quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Pudim de Arroz com Água de Rosas e Cardamomo


Ricardo Icassatti Hermano

Outro dia desses, tive a seguinte conversa com um dos meus filhos.

-Pai, você tem falado um bocado de resistência. Entendi os seus motivos, mas como você sabe quando deve começar a resistir?

- Primeiro a gente precisa falar de princípios, dos valores que balizam e dão algum sentido às nossas vidas. São nossas crenças mais profundas, as certezas que escolhemos para nos guiar. Sempre são escolhas nossas. Os princípios não nos escolhem, nós os escolhemos.

- Por exemplo ...

- Por exemplo, a honestidade. Quando escolhe ser um sujeito honesto, você deu uma determinada direção a sua vida. Mas, só será um princípio absoluto se você acreditar a ponto de morrer defendendo esse princípio. Entendeu?

- Mas, precisa morrer mesmo?

- Ninguém "precisa" morrer na defesa de um princípio. Mas, se acontecer de ser necessário, você morrerá em paz, sem conflitos internos, sem medo. Afinal, um dia todos vamos morrer mesmo. É melhor morrer defendendo algo que valha a pena do que numa UTI.

- E quando é que eu sei que é o momento de defender um princípio meu?

- Não se preocupe, você saberá. Alguma circunstância ou alguém vai colocá-lo numa situação em que você terá de escolher se fica com o seu princípio ou se torna mais um sujeito venal no mundo.

- Você conhece alguém venal?

- Muitos. É uma gente sem caráter que tem dobradiça na coluna vertebral, se curva para os dois lados. Eles sempre têm a mesma conversa pegajosa e asquerosa do tipo "é difícil atuar sozinho, é melhor fazer parte de um grupo"; ou tentam te seduzir com vantagens, dinheiro, falsa amizade, sexo etc. Também são bajuladores natos. Nessa hora, se você realmente acredita nos seus princípios e se eu ensinei direito, nada vai tirá-lo do caminho que escolheu.

- Mas pra isso eu não preciso morrer.

- Nesse caso não. Essa é uma luta pequena. Mas, às vezes, você assume lutas maiores, em que a sua vida pode realmente estar em jogo.

- Por exemplo ...

- Por exemplo, a luta pelos direitos civis nos Estados Unidos. Já escrevi aqui sobre isso. O pastor Martin Luther King foi assassinado resistindo pacificamente ao racismo, à injustiça, à segregação e à intolerância. Você acha que ele morreu com medo? Com dúvidas sobre os princípios e as lutas que escolheu? Não, ele morreu em paz consigo mesmo, porque não fez concessões ou negociou seus princípios. Teve uma vida plena e sua morte serviu a um propósito.

- Entendi. Mas, é foda ter que chegar nesse ponto, né não?

- Infelizmente, meu filho, o mundo está cheio de gente ignorante, intolerante e violenta. Se o interesse deles passar por você e não conseguirem subjugá-lo de alguma maneira, acabarão chegando à violência. Vemos muito isso na política. Olhe o caso da Índia. Lá viveu e morreu um grande líder pacifista chamado Mahatma Gandhi. Ele foi um grande exemplo de resistência pacífica. Mas, existe a resistência violenta também, como no caso do Vietnam. Em qualquer caso, a resistência se baseia em princípios que impõem um limite: daqui não passa. Mesmo que seja preciso morrer e matar.

- Você resiste pacificamente ou violentamente?

- Já resisti das duas maneiras. Quando dá, escolho a via pacífica. Mas, o seu pai não tem DNA de santo. Não consigo apanhar sem reagir. Especialmente quando tenho razão. A via pacífica é sempre melhor, mas tem gente que não entende isso e eu apenas procuro dar uma ajudazinha para o sujeito entender que a violência é ruim ... para ele.

Foi uma boa conversa. Adoro conversar com meus filhos. Aprendo muito. Mahatma Gandhi foi um defensor da Satyagraha (princípio da não-agressão, forma não-violenta de protesto) como um meio de revolução. Essa resistência de Gandhi serviu de inspiração para outros líderes e ativistas, como o próprio Martin Luther King.

