domingo, 12 de junho de 2011

Caramelo


Ricardo Icassatti Hermano

No Dia dos Namorados fiz várias coisas, menos namorar. Dentre elas, almocei com Catita e sua mãe, que se atrasaram - claro - e me fizeram esperar por uma hora no restaurante. As outras coisas relevantes que fiz não foram sequer programadas. Assisti um filme e li um artigo de psicanálise do Portal Ciência & Vida, intitulado "O amor na teoria de Jacques Lacan", escrito por Walter Cezar Addeo. O artigo foi uma indicação da nossa leitora, colaboradora, Xamã e fraternal amiga @MemeliaMoreira.

Afrodite e Eros. Alguém me explica porque não
estudamos mitologia grega na escola?

O filme é uma produção franco-libanesa de 2007 e se chama Caramelo (Sukkar Banat, no original). Foi dirigido pela belíssima Nadine Labaki, que também faz uma das personagens. O nome do filme vem do cenário, um salão de beleza, onde se desenrola a história de várias mulheres libanesas. O caramelo feito de açúcar derretido é o produto utilizado na depilação da clientela.

Capa do DVD

O elenco é todo formado por amadores e a diretora trabalhou no ritmo de cada um, evitando repetir as tomadas de cenas. Segundo ela, para captar o que poderiam lhe dar de forma espontânea. O filme foi aplaudido no Festival de Cannes e faturou os prêmios do Público, do Júri Jovem e o de Melhor Filme no Festival de San Sebastian, na Espanha. Não me lembro de tê-lo visto em cartaz no Brasil, mas é possível encontrá-lo em DVD.

Sou obrigado a concordar com Lacan quando ele diz que o Complexo de Édipo lançou os homens numa busca fadada ao completo fracasso e os prendeu numa fantasia irrealizável. E isso tem criado um monte de problemas para o relacionamento com as mulheres. Também concordo com o fato de que se aproximar das mulheres não basta para ver por inteiro o que elas realmente são, o que estão vendo, pensando e sentindo.

Dito isso, o filme é de uma simplicidade impressionante. Além disso é comovente, delicado, cruel, explícito, escancarado e dramático. Embora tenha sido envolto numa forma cômica. A história entrelaça cinco mulheres, cada uma num determinado período de vida, lidando com as pressões inerentes. É família, religião, idade, sentimento e convenções sociais. Uma panela de pressão terrível prendendo seres que ainda têm de lidar com seus próprios hormônios.

Mulheres em seu misterioso universo

O salão de beleza Sibelle se encontra em Beirute, capital do Líbano. Nadine Labaki interpreta a cabeleireira-depiladora Layale, que está de caso com um homem casado, na esperança de que deixará a mulher. Claro que ele não vai cumprir a promessa. Aliás, é muito interessante como a diretora tratou esse sujeito. Em momento algum do filme, o rosto dele é mostrado. Em contrapartida, ficamos conhecendo intimamente a mulher dele.

Layale fazendo caramelo para deixar mais uma cliente lisinha

Aqui, quero abrir um parêntese. Conheço algumas mulheres que se envolveram com homens casados e outras que casaram com homens que lhes deram o mesmo tratamento. O fato do homem ser casado ou não, realmente não é importante. O importante é como trata a mulher que se entrega a ele, se submete a vexames, a maus tratos (não estou falando de agressão física), paga micos e se desdobra para agradar seu homem. Mulher assim, merece ser tratada como uma rainha.

Felizmente, sou escorpiano e pelo menos tenho curiosidade e sempre procuro conhecer melhor a mim mesmo e às mulheres. Gosto de relacionamentos sadios. Mas não consigo entender as razões que levam uma mulher a suportar ser tratada como lixo por anos a fio. Esse filme mostra bem uma situação dessa com a bela Layale. Ela faz tudo o que está ao seu alcance para agradar seu amante. Mas, ele a trata como um depósito de espermatozóides sem maior importância em vez de admirá-la.

Layale em plena decepção com um homem que não vale a pena

Não sei. Talvez esteja ficando velho, mas gosto de ser bem tratado e de retribuir esse tratamento. Não gosto de mentira. É claro que minto umas besteiras aqui e ali, não sou um santo. Mas, estou sempre me policiando porque sei as consequências de uma mentira mais grave. Por experiência própria, não gosto. Evito mentir e corro de gente que mente.

Ninguém nunca me disse que tinha mulher bonita assim no Líbano

Tem uma cena neste filme que, pela poesia, eu gostaria de ter escrito. Um guarda de trânsito é apaixonado pela belíssima Layale. Um dia, ele está tomando um café no bar em frente ao salão de beleza, quando ela chega após ter se encontrado com o amante. Ela havia achado a carteira dele dentro do carro e liga para avisá-lo. O guarda a vê ao telefone e inicia uma conversa imaginária com Layale como se ela tivesse ligado para ele. É sensacional.

Essa cena é pura poesia

O filme é maravilhoso e se eu contar mais alguma coisa, estragarei o seu prazer de assisti-lo. Tem filme que precisa surpreender e este é o caso. Homens e mulheres devem assistir porque a diretora Nadine Labaki nos abre pequenas frestas para vislumbrarmos o que passa pela alma feminina. Não desvenda, apenas mostra uns relances. E eu descobri que preciso conhecer o Líbano : ) Vejam o trailer.



Um comentário:

Clara Favilla disse...

Eu já vi esse filme duas vezes. Adorei.
Muito bom.
Bjs