terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Você se acha normal? Então assista a "O Lado Bom da Vida"

Ricardo Icassatti Hermano

Todos nós gostamos de achar que somos normais e os outros é que são loucos. Isso ocorre porque somos extremamente vaidosos e, tampando o sol com a peneira, fingimos desconhecer nossa própria loucura. Em algum nível, todos somos malucos. Uns não deixam dúvida quanto a isso e explicitam o seu estado, queiramos ou não. Outros escondem suas loucuras no meio do grande pântano das convenções sociais, modismos, ideologias etc.

Tenho lido muitas definições para a loucura. Gosto de ler a respeito disso também, entre outras coisas. O conhecimento é vasto como o espaço sideral e gosto de flutuar por ali. Mas, as definições que encontrei não me satisfizeram nem um pouco. Assim, criei a minha: um sujeito é louco quando deixa de ser previsível. Nada é mais assustador e agoniante que a imprevisibilidade de um ser humano. 

Que o diga a minha companhia para assistir ao filme O Lado Bom da Vida (Silver Linings Playbook), candidatíssimo ao Oscar nas categorias de Melhor Filma, Melhor Diretor, Melhor Atriz, Melhor Ator, Melhor Atriz Coadjuvante, Melhor Ator Coadjuvante, Melhor Roteiro Adaptado e Melhor Edição. Pelo que vi naquela sala de cinema, esse filmaço talvez só não leve o de Melhor Edição. Talvez!

Cartaz do filmaço

Mas, eu falava da minha companhia para o filme, Little Mary. Controladora como ela só, saiu do cinema completamente agoniada, ansiosa e tonta com tanta "loucura" esplendidamente bem interpretada por um elenco estelar. Estão lá Robert De Niro, Bradley Cooper, Jennifer Lawrence, Chris Tucker, John Ortiz, Julia Stiles, Shea Whigham e outros menos conhecidos, porém não menos talentosos e brilhantes. A direção e o roteiro são de David O. Russel.

Lembra da garotinha de Jogos Vorazes? Pois é, cresceu ...

A inspiração veio do livro do escritor Matthew Quick e da própria experiência do diretor, cujo filho sofre de transtorno bipolar. O filme conta a história de dois "malucos", Pat e Tiffany, interpretados por Bradley Cooper e Jennifer Lawrence. Ele é um bipolar severo, que surta de vez em quando e acaba de sair de um manicômio onde esteve internado por oito meses após dar uma surra no amante da sua esposa. Apesar disso, é completamente obcecado com a ideia de que ainda pode salvar o seu casamento.

Imagine um bipolar obcecado pela ex-mulher

Tiffany é outro caso. Ela já vinha apresentando sintomas de alguma perturbação, quando o marido morre em circunstâncias trágicas. Ela então resolve transar com todos os colegas do escritório onde trabalhava. Torna-se uma mentirosa compulsiva e cria as situações mais caóticas possíveis. No entanto, é uma dançarina e tem um sonho: participar de um concurso de dança de salão profissional.

Os ensaios de dança são hilários

Para Little Mary, que levou um casaco, um cobertor, uma touca e um par de luvas para o cinema, aquela loucura toda, aquele aparente descontrole, aquela imprevisibilidade, são inaceitáveis e incompreensíveis. Para mim, tudo fez o maior sentido. Lembrei de todas as pessoas que conheço e reconheci em muitas delas o mesmo comportamento dos personagens do filme. Também ri muito, me emocionei muito, me inquietei, me surpreendi e simplesmente adorei o filme. O Lincoln pode até ser um épico super bem produzido, mas se ganhar o Oscar, será unicamente por motivação política. E será uma grande injustiça.

Pouca gente sabe o que é lidar com problemas mentais de um filho

O filme é realmente emocionante. Assisti várias cerimônias de entrega de prêmio em que O Lado Bom da Vida faturou quase tudo. E foi merecidíssimo. Quando sair em DVD, já tem lugar reservado na minha prateleira, ao lado Entre Umas e Outras (Sideways) e Pequena Miss Sunshine (Little Miss Sunshine). Obras primas de extrema sensibilidade e delicadeza quase sobrenatural. Assista a entrevista abaixo e me diga quantas vezes você viu o De Niro nessa situação:


Não contarei mais nada sobre o enredo, porque seria sacanagem da minha parte. Vocês precisam assistir esse filme. Mas, fica aqui a minha sugestão para que olhem bem à sua volta e depois olhem bem para vocês. Não procurem definir quem é maluco e quem não é, ou quem é mais maluco e quem é menos. Todos nós somos insanos em algum grau. Não há como deixar de sermos. Basta olhar o mundo. O Papa acaba de renunciar em meio a todo tipo de rumores sobre crimes financeiros no Vaticano. E você ainda quer ter certeza de alguma coisa?

Os diálogos são espetaculares, fascinantes, sensacionais

O importante é que temos essa força chamada "amor". Não estou falando desse "amor" equivocado que todo mundo procura por aí. Estou falando do amor que nos enche de paz e só existe a partir da tolerância; que, por sua vez, só existe com a prática da paciência. A tolerância que nos faz entender que não somos melhores que ninguém, que todos temos defeitos e todos cometeremos erros. O que vai fazer a diferença é o amor. Lembrem-se disso e assistam ao trailer:



2 comentários:

Kati disse...

Concordo com cada palavra. Amei o filme. Elenco de primeiríssima. Emocionante!

Takeo disse...

este fiilme é sensacional, eu assisti e gostei demais...
muito inteligente e bem feito, além de um belo retrato do cotidiano...