segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Os Infratores e a ineficiência do moralismo

Ricardo Icassatti Hermano

Vocês conseguem imaginar os Estados Unidos da América produzindo drogas e traficando em seu próprio território com a proteção corrupta de políticos e policiais, como se fosse uma Bolívia qualquer? Hoje não, mas houve um tempo, de 1920 a 1933, em que isso aconteceu e revelou à população a existência de monstros que se alimentavam desse tráfico e iam dos gangsteres aos policiais, juízes, políticos e promotores corruptos. 

Cartaz do filme

Nesses 13 anos (número sugestivo) vigorou o que comumente chamamos de "Lei Seca", gerada no rastro de uma onda moralista de cunho fundamentalista e religioso. Nos EUA, recebeu o nome de "The Noble Experiment". Na verdade, não era uma lei, mas um aditamento (o 18º) à Constituição americana, que baniu em todo o país a fabricação, transporte e venda de bebidas alcoólicas. Do jeito que os americanos gostam de beber, essa proibição abriu um vasto mercado para quem quisesse atuar na clandestinidade.

Produtores ilegais de uísque e seu alambique

Esse é o pano de fundo do filme Os Infratores (Lawless), que é baseado em fatos reais envolvendo os irmãos Bondurant, produtores de liquor e uísque de milho, maçã etc. Eles viveram nas montanhas da Virgínia, numa pequena cidade chamada Franklin County. Os caras eram do tipo durão, que estabelece limites e não têm medo de nada. Tanto é que o mais velho dos irmãos, Forrest (Tom Hardy), dizia que eles não morreriam jamais. E olha que tentaram muito matá-los.

Os caras até tentaram matar os Bondurant, mas se arrependeram amargamente

O irmão mais novo, Jack (Shia LaBeouf), é um problema porque não tem a mesma disposição dos outros irmãos para, digamos, resolver as coisas como devem ser resolvidas. O filme começa com eles ainda crianças tentando fazer com que Jack mate um porco. E ele não consegue. O rapaz também é vaidoso e logo que cresce um pouco, se apaixona por uma linda moça, filha de um pastor daquelas religiões estranhas e rígidas. 

O Jack do filme e o Jack real

O negócio era pequeno, mas ia bem. Até que um novo promotor e seu assistente chegam à cidade e querem um parte dos lucros de todos os produtores locais. Quando chegam aos Bondurant, a coisa complica porque encontram um muro intransponível. O assistente Charlie Rakes, magistralmente interpretado por Guy Pearce, é o típico funcionário público venal, corrupto, nojento, covarde e pegajoso. Está estabelecido o inevitável conflito. E é um senhor conflito.

Rakes, venal até a raiz dos cabelos pintados

Claro que tem uma gatona, a ex-stripper Maggie Beauford, vivida pela atriz revelação do momento Jessica Chastain. Ela é a única que consegue tirar o grandalhão Forrest do sério, se é que você me entende. O outro irmão é o insano Howard Bondurant (Jason Clarke). 

Os brutos também amam ...

Anos depois, a tal Lei Seca caiu e os americanos puderam encher a cara em paz. Mas, enquanto vigorou, foi uma grande fonte de corrupção e assassinatos. Especialmente em Chicago, onde prosperou o mais famoso gangster da América, Al Capone. Pela resistência aos corruptos, os irmãos Bondurant saíram da condição de infratores e se tornaram heróis. O filme é muito bom e vale o ingresso. O Café & Conversa assistiu, gostou e recomenda. Veja o trailer:


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