronha?

- Ele está aqui na Suíça. Trabalha no laboratório de uma grande indústria farmacêutica. Pesquisa usos terapêuticos para venenos naturais, como o de sapo (risos). Está feliz como pinto no lixo com o laboratório e os recursos que disponibilizaram para ele. Além de um belo salário. 

- Falando em salário, com que dinheiro vocês conseguiram escapar? Uma fuga dessas não é barata.

- Realmente não é. Por isso, fomos financiados pelo cofre da ministra Sueli Sandoval. 

- Aquele que saiu nos jornais?

- Aquele também. Descobrimos um segundo cofre com mais dinheiro ainda. Juntamos tudo, dividimos em quatro e foi o suficiente para desaparecermos pelo resto da vida. 

- Não ficou nenhum remorso, culpa? Afinal, vocês tiraram muitas vidas ...

- Se você descobre um câncer no seu corpo, o que faz? Você pede ao médico que arranque aquilo do seu corpo, que mate aquilo com remédios ou cirurgia. Nós fizemos o papel de médicos e cumprimos o nosso dever. Não sei de nenhum médico que tenha dúvidas ou remorso por ter matado o câncer de alguém. Aquela gente era um câncer que sugava toda a energia e saúde da sociedade. Eram bandidos da pior espécie, escroques vagabundos, sociopatas, assassinos e pervertidos. Ninguém sofrerá com a morte deles porque agora sabem o que eles eram.

- E você? Quem é você agora?

- Meu nome agora é Peter Gibson, cidadão canadense e comerciante de café. Vim para a Suíça atrás da mulher que amo e com quem vou me casar. Daqui, podemos ir para qualquer outro lugar no mundo. Ou não. Estamos completamente livres para ir e para ficar.

- Bonito nome, Peter ...

Lígia e - agora - Peter se beijaram longamente. O café esfriou na mesa da cozinha enquanto eles se amavam no quarto acima. O computador estava sintonizado na rádio do ex-Padre Avellar, agora conhecido como Nathanael Kriger, e acabara de tocar "Funny Ways" da banda Gentle Giant. Com a voz rouca resultante de um ferimento de tiro, ele fala: "From somewhere in the South Pacific, we are the Voice of Peace, on 1540 MHz 24 hours a day, in name of peace" ...

No Palácio do Eliseu, em Paris, residência oficial da Presidência da França, o presidente se reúne com a ministra das Finanças e o chefe do Serviço Secreto. Sobre a mesa, uma garrafa de champanhe e três taças.

- Conseguimos abater o Dometien. Sua candidatura foi inviabilizada pelo escândalo sexual. Aliás, um plano muito bem executado pelo nosso Serviço Secreto. Onde vocês arranjaram aquela camareira?

- Ela é uma das nossas melhores agentes recrutadas na Guina Francesa, presidente - explicou o chefe do Serviço Secreto.

- Dometien, pobre diabo, pensou que poderia nos passar a perna e ficar com um bilhão de Euros para financiar sua própria campanha e de vários parlamentares. Sonhos de uma noite de Verão (risos). 

- Estava sendo monitorado desde o início - completou o chefe do Serviço Secreto.

- Foi uma jogada de mestre, presidente. Parabéns! Agora, sem candidato e sem dinheiro, o Partido Socialista não tem alternativa que não seja compor e apoiar a sua reeleição. Brilhante! - disse a ministra.

- Mas, eu a chamei hoje aqui para lhe comunicar minha escolha para o comando do banco que o Dometien presidia. É você - disse o presidente, enquanto abria a garrafa de champanhe e enchia as três taças.

- Oh! Será uma honra, presidente. Não vou desapontá-lo.

- A sua missão é manter o esquema para a venda dos caças Rafale. E as comissões também, claro. Aquele idiota, bêbado e fanfarrão, o presidente do Brasil, quase botou tudo a perder. O atentado acabou sendo bom para nós, porque paralisou a licitação dos caças. Os americanos estavam ganhando terreno. 

- Os autores do atentado já apareceram?

- Nada ainda. Só os malucos habituais. A polícia brasileira não tem pista alguma. Mas, estamos providenciando um comunicado de um grupo terrorista internacional de segundo escalão, assumindo o atentado, dizendo que estão expandindo suas ações e condenando alguma postura do governo brasileiro. Isso vai nos tirar do centro do escândalo dos caças - explicou o chefe do Serviço Secreto.

- A sua missão é manter o esquema financeiro para a licitação. O arranjo das comissões continua o mesmo. Logo deverá ter eleição no Brasil e vamos conversar com o novo presidente. Temos que preservar nossos empregos na indústria de ponta. É estratégico. 

