terça-feira, 5 de julho de 2011

Morte na Esplanada - Capítulo 10


Ricardo Icassatti Hermano

Assim não dá! As leitoras da Blog-Novela estão desenvolvendo poderes telepáticos ou se tornando videntes, porque ou estão lendo meus pensamento ou adivinhando o futuro. Estão descobrindo até o pouco que consigo imaginar para o próximo capítulo. Assim vocês me dão muito trabalho ... para enganá-las com reviravoltas mirabolantes : )

Mas, eu vou tentar. Quem mandou inventar de escrever Blog-Novela, né? Agora aguenta. As sugestões são todas fantásticas. Vou aproveitar bastante porque coincidem com a direção que eu já vinha imaginando. Agradeço a ajuda valiosa das colegas de trabalho Isabela, Elina e Paola; das jornalistas Raquel Alves e Luciana Cobucci; e das fiéis leitoras Telma Monteiro, Lígia David, Memélia Moreira, Marven Braga, Nora Sinátora e Adriana Zapparoli.

Todas têm me ajudado bastante na composição das personagens femininas e das masculinas também, trilha sonora etc. Além, é claro, das mulheres que me inspiraram e em quem me baseio na hora de criar as personagens. Tanto as deslumbrantes quanto as bandidas : ) Ééééé ... elas existem ... mas, é tudo ficção, lembrem-se. Apenas pesco uma característica aqui, fisgo outra ali. É um mosaico virtual.

Agora, prepare o seu cafofo, uma caneca de chá, café, chocolate ou sopa, desde que esteja quente. Vista o seu pijama de flanela ou seda vermelha, calce as meias, ligue o som do computador, toque a música da trilha sonora e divirta-se com mais um eletrizante capítulo da minha, da sua, da nossa Blog-Novela predileta!




Morte na Esplanada

Capítulo 10

Alexandre não sabia o que fazer. Sabia apenas que tinha pisado na bola. E feio. Na sua cabeça, a cena se repetia sem parar. Ele tentava descobrir onde estava o sinal que ignorou e que o levou àquela situação absurda. Em algum ponto daquela noite estava a resposta para a grosseria que acabara de fazer com Lígia.

- Eu não sou assim. Eu não sou isso - dizia desesperadamente para si mesmo.

O delegado fechou os olhos e rezou para que tudo fosse apenas um sonho ruim e quando despertasse, encontraria Lígia entrando luminosa no saguão da pousada, acelerando seu coração e tirando todo o ar dos seus pulmões. Com medo, ele abriu vagarosamente os olhos. Parado à sua frente estava o Dr. Hamilton, olhando curiosamente para Alexandre como faz com os cadáveres que examina.

- Estava aqui imaginando por que você estaria dormindo em pé no meio no jardim (risos).

- Porra Hamilton, fiz merda com a Lígia ...

- Com a investigadora francesa? A gatona? O que você fez?

- Pisei na bola ... a gente foi jantar ... ia dançar e aí ... puta que pariu!

- Alex, se você não completar as frases, fica difícil entender o que aconteceu.

- Eu pisei feio na bola ...

- Isso você já disse. Só não explicou ainda.

- Não sei onde eu estava com a cabeça ...

- Calma, ela continua aí em cima do seu pescoço. Por que a gente não vai até o bar da pousada e lá você me conta tudo, hein? Estou precisando repor a minha cota de álcool para conseguir pensar direito e parece que você também.

A conversa seguiu até a madrugada. O porre também foi arrasador. Hamilton foi o amigo que se precisa numa hora dessas. Bebeu junto com Alexandre até não aguentar mais. Pareciam dois irlandeses e não brasileiros. Mas, no meio de tudo isso, o bom doutor sugeriu uma saída viável. Um plano foi traçado e como já era manhã foi logo executado. Depois de alguns litros de café e água, claro.

A cumplicidade de diversos empregados(as) da pousada foi comprada. Os arranjos foram feitos e uma verdadeira operação de guerrilha foi iniciada. Lígia acordou cedo, como de costume, e foi para a praia andar um pouco antes de tomar o seu desejum. Espiões estrategicamente posicionados, seguiram cada passo da investigadora e relatavam por rádio diretamente à central de operações montada no quarto de Hamilton.

- QTC, QTC, central. Carcará chamando. Câmbio.

- QAP, QAP. Como estão indo as coisas por aí, Carcará? Câmbio.

- Batom chegou na praia. Câmbio.

- Okapa, Carcará. Mantenha a vigilância e avise assim que o batom estiver voltando para a pousada. Câmbio.

- Okapa. Câmbio.

Lígia andou por uma hora e retornou à pousada para o café da manhã. O café foi rápido, cerca de 20 minutos. Ao entrar em seu quarto, ficou paralisada na porta. O quarto estava repleto de multicoloridas flores silvestres. Em cima da cama, um envelope escrito à mão: Pardon. Ela não conseguiu conter as lágrimas, que agora banhavam seu rosto por um motivo diferente. Abriu cuidadosamente o envelope. Dentro havia um cartão de Alexandre.

"Ontem, fui um idiota, um egoísta. Você tem todas as razões para nunca mais querer me ver, mas eu jamais me recuperarei se não puder tentar desfazer a má impressão que deixei. Não sou aquele homem, que nem mesmo eu reconheço. Por favor, perdoe o meu comportamento da noite passada e aceite o convite para jantarmos hoje e conversarmos. Alexandre"

Lígia recolocou o cartão no envelope. Pegou sua agenda e inseriu o envelope na página correspondente àquele dia. Em seguida, separou a roupa que usaria no centro de resgate e foi tomar um banho. Um leve sorriso se instalou em seu rosto e lá ficou. Um peso enorme havia sido removido da sua alma.

