Fúria de Titãs 2 e a Mitologia Grega de Hollywood

Ricardo Icassatti Hermano

Fui com meu filhote Xanxão assistir Fúria de Titãs 2 (Wrath of the Titans). Os outros filhotes não puderam ir. Almoçamos no novo Dona Lenha da 202 Sul. Ainda não conhecia e ainda bem que chegamos cedo, pois fica rapidamente lotado. O cardápio traz novidades, mas eu sempre fico com a simplicidade. Xanxão arriscou um prato novo - Tagliatelle al Nero di Seppia: massa italiana negra, camarões grelhados, aspargos frescos, tomate cereja, alho, gengibre e azeite extravirgem com limão siciliano. E não se arrependeu. Saímos satisfeitos.

Dois dos vários cartazes do filme

Hollywood chutou mesmo o pau da barraca da gloriosa Mitologia Grega. O primeiro dessa série de filmes com o heroi e semideus Perseu, já foi um desaforo. O segundo jogou uma pá de cal em cima. Já contei a história real no post sobre o primeiro filme, portanto vou falar apenas dessa nova "releitura". Para começar, Perseu é retratado como um simples pescador, quando na verdade ele governou as cidades de Tirinto e Micenas. Essa última, fundada por ele. Ele nunca escondeu ou recusou a sua condição de semideus, como no filme. Ao contrário, se fez valer dela para conquistar o poder e derrotar os inimigos.

O Perseu do filme está mais para meia boca do que para semideus

No filme, ele é pai de um garoto meio abobalhado. Na Mitologia, ele foi pai de sete homens e uma mulher: Perseides, Perses, Alceu, Helio, Mestor, Sthenelus e Electrião. A moça se chamava Gorgófona. Como se vê pelos nomes, parece uma família brasileira predestinada a se tornar um time de futebol. E por aí vai. Um absurdo atrás do outro, mitologicamente falando, claro. O episódio narrado no filme não passa de uma "viagem" dos seis(!!!) roteiristas.

Perseu transformando Phineas e seus seguidores

em pedra (pintura de Luca Giordano - 1680)

Saímos do cinema seriamente desconfiados de que esse filme já foi produzido pensando nos subprodutos, como video game, bonecos e parques temáticos. Uma pena que não pensaram no aspecto didático-educacional e ensinaram Mitologia Grega de verdade. Outro acréscimo desnecessário é a introdução de um personagem piadista, o engraçadão do filme. Mais uma desconfiança de que estão querendo ganhar dinheiro com os subprodutos já mencionados. Um personagem criança e um engraçado, fórmula velha e batida.

O grande vilão da história acaba tendo uma participação pífia

Fora isso, trata-se de um bom filme de ação e aventura fantástica. Poderiam muito bem ter colocado qualquer nome fictício no protagonista que a bilheteria seria a mesma. A trilha sonora mandou bem no Rock pesado. Dessa vez, filmaram realmente em 3D e a diferença é notável. O primeiro filme não foi rodado em 3D e o efeito foi colocado digitalmente depois de pronto e acabou ficando esquisito, para dizer o mínimo. 

Belíssimo trabalho de criação e estilização dos monstros

Os efeitos especiais são soberbos e ajudou muito o diretor insistir em utilizar locações externas no lugar dos estúdios com fundo verde e explosões reais no lugar das computadorizadas. Aliás, isso parece estar se tornando uma tendência. Ainda bem. Quando o filme fica digital demais, cansa e perde o impacto. Claro que os monstros são digitais, mas estão muito bem feitos. Os produtores também devem ser leitores do Café & Conversa, pois leram nossa crítica e sumiram com a ridícula armadura cromada de Zeus ...

Poseidon e Zeus parecem ter saído de um musical hippie dos anos 70,
mas esqueceram as diferenças e se uniram para salvar o mundo

Outro ponto positivo é a gata da vez. No filme passado, tivemos a presença radiante da atriz Alexa Davalos, interpretando a princesa Andromeda. Neste filme, temos a deslumbrante, estonteante e arrasadora beleza da Musa das Musas, Rosamund Pike ... (suspiro). Aqui, ela faz o papel de ... Andromeda novamente!!! Entre as duas, fico com a Rosamund : ))) Sabe por que? Ora, porque ela é a materialização do que seria uma Deusa Grega. Já deveriam ter feito estátuas dessa mulher e espalhado pelo mundo.

Rosamund não é só LINDA. Ela sabe dar porrada também

No mais, o filme é diversão garantida para quem gosta de ação e aventura. Vale o ingresso, mas fuja da versão dublada. O Café & Conversa foi, assistiu e aprovou. Assista o trailer: