domingo, 25 de novembro de 2012

Marcados para Morrer. E não é o mimimi do Zé Dirceu ...

Ricardo Icassatti Hermano

Quando vi o trailer, pensei: "mais um filme com a câmera na mão ...". Mesmo assim, quis assistir Marcados para Morrer (End of Watch) porque no elenco estavam dois atores que gosto muito, Jake Gillenhaal e Michael Peña, interpretando os policias da Polícia de Los Angeles, Taylor e Zavala, respectivamente. O primeiro é um americano branco típico. O segundo, um americano de ascendência mexicana.

Cartaz do filme

O gancho para a "câmera na mão" é um trabalho acadêmico do policial Taylor. Assim, ele grava vários eventos do seu dia a dia, que são costurados e sequenciados com a filmagem normal. Ficou muito bom e não tem nada a ver com os filmes trash que temos visto desde A Bruxa de Blair

A câmera na mão tem momentos engraçados

Claro que não foi proposital, mas o filme teve, digamos, a sorte de estrear no Brasil junto com o surto de violência e ataques a policiais em São Paulo. O enredo do filme não difere muito da realidade brasileira. Os dois policiais são semi-novatos e na ânsia de representar o bem na luta contra o mal, acabam se intrometendo nos negócios de um grande cartel de traficantes mexicanos.

Enfrentar o crime não é mole não

A câmera na mão mostra que Taylor e Zavala são homens comuns, jovens, cheios de energia, vontade de acertar, querem viver e construir suas famílias. Embora tenha traçado logo no início do filme os limites entre quem está do lado do bem e quem está do lado do mal, o roteirista, que também é o diretor, David Ayer (Oscar com Dia de Treinamento), poderia ter optado pelo maniqueísmo barato e despencado na pieguice rasteira. Felizmente preferiu ser inteligente e construir seus personagens com os pés bem plantados no chão.

Frequentemente nos esquecemos que policiais são pessoas comuns na difícil posição de defender não apenas nossa integridade e propriedades, mas também nossas crenças, nosso estilo de vida, nossa liberdade mal aproveitada

Em determinado momento, os dois policiais atendem uma ocorrência de incêndio e chegam antes do bombeiros. Crianças estão dentro da casa em chamas. Zavala quer entrar no meio do fogo para salvá-las. Taylor pede para que ele aguarde os bombeiros. Zavala não titubeia e entra na casa. Taylor vai atrás, preocupado com a segurança do amigo. Eles resgatam duas crianças, mas a mãe desesperada grita que ainda resta um. 

Mesmo sufocado com a fumaça, Zavala retorna às chamas, que já aumentaram. Taylor vai junto. Eles encontram a criança, mas Zavala cai sufocado. Num esforço extraordinário, o igualmente sufocado Taylor salva o companheiro e a criança. Dias depois, após todas as homenagens e condecorações de bravura, os dois conversam e se questionam se são realmente herois. Afinal, tinham motivações diferentes para entrar naquela casa. Taylor inclusive diz que nem queria entrar, preferia aguardar os bombeiros.

Policiais que estranham serem vistos como herois

Ao se intrometer involuntariamente nos negócios do cartel mexicano, os dois jovens policiais conhecem um grau de violência inimaginável, psicopático, amoral, muito distante dos casos que costumam encarar nas ruas dos bairros mais perigosos de Los Angeles. O destino da dupla está selado e eles são alertados disso. Aos poucos, vemos o laço se apertando em torno dos dois. Torcemos para que consigam escapar, mas ninguém poderá salvá-los. Exatamente como temos visto por aqui. O mal é poderoso ... e covarde.

E o problema é que a coisa não vai melhorar ...

Marcados para Morrer é um filmaço porque brinca com a ficção e nos esfrega na cara a crueza da realidade. Pior, uma realidade que incomoda porque nos força a agir. Existe uma guerra sobre a qual ninguém gosta de falar. É incômodo, desconfortável, admitir essa enorme sujeira. Governo e imprensa se dão as mãos e só atuam quando a violência extrapola, como agora em São Paulo. Mas, essa leniência irresponsável vai nos custar caro, porque o outro lado, o crime organizado, já se infiltrou e corrompeu o poder político. A vida está ficando difícil.

...

O Café & Conversa assistiu Marcados para Morrer, gostou, recomenda e dá cotação cinco canecas. Imperdível! Veja o trailer: 


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