Ricardo Icassatti Hermano
Sou um cara sortudo. Até naquilo que, num determinado momento, parece ser azar, depois vejo que foi sorte mesmo. Como no Salmo 23: "O Senhor é o meu pastor, nada me faltará", até hoje nada me faltou. Mesmo nas poucas vezes em que literalmente passei fome, não me faltaram alegria e plenitude. Tenho muita sorte em geral e sou abençoado em algumas áreas. Uma delas é aquela onde ficam as amizades.
Sorte é meu sobrenome : )
Hoje vou falar de café, claro, mas também de amizade. Sou naturalmente agregador. Como diz a minha amiga Rosa Costa: "você gosta de gente, né?". Eu gosto de gente no atacado, mas aprecio mesmo é a companhia das pessoas bacanas, como ela ou o meu sócio aqui no blog, Romoaldo de Souza.
Romoaldo é uma dessas amizades abençoadas
Porque pessoas que tentaram me fazer algum mal, apenas passaram rapidamente pela minha vida e se foram. Digo "tentaram" porque tristezas momentâneas ou prejuízos materiais não são de forma alguma malfeitos bem sucedidos. E é bom que isso aconteça de vez em quando para ficarmos mais atentos. É o azar que depois se mostra sorte.
Sou abençoado pelos(as) amigos(as) que escolhi e, especialmente, pelos que me escolheram. Porque benção é um andar acima da sorte. Uma dessas bençãos, sem dúvida, se chama Bebel Hamu. Ela é Barista apaixonada por café e representa aqui em Brasília a marca italiana La Marzocco de máquinas profissionais para cafeterias.
Único momento em que vemos Bebel com cara séria.
Fora isso, é só sorriso : )
Conheço poucas mulheres realmente elegantes. Bebel é uma delas, embora nem se veja assim. É também uma mulher iluminada e generosa. Talvez até por isso, por ser iluminada, seja uma pessoa generosa. Nada consegue prender a luz. Ela simplesmente transborda, atravessa, escapa.
Bebel Hamu, outra amizade abençoada
Assim é Bebel, uma figura doce e fantástica, como os cafés que encontra em suas andanças pelo país e generosamente nos convida a experimentar. Ela tem um enorme e sincero prazer em ensinar o que sabe e compartilhar os tesouros que garimpa com muito esforço. Porque ela também é uma mulher trabalhadeira, como se diz no Goiás. Até me lembrou a poetisa e doceira Cora Coralina:
"Não sei se a vida é curta ou longa para nós, mas sei que nada do que vivemos tem sentido, se não tocarmos o coração das pessoas.
Muitas vezes basta ser: colo que acolhe, braço que envolve, palavra que conforta, silêncio que respeita, alegria que contagia, lágrima que corre, olhar que acaricia, desejo que sacia, amor que promove.
E isso não é coisa de outro mundo, é o que dá sentido à vida. É o que faz com que ela não seja nem curta, nem longa demais, mas que seja intensa, verdadeira, pura enquanto durar. Feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina."
Aos 11/12 anos de idade, tive a sorte de conhecer
e conversar com a poetisa Cora Coralina
Foi o que aconteceu na última sexta-feira, quando fomos convidados por ela para um desejum regado a café da Fazenda Santa Teresinha, localizada no município de Paraisópolis, belíssima região cafeeira do Sul de Minas Gerais. Fizemos um coffee cupping com vários grãos, cujos lotes foram numerados pelo produtor Paulo Sérgio Almeida, ou simplesmente Paulinho.
A mochila da Bebel sempre cheia de tesouros
Provamos grãos das variedades Mundo Novo, dois tipos de Bourbon Vermelho e Catucaí Amarelo. Ao selecionar os grãos, Paulinho numerou os lotes e o Mundo Novo acabou sendo nomeado James Bond, porque tinha o número 007. Ficamos maravilhados com a variedade e a qualidade dos grãos de uma mesma fazenda. Doçura, acidez, corpo, aroma frutado, sabores delicados, encontramos tudo isso naqueles grãos.
Tudo pronto para o coffee cupping
No café da manhã, logo em seguida, encontramos amizade e boa conversa. Levamos as guloseimas da La Boulangerie e Bebel se esmerou em preparar uma linda mesa. Sinceramente, não sabemos o que fizemos para merecer esse tratamento, mas gostamos muito : ) O legal em nossos encontros é que dedicamos um tempo ao café e outro tempo aos temas mais variados. Falamos de música, política, negócios, tolices, piadas e, especialmente, sobre a vida.
Isso é um café da manhã!!!
É aí que nos encontramos e perdemos a hora. Foi nesse tempo que descobri que a Bebel, assim como eu, não quer mais saber de ver atrocidades e pobreza de espírito. Cansamos disso. Queremos ver coisas belas e conviver com pessoas bacanas. Sem notarmos, o café da manhã virou brunch e saímos correndo (mas com a alma levíssima) para trabalhar porque o tempo não para. Valeu Bebel : )