Ricardo Icassatti Hermano
Um circo chamado "Esperança" comandado por dois palhaços, pai e filho. Pobreza no limite da indigência. Uma vida difícil e ainda piorada pelas espertezas e corrupção entranhadas nas menores frestas. Mesmo assim, os protagonistas acham espaço para rir e fazer rir. Viu alguma semelhança com a sua realidade?
Cartaz do filme
Apesar do tom de comédia, não se espante se você sentir uma certa estranheza ao assistir o filme "O Palhaço". O filme é um espelho do povo brasileiro. Está tudo lá naquele micro cosmo. O esforço infrutífero do trabalho, a corrupção descarada, as traições, a deslealdade, a desilusão, a passividade inexplicável, o conformismo e a nossa eterna mania de fazer piada com tudo. Deve ser instinto de sobrevivência, uma maneira torta de manter a sanidade.
Um palhaço comanda o Circo Esperança
Selton Mello já está entre os grandes artistas brasileiros. Esse filme é somente mais uma prova desnecessária do seu talento, mas uma obra muito benvinda para nós. Ele escreveu o roteiro com Marcelo Vindicatto, dirigiu e atuou. E foi brilhante. É com alegria que vejo mais um filme nacional bem feito. Infelizmente, as muitas porcarias continuam pegando carona no sucesso merecido dos poucos bem feitos e atraindo os incautos para os cinemas. Espertezas ...
O filme não é uma crítica, mas está implícita
Na verdade, quem faz a (auto) crítica é o espectador
Selton Mello reuniu um belo elenco de comediantes e teve mão suave na direção. As piadas foram muito bem escolhidas, pois trata-se de um circo bem pobrinho, desses que perambulam pelo interiorzão rural. Conheço bem essa parte do Brasil, pois comecei a viajar de carona em carrocerias de caminhão aos 14 anos de idade. E era nessas estradas empoeiradas que eu gostava de estar. Hoje, sou assumidamente urbano. Mas, essa é outra história.
Bom elenco e uma pequena revelação
Foi interessante rever um espetáculo circense do interior. Assisti a vários e fiz questão de mostrar esse mundo para os meus filhos. Um deles ficou com medo de palhaços até hoje. Aquela graça meio sem graça que faz a gente rir quase que por solidariedade. Os truques manjados do mágico, os malabaristas de baixo risco. No filme, tem até uma odalisca dançando com uma espada, que me lembrou a Carolina Lima, a nossa musa Carol, bailarina de Tribal e Dança do Ventre e que também se apresenta com uma espada.
Hoje tem marmelada? Sempre tem. E o palhaço o que é? Somos nós ...
Claro que o filme tem a parte dramática, que serve para reforçar aquele incômodo de se ver refletido na tela. Afinal, toda história de palhaço tem um drama. Mas, não chega a nos fazer chorar. Apenas nos mostra mais uma faceta nossa, a da ilusão fácil que muitas vezes nos tira do nosso caminho na vida. Consequentemente, as desilusões vêm em seguida.
O filme é delicado e muito bem produzido
Vale o ingresso e todos os prêmios que recebeu e ainda poderá receber
Além de Paulo José e do próprio Selton, destacam-se as atuações dos desaparecidos Moacyr Franco, Ferrugem e Jorge Loredo ou Zé Bonitinho, como ficou conhecido. Mas, quem despontou como uma futura gata da atuação é a menina Larissa Manoela.
Essa garota tem o talento e a beleza para fazer uma grande carreira
E não é atoa que ela faz a personagem que representa a manutenção da esperança viva, apesar de tudo. E vamos tocando a vida ... Veja o trailer:
Nenhum comentário:
Postar um comentário