terça-feira, 12 de outubro de 2010

A Música do Dia das Crianças - Afrikan Beat - Bert Kaempfert


Romoaldo de Souza


A música que mais marcou minha infância vinha da Rádio Pajeú de Afogados da Ingazeira, AM 1520. Naquele tempo, no tempo em que eu era criança, tinha um programa na rádio, "Curiosidade Murim", que prefiro escrever entre aspas porque eu me recordo só da forma como o locutor falava.


- Amigos ouvintes da Pajeú. Da minha, da sua, da nossa Rádio Pajeú de Afogados da Ingazeira, está no ar. "Curiosidade Murim" - Aquela voz empostada, fazia subir o som da orquestra. Baixa e lá ia ele falando uma de suas importantes curiosidades.


Eu acho que aquele locutor, e a produção do "Curiosidade..." tinham uma imensa quantidade de almanaques. Oh, programa bem informado! Falava da velocidade do vento, da altura dos prédios, da quantidade de igrejas, do número de padres, da largura das ruas de uma Brasília que para mim era tão distante, tão alheia…


- Você sabia que a Torre Eifel, no centro de Paris, a capital da França, tem 300 metros de altura? E se você aumentar a extensão da antena, a Torre tem mais de 320 metros? - dizia o locutor, repetindo, sempre as informações informantes.


- Isso mesmo, 320 metros e 75 centímetros.
Assim é a Torre Eifel - dizia o locutor


Pronto. Lá ia eu pegar minha régua de 30cm que levava todo dia ao grupo escolar. 300 metros são quantos centímetros?, perguntava. De quantas réguas dessas vou precisar colocar uma em cima da outra para chegar à altura da Torre Eifel. Onde eu iria arranjar 30 mil réguas para fazer a comparação. Deixa pra lá.


- Tá vendo essa Baraúna? - perguntou meu pai - Essa torre aí deve ter umas 40 ou 50 delas. Era muito para minha imaginação, que se concentrava agora no solo do trompete.


Lá em casa tinha um rádio com "onda cativa". Minha mãe era professora de alfabetização, com quem aprendia as primeiras letras do alfabeto. Não necessariamente na ordem a, b, c. Ela trabalhava para o MEB - Movimento de Educação de Base, criado pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil que distribuía rádios pelo interior do Nordeste aos educadores que pertenciam ao movimento.


O rádio só captava a Rádio Pajeú de Afogados da Ingazeira, uma das emissoras conveniadas com o MEB. Não tinha botão, não tinha dial. Ficava somente naquela freqüência. Mas para que mudar? Eu gostava da programação da rádio. Gostava do "Curiosidade Murim".


- E você que está ouvindo a Pajeú, sabe quantas pontes tem a Veneza Brasileira. Sim, porque Recife, é chamada de Veneza Brasileira por se parecer com Veneza, uma linda cidade da Itália, cortada por rios e canais. Assim é o Recife.


- Então, sabia que Recife, nossa Veneza Brasileira tem
55 pontes - repetia. Isso mesmo, 55 pontes.


Eu pensava. Um dia ainda vou em Recife, contar ponte por ponte para ver se esse programa está certo mesmo. Anos depois, subi quase 300 metros da Torre Eiffel e de lá contei parte dessa história, nos microfones da Pajeú. Que luxo.


Bom, pois "Curiosidade Murim" era assim. Cheio de números, de fatos históricos, de quantas pessoas morreram na Guerra de Canudos, no Paraguai. Na invasão holandesa.


Na Alemanha, dos anos 1923, nasceu um dos mais renomados maestros contemporâneo. Bert Kaempfert era multi-instrumentista, tocava sax, clarineta, trombone, piano, acordeon e trompete. Tornando-se, imediatamente por causa da fama, o maestro da marinha alemã, durante a Segunda Guerra Mundial. Gostava de jazz, blues, chegou a gravar alguma das canções da Bossa Nova.


Fips, como era conhecido o maestro, contratou os Beatles, no início da carreira, para gravar, na cidade de Hamburgo, terra natal do maestro, "My Bonnie", álbum em parceira do quarteto de Liverpool e o roqueiro Tony Sheridan. Viu "Murim" essa nem você sabia… Que os Beatles foram a Hamburgo, na Alemanha, gravar um disco com Bert Kaempfert? Sabia?


Pois foi esse maestro alemão, com sua African Beat, que marcou minha infância. Não apenas no Dia da Criança que eu nem me recordo se comemorava a data, mas sempre que "rolava" o programa "Curiosidade Murim" eu babava com aquele som. Mais tarde toquei sax na escola onde o maestro estudou, numa galeria bonita, no centro de Hamburgo. Toquei African Beat com os estudantes de lá…


Bom Dia da Criança!




2 comentários:

D. disse...

As vezes penso que você nem existe...
que você é fruto da minha imaginação fértil...

que você é um amigo imaginário que eu criei quando era criança...

fico realmente emocionadíssimo de conhecer suas histórias...
de saber que a minha curiosidade, a minha vontade de conhecer tudo e qualquer coisa vem de você...

você é o super-herói mais legal que eu já conheci...

amo tanto você!

Feliz dia das crianças...

seu filho, D...

Heleny Campoy disse...

As histórias de nossa crianças são as mais importantes, envolventes e cativantes. São elas que ajudaram a traçar nosso caminho. Delas tiramos o gosto e sopro de esperança.

A cada realização, cada pensar. Quando lembramos recobramos um pouco da coragem para ousar, dar o passo para não só sonhar, mas realizar.

E as crianças de fato, ganharam um di,mas a realidade é que nesse dia é nosso, das crianças que cresceram e continuaram sonhar.

Dos heróis que fomos e conseguimos nos transformar.

Compartilhar o viver, na música e na palavra é o melhor presente que poderia nos dar.

Um dia especial, para essa criança que tanta curiosidade tem.

Beijos