Mahatma Gandhi

Os comunistas, por sua vez, acreditavam em banho de sangue. Coisa de psicopatas do tipo Che Guevara e Fidel Castro.

Gandhi cursou faculdade de Direito na Inglaterra, em Londres. Devido a sua timidez, não obteve sucesso na profissão quando retornou à Índia. Assim, aproveitou uma oportunidade que surgiu e foi para a África do Sul, onde ficou por um ano representando uma empresa hindu num processo judicial.

Após esse período, ele se engajou numa luta pelo direito de voto dos hindus e acabou ficando por mais 20 anos na África do Sul. Através de atos de "desobediência civil em massa", convenceu seus conterrâneos hindus a não apelar para a violência, a trocar o ódio pelo amor. Foi preso várias vezes. Durante a vida, passou seis anos como prisioneiro. Ele pregava:

"Desde que nós vivemos espiritualmente, ferir ou atacar outra pessoa são atacar a si mesmo. Embora nós possamos atacar um sistema injusto, nós sempre temos que amar as pessoas envolvidas. Assim ahimsa é a base da procura para a verdade".

Um líder político e espiritual do povo indiano

Gandhi retornou à Índia em 1915, que sofria com a regra colonial britânica, e passou a liderar a luta pacífica pela independência indiana. Em seu país, liderou grandes manifestações e passou a usar o jejum como instrumento de luta pelas liberdades civis dos indianos, que estavam sendo suprimidas pelos britânicos.

Outro instrumento que utilizou com sucesso na luta pela independência da índia foi o boicote aos produtos importados. No caso, eram os tecidos britânicos. Gandhi propôs que todos os indianos passassem a vestir o khadi, veste caseira simples, e declarou que as mulheres, pobres ou ricas, deveriam dedicar parte do seu tempo tecendo khadis em apoio ao movimento de independência.

Gandhi com a roda em que tecia o seu khadi

Ele também foi o único líder capaz de estabelecer a paz entre hindus e muçulmanos. Sabemos que a política baseada no ódio não gosta dessas iniciativas. Para esses "políticos" o negócio é fomentar o preconceito e a hostilidade para que eles sobrevivam. Vejam Israel e Palestina. Apesar de jamais ter sequer processado seus muitos agressores, Gandhi morreu assassinado em 1948.

Assim, para homenagear esse grande líder e sua resistência pacífica, fui buscar uma receita indiana com o ingrediente que sustenta a Trincheira da Resistência contra o atraso e o autoritarismo lulista: o arroz. Quem sabe um dia eu também não me torne um pacifista como ele?

Pudim de Arroz com Água de Rosas e Cardamomo
6 a 8 porções

Ingredientes

- 1/3 xícara de arroz Basmati (indiano)
- 2 litros de leite integral
- 1 1/2 colher chá de Cardamomo em pó
- 3/4 xícara de açúcar cristal
- 6 colheres sopa de Pistachios picados
- 1/2 colher chá de sal
- 1 1/2 colher chá de Água de Rosas

Preparo

Lave bem o arroz, junte ao leite numa panela grande e leve ao fogo MÉDIO-ALTO. Quando levantar fervura, baixe o fogo para o MÍNIMO e deixe cozinhar, mexendo ocasionalmente, até que o leite reduza à metade (de 45 a 50 minutos).

Adicione o açúcar e 4 colheres de sopa de Pistachios e continue o cozimento por mais 15 minutos, mexendo mais frequentemente até que o pudim atinja uma consistência de mingau mais fino. Quando esfriar o pudim engrossa.

Retire do fogo. Adicione sal e mais açúcar. Se quiser, um pouco mais de Cardamomo. Incorpore a Água de Rosas. Sirva em temperatura ambiente e decore com pitadas de Pistachios.

Os indianos são bons em resistência e em comida vegetariana

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