Ricardo Icassatti Hermano
Penúltimo capítulo ... Mais uma Blog-Novela se vai. Como sempre, foi um imenso prazer conduzir essas duas experiências: "Broken Heart's Brodo" e agora "Morte na Esplanada". Especialmente porque contei com a valiosíssima participação das(os) leitoras(es), que contribuíram para a estafante missão de entregar dois capítulos por semana. Eu só posso agradecer muito e de coração.
Assim, sem mais delongas, prepare ... ah! Você já está careca de saber qual é o procedimento. Divirta-se!!!
Morte na Esplanada
Capítulo 19
Mércia Trancoso era o nome do momento. Seu jornal, o Notícias do Brasil, fez uma festa com os arquivos que estavam no pendrive entregue pelo delegado Alexandre Dantas à repórter. Algumas figuras importantes da República foram ejetadas dos seus respectivos cargos na velocidade da luz. Outras demoraram um pouco mais. Tudo dependia do interesse envolvido.
Na política não há espaço para o vácuo de poder. Logo um bando de hienas já rondava a presa ferida. Em seguida, vinha o ataque. O presidente, como de costume, não sabia de nada. Sem perceber, ele havia criado a figura do "corno político". Sempre é enganado e nunca sabe de nada.
Fortalecida pela própria base de governo, a oposição coseguiu colher as assinaturas necessárias para uma CPI, que a imprensa logo apelidou de "CPI da Sem Vergonhice" ou "da Putaria" em off. No dia seguinte, alguns retiravam as assinaturas sob a descarada alegação de estar "fazendo o que é melhor para o Brasil". Alguns dias depois, mudavam de ideia, mas a argumentação continuava a mesma.
Vídeos das orgias eram acessados milhões de vezes na internet. Sites de agências, jornais, revistas, TVs e blogs do mundo inteiro disponibilizavam tudo o que outros sites eram impedidos de veicular. A cada medida judicial restritiva, milhares de sites eram criados apenas para continuar divulgando as fotos e vídeos de autoridades em situações nada republicanas, diplomatas extravasando suas fantasias mais loucas e parlamentares patriotas exercendo a sua canalhice desvairada.
Os programas humorísticos tinham material para anos (sem trocadilho) e até as novelas incorporaram algumas daquelas situações. Cineastas corriam atrás de roteiros sobre os escândalos, diretores de teatro se apressavam em escrever peças e todo mundo querendo uma "ajudinha" do Ministério da Cultura.
Pelo menos três produtoras de filmes pornô já haviam anunciado seus próximos lançamentos claramente baseados nos vídeos das orgias da ministra Sueli Sandoval, com os títulos: "As Pantufas do Senhor Ministro"; "A República da Sacanagem"; "Despacha no meu Ministério que Eu Despacho no Seu"; "A Ministra Devassa"; "Detonando a Assessoria"; e "Penetrando no Corpo Diplomático".
O clima em Brasília era de "barata voa". Os políticos acusavam a imprensa de ser "golpista" e de estarmos vivendo "um clima de denuncismo". Mas, dois ex-ministros mais "safadenhos" deram entrevistas absurdamente chocantes para uma revista semanal de grande circulação nacional e adiantaram que pretendiam escrever livros em que contariam tudo. Aquilo soou mais como ameaça do que projeto real. Afinal, o negócio mais lucrativo da política é a extorsão pura e simples e a posterior venda de apoio ocasional.
A maioria dos políticos adere e apóia quem estiver no poder, não interessando coloração partidária ou viés ideológico. Desde que possam meter a mão no dinheiro público, claro, e manter o governante sob controle. Talvez seja por isso que qualquer avanço na qualidade de vida dos brasileiros seja imediatamente chamado de "milagre".
Alexandre chegou cedo ao seu escritório e sua equipe já estava a postos. Todos os preparativos já haviam sido feitos. Agora só lhes restava aguardar. Ao abrirem os jornais do dia, ouviram Rômulo exclamando surpresa.
- Olha só! Esse Padre Avellar aqui não é aquele com quem você foi conversar Alexandre? - perguntou Rômulo.
- Cadê?
Ao ver a foto estampada na primeira página do jornal, o delegado caiu na gargalhada.
- É ele mesmo. Vejam o que ele fez lá no Vaticano! Que doido!
O texto de uma agência italiana de notícias, relatava o atentado sofrido pelo Papa Bento XVI durante viagem à África. Segundo a agência, o Papa havia acabado de realizar uma missa campal para milhares de fiéis e, quando se retirava, foi atacado por quatro assassinos armados.
