sábado, 8 de janeiro de 2011

Funk até o caroço


Ricardo Icassatti Hermano

Na minha pré-adolescência, conheci a música negra americana através de um amigo que era filho de embaixador. Ele esteve nos Estados Unidos e tinha um LP da banda Jackson Five. Se não me engano era o primeiro ou o segundo. Fui fisgado na hora pelo ritmo e pela dança dos irmãos que deram uma chacoalhada no cenário da música pop mundial. Eu lutava para ter cabelo black power, me vestia com calças boca de sino e deslizava com meus sapatos de plataforma. É mole?

Feel the power, ma brother!!!

Junto com uns amigos da quadra, formei um grupo cover do Jackson Five para fazermos bonito dançando nas festas. Tinha até ensaio. Naquela época, a maior parte da festa era com luz negra e música lenta para que pudéssemos dançar de rosto colado com as meninas. Assim, tínhamos acesso ao pescoço, onde começávamos a dar uns beijinhos. Se a garota desse sinal verde, os beijinhos iam se encaminhando para a boca dela ... Quase sempre a fórmula funcionava.

Esses irmãos mudaram o pop para sempre

Hoje em dia, é só pulação atrás de trio elétrico. Um saco. Acabou a diversão da sedução, o frio na barriga e o mais lamentável, acabou a arte da dança. Agora, basta sair pulando atrás de qualquer trio elétrico ou em algum show e agarrar qualquer mulher que passe na frente. Estamos involuindo. Em pouco tempo estaremos vivendo em cavernas.

Até o Obama fica bem no estilo pimp

Mas, a minha paixão pela música negra americana prosperou. Outro amigo, o Eduílton Bocão, trabalhava numa loja de discos e incrementava festas domésticas com seu painel de luzes coloridas. Também era dublê de DJ, que na época não era uma "profissão". Graças a ele, conheci James Brown, Marvin Gaye, The Supremes, Isley Brothers, Earth, Wind and Fire, Manhattans e uma infinidade de músicos que naturalmente me levaram ao blues e ao jazz.

Manja o estilão dos Isley Brothers

Todos os meus amores tiveram esses estilos de música como trilha sonora. O fato de saber dançar me ajudou muito também. As mulheres gostam de dançar e a maioria dos homens ainda não entendeu a importância disso. Ainda bem. A concorrência é pequena.

Eu, aos 14 anos de idade

Mas, não é só de música lenta que vivo. Até porque não há mais lugares para dançar esse tipo de música. Por isso, aprecio o batidão e os metais do Funk, pois a dança continua lá. A música negra americana e a dança elaborada são indissociáveis. E os cantores e cantoras brancos já aprenderam a lição. Tem que dançar.

O Funk é o irmão negro mais velho do Punk. Nasceu nos bairros pobres e as letras eram de revolta e desesperança, retratavam o cotidiano de violência e pobreza em que os músicos viviam. Era uma juventude que não via o futuro. Pois o Funk e o Punk fizeram sucesso, enriqueceram artistas e hoje já falam de outras coisas mais amenas.

Tempos loucos

No Brasil não foi diferente, ou não é. O Funk brasileiro nasceu nas favelas cariocas e veio com força ganhar o asfalto da Zona Sul. Alguns artistas ganham bastante dinheiro, outros nem tanto. A maioria continua nas favelas animando os bailes funk que atraem as patricinhas e os mauricinhos perseguidores de trios elétricos.

Começamos a ver bandas mais estruturadas e consistentes entregando um material musical decente. Como é o caso de BNegão & os Seletores de Frequência, que manda bem e toca fogo nas pistas de dança com seu repertório de Hip-Hop, Rap e Funk.

BNegão, estilo 70's revisitado

Bernardo Santos, o BNegão, é o carioca criador da banda. Cantor, compositor e guitarrista de mão cheia, vem de uma sólida carreira underground, passando por várias bandas até criar a The Funk Fuckers, que pegava pesado no som e nas letras. A banda estreou no saudoso Circo Voador completamente lotado. Dali migrou para a Planet Hemp, onde explodiu.

A porrada come solta

Em 2001, ele deixou a Planet Hemp para se dedicar ao projeto da BNegão & os Seletores de Frequência. Em 2003, ele foi um dos primeiros artistas brasileiros a aderir aos conceitos de Copyleft e Creative Commons e liberou o CD de estreia, Enxugando Gelo, para ser baixado livremente no site da banda. O álbum apresenta três músicas com críticas ao governo Lulla: "Nova Visão", "Enxugando Gelo" e "A Verdadeira Dança do Patinho".

É fogo na pista de dança

Atualmente BNegão faz parte do grupo Turbo Trio. Mas, eu acabei fazendo uma gostosa viagem pelas minhas memórias e, conhecendo meu passado dançante, meu filho Pablo me enviou um videoclipe da BNegão & Seletores de Frequência com um funk da pesada, Funk até o Caroço, que resume toda a história. Vamos nessa, som na caixa! Levante a bunda da cadeira e dance até deixar marcas de sapato no teto!

Funk Até O Caroço
BNegão, Muzak, Gracindo e Flávio

Tu tá sozinho na tua, plena força é soltura
Definição: Essa é sua decisão
Pros outros cê tá à toa, mas sua cabeça não para, maquinando qual será a próxima parada
Na mente, a necessidade de ser coerente
Nas veias, o sangue determinado a não sair da corrente
Muitas idéias na cabeça, pouco dinheiro no bolso
Pode crê, cumpadi, tu é funk até o caroço…

E atenção, o Ministério do Paulão adverte: mussiroca na aba provoca zunido incômodo, mal-estar e purulência na epiderme…
Portanto, se você tem entre cinco e cento e quinze anos, vacine-se já na junta mais próxima da sua caxanga
Lembre-se: conselho depois do erro é como remédio depois do enterro
E falando nisso, meu cumpadi pedro, funk-representante do manifesto 021 (sopra o funk), pra que finalmente reine a alegria geral, sopra meu filho, sopra o metal

Sem caozada, sem alvoroço
No seu estilo, funk até o caroço.



2 comentários:

Anônimo disse...

Bons e velhos tempos "This is Funk!"
Excelente artigo!
Um abraço e parabéns pelo blog!

Rodrigo Ramos disse...

Acho que conheço esse tal de Bocão!!!

Parabéns pelo post!!!

Me lembrou também o x-banana do Chaplin!!!