domingo, 18 de agosto de 2013

Círculo de Fogo e os monstros de todo dia

Ricardo Icassatti Hermano

O diretor Guillermo del Toro deve ter passado parte da infância assistindo Godzila na TV destruindo Tóquio todos os dias. Isso explica a bela homenagem que prestou aos seriados japoneses de monstros gigantes e super herois igualmente gigantescos, com o filme Círculo de Fogo (Pacific Rim). Em comum, além da sistemática destruição do Japão, nos seriados japoneses os monstros sempre vinham do mar. Nunca do espaço sideral (mais tarde isso ocorreu, mas não na minha infância). Natural para quem vive numa ilha e tem o mar como fonte de quase tudo o que precisa.

Cartaz do filme

O filme é sobre uma ameaça que vem do espaço, mas através de um portal dimensional que se abre no fundo do Oceano Pacífico. Del Toro uniu as duas hipóteses de maneira brilhante e manteve o tom original com os monstros surgindo do mar. Os bichos gigantes destroem tudo e querem exterminar com os humanos, que se unem e criam robôs igualmente gigantes para sair na porrada com os monstrengos. Os robôs operam como drones, mas precisam ser pilotados por duplas que tenham compatibilidade neural, que é conseguida pelas memórias de cada um, entre outras coisas.

Os robôs precisam ser pilotados em dupla

Soa complicado? Nem tanto. Apenas para alguns críticos de cinema que não gostam de ficção científica e que ficam "tontos" com tanta informação e ação. O roteiro é entremeado com os dramas dos personagens: o comandante Stacker Pentecost (Idris Elba) está morrendo; a gatinha Mako Mori (Rinko Kikuchi) tem um trauma de infância; Releigh Becket (Charlie Hunnam) perdeu o irmão lutando com um dos monstros; e por aí vai. Mas, quem quer saber disso? Todo mundo quer ver a pancadaria. E aí voltamos a ser aquelas crianças de olhos arregalados e vidrados na televisão.

Japonesa gatinha, boa de porrada e com trauma de infância

No começo, os robôs deram conta do recado e se saíram muito bem. Mas, os humanos não contavam com a astúcia de quem estava por trás dos monstros. Cada nova geração desses Godzilas é diferente da anterior, mais evoluída, aperfeiçoada. E nós não negamos nossa natureza, somos acomodados. Bastou os monstros sumirem por uns anos e o povo achou que havia vencido, começou o corte no orçamento, desativação dos robôs etc. Então os monstros voltam com tudo e dão uma surra inesquecível nos robôs. Não negamos nossa natureza novamente e partimos para a vingança.

O sistema é bruto

O filme é bom, com algumas soluções que não gostei. A história se encaminha bem até que o heroi Releigh Becket, interpretado por Charlie Hunnam, que é mais conhecido pelo papel de motociclista na série Sons of Anarchy, que passava por aqui mas tiraram não sei porque. Mas, retornando, a coisa vai bem até que o diretor e roteirista começa a fazer algumas concessões completamente desnecessárias, como a dupla de cientistas nerds claramente inspirada nos protagonistas da série Big Bang Theory.

Turma pronta para a porrada

Uma sacada bacana foi introduzir na história o mercado negro de partes, órgãos, sangue etc. dos monstros. Mas, ao vincular à dupla dos nerds, a sacada perdeu a força que tinha, fracassou como comédia e ficou boboca. No resto, o filme é muito bom, tem uma pegada de anime e nos faz retornar no tempo, quando nos assustávamos com aqueles monstros e não nos questionávamos como não morria ninguém e os japoneses conseguiam reconstruir Tóquio tão rapidamente. Tempos bons aqueles em que os monstros eram feitos de espuma ...

Eu já disse que a japonesa é gatinha?

O Café & Conversa assistiu ao Círculo de Fogo, gostou e recomenda com a cotação cinco canecas. Diversão para toda a família e lucro certo para a indústria de brinquedos e parques temáticos. Veja o trailer:


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