O líder da Igreja Católica foi salvo graças à ação de um padre que fazia parte da sua comitiva e que surpreendentemente sacou duas pistolas calibre .45 de dentro da sua batina, colocou-se entre os atiradores e o Papa e, num rápido tiroteio, abateu os assassinos. Cada um deles tombou com um tiro certeiro entre os olhos.
A assessoria do Papa disse que o padre é um segurança disfarçado, mas através de fotos tiradas por fiéis que se encontravam no local, foi possível identificar o dito segurança como sendo um sacerdote brasileiro, conhecido como Padre Avellar Dolber. Segundo fontes, o padre bom de mira integrava a comitiva papal como assessor para assuntos africanos.
- Cara, eu tenho até medo de investigar o passado desses caras que conhecemos nos últimos tempos. Devem ter aprontado muito pelo mundo afora. A imprensa deve estar doidinha para saber quem é esse Padre Avellar. Mas, a Igreja é expert em guardar segredos, né? - disse Alexandre.
- Quem sabe um dia eles escrevem um livro - disse Pablo.
- Duvido. O estilo deles não é esse. O que eles sabem vai junto para o túmulo. Mas, temos uma dívida com eles e só posso desejar boa sorte a todos. Eles sabem se virar, isso eu garanto. O que mais tem aí nos jornais? Como está o nosso escândalo?
- Já está perdendo força. As notícias já estão ficando repetitivas e os leitores gostam de novidades, revelações - disse Pablo.
- Então está na hora de darmos mais munição para a nossa querida jornalista. Gabriel, ligue para ela fazendo o papel do informante que vaza informações e diga o seguinte ...
No dia seguinte, o jornal Notícias do Brasil trazia a manchete em letras garrafais: "Presidente sabia de tudo". Foi o suficiente para detonar uma crise política com todos os ingredientes para chegar ao impeachment. O presidente da República fez um pronunciamento à nação e sua linguagem corporal revelou traços fortes de comportamento autista e sociopatia, revirando os olhos a cada mentira.
Com essa, Mércia Trancoso foi indicada às principais categorias da maior premiação jornalística do país, Jornalista do Ano e Reportagem do Ano. Para quem tinha a carreira marcada por reportagens inverídicas e mau caratismo aberto, aquilo era a redenção.
Além do prêmio em dinheiro, tinha a glória entre os colegas de profissão e, claro, mudança de emprego. Logo saiu do pequeno jornal local e passou para um de alcance nacional com um salário invejável, status de repórter especial e uma coluna. A vida finalmente lhe sorria e ela tinha quase tudo o que sempre almejou, fama, dinheiro, prestígio. Para isso, mandou às favas tudo o que tinha de bom e decente, abraçou a desfaçatez, vendeu a alma ao diabo e usou seu corpo como instrumento para conseguir o que queria.
Mas, tudo tem um preço nessa vida. Ao chutar para longe todo e qualquer escrúpulo, Mércia eliminou a possibilidade do amor. Como qualquer pessoa gananciosa, sentiu-se esvaziada assim que atingiu seus objetivos. Agora, queria mais. Queria o que ficou de fora das suas metas. Queria um homem bacana e gentil ao seu lado. Queria viver o amor na sua mais verdadeira e profunda expressão. Ela queria o delegado Alexandre Dantas. Afinal, fora ele o responsável por tudo aquilo.
- Alô ... Alexandre?
- Pois não. Delegado Alexandre Dantas falando.
- Sou eu ... Mércia.
- Olá jornalista. Como está você? Está gostando dos holofotes da fama e do sucesso? Cuidado para não virar, como é que estão chamando mesmo? Ah! Já sei, personalidade da mídia (risos).
- Para, vai! Eu não ligo para essas coisas. Além do que jornalista nunca pode ser a notícia. Mas, não posso negar que tem lá suas vantagens. As portas se abrem mais facilmente, tive muitos convites para participar de talk shows, algumas mordomias e, claro, a premiação que vai acontecer daqui uma semana.
- É mesmo. Você ainda foi premiada. Parabéns, você merece.
- Pois é Alexandre, eu queria te agradecer por tudo. Se não fossem as informações que você me deu, eu não estaria recebendo esses prêmios. Muito obrigada mesmo por ter confiado em mim.
- Não precisa agradecer. Como você mesma disse, nós dois saímos lucrando com essa parceria, né?
