terça-feira, 7 de agosto de 2012

Aqui é o meu lugar

Ricardo Icassatti Hermano

Segundo as religiões em geral, nascemos aqui neste planeta ou nesta realidade para cumprirmos uma missão. Cada religião dá um nome a isso: Karma, Sonho, Destino, Maktub, Caminho ... O importante é que, aparentemente, temos algo pré-determinado a fazer por aqui. Boa parte da vida, gastamos com ignorância. Somos ignorantes de tudo, esquecemos o que viemos fazer aqui e precisamos aprender um monte de coisas antes de mais nada. 

As religiões também concordam que, mesmo ignorantes, cumpriremos nossa missão, de um jeito ou de outro. Elas também dizem que essa missão tem o objetivo de nos ensinar algo. Uns aprendem, outros não. Quem aprende, evolui. Quem não aprende, tenta novamente após cumprir um período ardendo no mármore do Inferno.

A verdade é que mesmo nos esforçando para descobrir qual é a nossa missão na vida terrena, poucas vezes perceberemos que estamos realmente no caminho certo. Geralmente ao passarmos por grandes, profundas e reveladoras mudanças. É disso que trata o filme que assisti outro dia: Aqui é o meu lugar, com interpretação espetacular do ator Sean Penn no papel principal. 

Cartaz do filme

Cheyenne é um roqueiro dos anos 80. Aquela coisa meio esquisita, meio emo, meio Alice Cooper. Cabelos desgrenhados e toneladas de maquiagem. Em nenhum momento do filme ouvimos suas músicas. Apenas ficamos sabendo que eram baladas depressivas e que o motivo da sua aposentadoria precoce se deu por causa do suicídio de um fã adolescente. 

Cheyenne e sua mulher Jane, a excelente atriz Frances McDormand

Para um ser humano emocionalmente desestruturado e imaturo, a morte do fã foi devastadora. Ele largou a música e passou a cuidar exclusivamente dos seus investimentos em Bolsa de Valores. A partir de alguns personagens que gravitam no seu universo minimalista e outros casuais, Cheyenne recebe a notícia que seu pai está morrendo. Como tem medo de avião, vai de navio da Irlanda aos Estados Unidos, mas chegando lá encontra o pai morto.

Participação pra lá de especial de David Byrne

Para complicar as coisas, o pai é judeu e esteve em campo de concentração nazista quando era criança. Junto com outro judeu, se dedicava a caçar o oficial nazista que comandava o campo onde ficou preso e que o marcou com uma humilhação inesquecível. Cheyenne então assume a caçada numa road trip pelos Estados Unidos até encontrar o tal oficial e perpretar a vingança do pai.

Cheyenne descobre um talento nato para investigação

No começo do filme, achei o roqueiro meio caricato. Temi até que fosse descambar para a comédia musical. Mas, em poucos minutos Sean Penn deu alma ao personagem e me fez prestar atenção à sua trajetória. Penn é um grande ator, um dos maiores do seu tempo. Não há dúvida sobre isso. A sensibilidade que ele empresta a Cheyenne é comovente e a sinceridade transborda da tela. Só por isso já vale o ingresso.

Personagens inusitados vão ajudando Cheyenne a crescer

Mas, o filme é muito mais. Produção Ítalo-Franco-Irlandesa rodada na Irlanda e nos Estados Unidos. Personagens incríveis cruzam a história e vão ajudando Cheyenne a amadurecer e a se encontrar. O que parece caótico, aos poucos, vai tomando forma e fazendo sentido. Até o momento final. Preste atenção numa personagem, a mãe que representa todo o drama da dor que só os irlandeses são capazes de suportar. 

O filme é fabuloso sem precisar recorrer a pirotecnias. O Café & Conversa assistiu, gostou e recomenda. Cotação cinco canecas : ) Assista o trailer:


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