- Lá no banco, vou realizar um levantamento completo dos países que podem ser potenciais clientes dos nossos caças, aproveitando a mesma engenharia financeira.

- Está em suas mãos. Boa sorte e faça um bom trabalho. Tim-Tim! Agora, se me dão licença, preciso correr. Com a gravidez, minha esposa requer mais a minha presença. Ela quer decidir a cor do quarto do bebê.

FIM

Queridas(os) Leitoras(es), aqui encerramos essa aventura que, espero, tenha sido eletrizante para vocês como foi para mim. E não estou falando da Blog-Novela, que também é um baú aberto transbordando de emoções tremelicantes. Estou falando da aventura de escrever, de deixar a imaginação fluir sem qualquer amarra e na companhia maravilhosa de todas(os) vocês. 

Não me canso de repetir que a sua colaboração foi importantíssima, imprescindível e inestimável. Essa aventura foi realmente especial, pois ao contrário de "Broken Heart's Brodo", que partiu de um antigo post, a "Morte na Esplanada" começou do zero. E foi assim a cada capítulo. Eu sempre começava a escrever um capítulo sem ter a mínima ideia do que iria acontecer. Ou melhor, tinha uma vaga ideia, um horizonte longínquo. 

Alguém já disse que escrever é um ato de coragem, pois o escritor acaba expondo a si mesmo. Eu diria que, além de coragem, escrever é um ato que beira a loucura. E como foi bom enlouquecer nesses dois meses. Foi um exercício muito gratificante. Sofrido, angustiante, mas prazeroso. Ri bastante. E como diz um antigo ditado budista: "Um dia sem risadas é um dia perdido".

Obrigado mais uma vez a todas e todos que acompanharam essa loucura e me ajudaram com colaborações valiosas. Muito obrigado. Aos que temiam por um final em que os bandidos saíssem impunes, um alerta. Nas minhas histórias, o mal jamais vencerá o bem. Pode ser que na vida real os bandidos e bandidas estejam por aí morando em apartamentos triplex e viajando de jatinho com passaporte diplomático, mas aqui no mundo da ficção eles pagam caro pelos crimes que cometem. Agora, sigo com outros projetos para o blog ; )

E como diz o Romoaldo todas as manhãs, de segunda a sexta-feira, em nosso quadro matinal na CBN Recife e, em seguida, aqui no nosso podcast: Um abraço e bom café!

7 comentários:

  1. Kassatti,

    Se foi eletrizante para voce, imagine para nós.
    Voce me deu um presentão com "Morte na Esplanada". Adorei todos os capítulos e vou sentir falta, acredite.
    Bom saber que em algum lugar deste país, os maus não vencerão jamais...
    Abraços

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  2. Parabéns pela criatividade.
    A trilha sonora está ótima!
    zeniteblog.zip.net

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  3. Fantástica teia de intrigas numa novela genial. Cada personagem, suas vidas e referências paralelas dão sua parcela de vida. Num mundo de tramoiais, o Bem ainda vence o Mal.
    Valeu, amigão, adorei a trama, lamento o breve final da história.
    Recomendo que se releia desde o início e aprovetem todos os capítulos dessa novala tão bacana.
    "Vive la mort, vive la guerre, vive le sacré mercenaire" abs

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  4. Ah! Adorei, amei, amei, amei, a Morte na Esplanada foi maravilhosamente boa. Amei o final; quando cheguei na parte que Lígia estava lamentando a suposta morte de Alexandre, quase surtei, mas após algumas linhas vi que o que mais temia não tinha acontecido (graças a Deus) - os bandidos sairem impunes. No demais, a blog-novela arrasou. E, você, Kassati, tem uma alma de escritor; que continue assim e poste mais blog-novelas igualmente eletrizantes :)

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  5. Costumo dizer que as melhores histórias são aquelas que menos se aproximam da realidade ou, ao menos, manipulam um final surpreendente. Parabéns, Boniton! Você fez isso com maestria.

    E, no fim de tudo, sem príncipes nem princesas não tem graça.

    Marven.

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  6. O fim foi genial. Excelente. Só pecou por falar de mais no "Fanfarrão". Mas todos os personagens receberam o merecido. Acho que agora, Mr. Gibson e sua esposa podem abrir uma pequena empresa para rastrae grandes roubos. Por que não "A morte no Quai D´Orsay"?
    Gostei do jeitão do mercenário. Figuraça!
    Memélia
    Quando começa a próxima novela?

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  7. Parabéns, querido! Estive ausente por força das circunstâncias. Acompanhei e adorei seu espírito aventureiro e investigativo.
    Estiveram presentes a realidade e a fantasia se denunciando, se contrapondo, se empurrando. Você e o "outro", em alguns momentos, se misturaram.
    bjs
    Telma

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