Ricardo Icassatti Hermano
Meu colega jornalista Maurício de Santi assistiu o filme O Diário de um Jornalista Bêbado (The Rum Diary) e postou no Facebook que riu muito, mas achou a história surreal. Eu já estava a fim de ver o filme e depois que li o post do Maurício fiquei mais curioso ainda. Hoje assisti e gostei muito, ri muito, mas não vi nada surreal lá.
Antes de mais nada, é preciso esclarecer que o Maurício é bem mais novo que eu e entrou no jornalismo numa época bem diferente da mostrada no filme. Talvez resida aí a sua descrença na história. Eu ainda peguei o final dessa era pré-computador e internet. Escrevi em máquinas manuais, a edição era feita com cola e estilete, as matérias eram enviadas e recebidas por aparelhos de telex. Posso dizer que o filme retrata muito bem o que foram aqueles anos, pelo menos para uma parte dos jornalistas de então.
Esse é o autor do livro, Hunter S. Thompson
No final é mostrada uma foto do autor do livro em que o filme é baseado, Hunter S. Thompson (1937-2005). Em seus livros, ele relata experiências pessoais e ficou tão famoso por isso que acabou servindo de inspiração para personagens de uma história em quadrinhos underground chamada Doonesbury.
Esse é o personagem das histórias em quadrinhos
Era um grande fã de Ernest Hemingway e escreveu um artigo quando o escritor morreu. Nele, Thompson disse que Hemingway se matou porque estava deprimido e não tinha mais motivo para viver, pois seus amigos ou já estavam mortos ou haviam mudado. Thompson também se matou com um tiro na cabeça.
Naquela época, muitos escritores atuaram no jornalismo
Claro que o filme carrega na tinta aqui e ali, especialmente nas cenas engraçadas. Mas, isso faz parte do arsenal de recursos empregados pela linguagem audiovisual. Era um outro tempo e quem não o viveu sempre achará improvável. Mas, basta ler On The Road, de Jack Kerouac para entender como e porquê se vivia daquele jeito.
Junto com o amigo Neal Cassady, Kerouac viajou por sete anos
na Rota 66, de onde tirou a inspiração para escrever On The Road
Sob certos aspectos, o final dos anos 50 e a década de 60 se assemelham muito com a chamada Era de Ouro, na década de 20. Muita coisa para descobrir, muita criatividade à solta, viagens em todos os sentidos e uma explosão de arte por toda parte. Como a vida é um pêndulo, o outro lado obscurantista também teve muita atividade, com golpes de estado, ditaduras (tanto faz se de esquerda ou de direita, são a mesma merda), guerras, crime organizado, tráfico de drogas etc.
O triângulo amoroso da história
O filme é estrelado por Johnny Depp na pele do jornalista Kemp, que tem sérios problemas com a bebida e vai parar num jornal em Porto Rico, que é controlado por um banco e mais um monte de escroques com interesses imobiliários na ilha. Em determinado momento, o grupo vê em Kemp o jornalista ideal para transportar para a mídia e para os leitores uma imagem positiva da sacanagem que estão prestes a realizar. Essa é a linha dramática da trama.
Na terceira vez em que acordei assim,
meu fígado mandou parar tudo ... (rs)
Mas, o filme traz surpresas hilariantes em seu elenco. Como o fotógrafo Sala, interpretado por Michael Rispoli, e o tresloucado, alucinado Moberg, vivido por Giovanni Ribisi. Os dois estão sensacionais e me fizeram lembrar meu início de carreira. Aprendi e me diverti muito com fotógrafos como Roosevelt Pinheiro, Ivaldo Cavalcante, Geraldo Magela, Rodolfo Stuckert, André Dusek, Zuleika Souza e tantos outros.
Los tres amigos
A supresa boa mesmo é uma nova atriz que, coincidentemente, havia visto ontem num outro filme menos elaborado e onde sua beleza chama a atenção. O nome dela é Amber Heard e é absolutamente linda. Daí me lembrei que ela já havia feito uma pequena aparição em Zombieland e havia causado furor com um shortinho minúsculo em Fúria sobre Rodas. Aqui, ela faz o papel da namorada carreirista do pilantra empreendedor Sanderson, interpretado por Aaron Eckhart. Claro, ela acaba se envolvendo com o jornalista.
Diz aí, ela é ou não é deslumbrante?
Pois é Maurício, aqueles eram outros tempos. Hoje é diferente. O jornalismo se tornou mais, digamos, "profissional". Os jornalistas daquele tempo só precisavam saber escrever e ter faro para a notícia. O início de carreira invariavelmente começava pelas editorias de cidade e polícia. Hoje, saem das faculdades e já vão "cobrir" áreas complexas como política e economia. Alguns se tornam "chefes" sem nunca ter pisado numa redação. Tudo muito "profissional", muito certinho. Até as "denúncias" são combinadas. Não há espaço para a aventura, o contraditório.
Amber, sua Linda!!!
O Diário de um Jornalista Bêbado, além de ser produzido por Johnny Depp, é também o segundo filme baseado na obra literária de Thompson em que Depp atua. O filme é excelente e me trouxe boas recordações de um tempo em que o jornalismo foi divertido para mim. O Café & Conversa assistiu e recomenda. Veja o trailer:
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