- É mesmo. Já tinha até esquecido disso. A única lembrança que ficou daquele jantar foi a de um homem íntegro, culto e gentil. Poderia dizer até mesmo de um homem viril, um homem de verdade.
- Agora sou quem diz: para com isso, vá!
- Sério! Eu liguei para te convidar para a cerimônia de premiação da Jornalista do Ano. Diga que aceita, por favor ...
- Infelizmente não posso. Ficaria claro de onde vieram as suas informações. E o que eu menos preciso agora é de mais um problema.
- Por que? Está acontecendo alguma coisa aí?
- Só o regulamentar. Fui afastado do caso depois das suas reportagens sobre as orgias.
- Se você quiser, eu arrebento com esses caras, faço uma matéria denunciando o seu afastamento e...
- Não precisa Mércia, não precisa. Na verdade, minha equipe e eu até gostamos de largar esse caso. Já deu o que tinha que dar e isso nos tirou da alça de mira de muita gente que agora está mais preocupada em salvar o próprio rabo, se é que sobrou alguma coisa digna de salvamento (risos). Isso também está nos permitindo focar em outras coisas. Não está acontecendo nada que eu não tenha previsto. Esses idiotas são muito previsíveis e desconhecem estratégia.
- Tá bom.Você tem razão, mas se precisar de ajuda é só me falar, viu?
- Pode deixar. Não vou esquecer disso.
- Mas, então vou te convidar para outro jantar. Que tal?
- Isso é possível. Quando?
- Depois da premiação. Está bom pra você?
- Está ótimo. No mesmo restaurante?
- Sim! Uma hora depois do final da premiação, está bem?
- OK ...
- Beijo grande!
- Beijão ...
♦♦♦
Como diziam meus filhos quando eram pequenos: "Êpa, ôpa!". Vamos parar um pouco e respirar fundo umas 10 vezes. É impressão minha ou está rolando um clima entre o delegado Alexandre Dantas e a jornalista Mércia Trancoso? Ou não? Me digam vocês o que está acontecendo. E façam isso rápido, porque essa Blog-Novela acaba no próximo capítulo : ) Estamos aguardando as suas considerações.
E como diz o Romoaldo todas as manhãs, de segunda à sexta-feira, em nosso quadro na CBN Recife e, em seguida, aqui em nosso podcast: "Um abraço e bom café!"
Links dos capítulos já postados. Basta clicar no capítulo desejado:
7 comentários:
Clima?
Está rolando um verdadeiro weather forecast da CNN entre a Mércia e o delegado.
Ahh, eu acho que o amor sempre tem que vencer...
Beijos
Não, não! Alexandre não pode se deixar levar por essa malandra. Além do mais, onde estão as denúncias contra a própria jornalista. ela também vai sair impune? Outra vez, NÃO! A matéria mostrando que ela é deve sair na concorrência, e no dia da premiação. E nossa lady canadense? Morreu? Casou com DSK? Era parceira do padre-roqueiro na segurança? Protesto contra o fim da novela.
Memélia Moreira
Clima nenhum...para com isso!
Pode desmascarar a Mercia urgentemente, por favor.
Estou aborrecida que a novela vai terminar, sabia?
Abraços
Clima? Só se for vindo de um céu nublado propício a raios, trovoões e forte chuva e um final feliz lá pros lados dos Paris com a Lígia, claro. Por onde ela ficou mesmo? Capítulo 10? Alpes Suíços? Sei lá... Só sei que usa um J'adore enqto epera. (rs)
Qualé?! Sem chance d'eu comprar o livro se me vier um final romântico com essa jornalistasinha. Imagina! Essa 'safadEnha' está apenas caindo numa de suas armadilhas.
à espreita de espreitando,
Marven.
Nãããããoooooo, o Delegado Alexandre não pode ficar com a Mércia, ele tem que ficar com a Lígia. e Só mais uma coisa cade ela (a Lígia)? Coitadinha, ela é quem combina com o Alexandre, e não a Mércia, ela é muito chata e aproveitadora, né? Fala Sério.
Eu não quero que a novela termine. (Eu vou sentir falta) :( E estou torcendo por Lígia, pois a Mércia tem que ser desmascarada, nem que seja no último instante +.+
Se o Alê ficar com a Mércia e não com a Lígia eu vou ficar MUITO BRAVA. A concepção da Mércia é para ela SE DAR MUITO MAL no final, tá?
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