Os dois só se viram na reunião do final da tarde. O helicóptero do navio de resgate estava atrasado e todos estavam um tanto apreensivos até que o piloto fez contato por rádio e disse que estava a caminho da ilha e chegaria na madrugada ou pela manhã. Trazia mais três corpos. Os últimos. Os trabalhos de resgate na superfície do oceano estavam suspensos devido ao mau tempo.

Alexandre estava especialmente ansioso, pois se aqueles fossem os últimos corpos resgatados significava também que poderia ser a última chance de confirmar a presença do assassino no avião. Foram exaustivos e longos dias de espera na ilha. O prazo final das buscas estava chegando ao fim. Ele foi procurar o Dr. Hamilton.

- Hamilton, essa pode ser a nossa última chance. Quero que você dê prioridade a esses últimos corpos.

- Pode deixar, mas você sabe que nem sempre é possível fazer um reconhecimento visual. Dependendo do estado do corpo, só pelo DNA ...

- Temos que dar um jeito. Se tiver alguém que se encaixe na descrição e na foto que temos, recolha material para o DNA. Vou falar com o Gabriel e ver o que ele já conseguiu por lá.

- Não se preocupe. Ainda vai demorar para esses corpos chegarem aqui e você tem um problema para resolver. Já falou com a Lígia?

- Ainda não. Estivemos ocupados o dia todo com o resgate e aqui não é o melhor lugar para tratar desse assunto.

- Então, meu amigo, vai atrás dela e deixa o resto comigo. Vou ficar por aqui trocando umas ideias com os legistas franceses. Os caras têm uns equipamentos de primeira e um deles também pesquisa venenos. Disse até que conhece meus estudos e que é meu fã. É mole?

Alexandre procurou por Lígia, mas ela havia retornado à pousada logo após o comunicado do piloto do helicóptero. Ele até achou que era melhor falar com ela fora do Centro. Chegando na pousada, telefonou para o quarto dela.

- Oi Lígia.

- Oi Alexandre. Obrigada pelas flores. São lindas.

- Não tanto quanto você ...

- Obrigada ... é um exagero e assim você me deixa sem graça ...

- Mas, é verdade. Você aceita o meu convite para jantar e conversar?

- Eu pensei bastante sobre isso ... e ... tudo bem. Eu aceito o seu convite.

- Às 20h está bom?

- Pode ser 20h30?

- OK. Estarei esperando no saguão.

Alexandre desligou o telefone e se sentiu radiante como há muito tempo não sentia. Pelo menos não desde a sua separação. De lá para cá não se envolveu seriamente com nenhuma mulher. Teve uns namoros rápidos, dois meses no máximo, mas foi só. Houve uma mulher que ele até pensou que poderia dar certo, mas logo percebeu o erro e saiu fora. Desde então, dedicou-se apenas ao trabalho, ao estudo e aos treinos.

Lígia desligou o telefone sorrindo como há muito tempo não sorria, sem sentir e se dar conta. Só percebeu quando se olhou no espelho do banheiro. Seu rosto tinha um brilho diferente, os olhos estavam mais claros. Checou seu corpo e viu que era realmente bonito, com curvas bem delineadas e nos lugares certos. Seios fartos e nádegas firmes. Como toda mulher, gostaria que fosse diferente em alguns detalhes, mas no conjunto era uma belíssima mulher. Ela se cuidava bastante, malhava regularmente e se alimentava de maneira saudável. Não fumava e só bebia como acompanhamento de algumas refeições.

A entrada no saguão foi mais espetacular que na noite anterior. Alexandre mais uma vez boquiaberto e sem palavras. Lígia vestia uma calça jeans e uma blusa branca. Os cabelos soltos e levemente enrolados esvoaçavam a cada passo. Nada mais simples. Nada mais deslumbrante. Todos que estavam no saguão se calaram diante daquela visão. Era o seu poder paralisante. Paris faz isso com algumas mulheres.

- Você está linda!

- Obrigada ...

O jantar transcorreu com amenidades. Falaram sobre o atraso no resgate e outros assuntos relacionados. Claramente estavam adiando o momento de abordar o assunto principal. A conversa entrou pela madrugada. Ele mencionou sua preocupação.

- Talvez essa seja a nossa última oportunidade de achar o assassino. Mas, o reconhecimento não tem sido fácil. A maioria terá de ser feita através de DNA.

- E qual é a dificuldade? Vocês têm como fazer esse exame. não?

- Sim. Apesar de limitado, temos. Mas, o problema é que precisamos do DNA do assassino para comparar com o nosso exame.

- A polícia francesa não pode providenciar isso? Vocês já identificaram o, se não me engano, Gaston Perrin?

- Sim, mas tem um outro problema. Ele é ou era do serviço secreto francês.

- Mon Dieu! Agora entendo a sua apreensão. Mas, talvez eu possa ajudá-lo.

- Como?

- A comunidade de informação se ramifica por várias áreas e de vez em quando trabalhamos juntos. Conheço algumas pessoas e poderia ver se é possível obter o DNA desse Gaston para comparar com o exame de vocês. Caso consigam encontrá-lo, claro.

- Seria de grande ajuda, mas também estamos trabalhando nisso. Os dois governos estão se entendendo a respeito.

Lígia riu.

- Isso pode levar anos e não dar em nada. Serviços secretos não abrem essas informações muito facilmente. Pelo menos não através dos canais oficiais. Tem que ser uma troca muito vantajosa para os dois lados e o Brasil não tem muito o que trocar nessa área. Não está no circuito internacional da espionagem.

- Eu sei e esse é o meu receio. Por isso, estamos tomando providências e procurando outros canais. Até porque a espionagem hoje é muito mais eletrônica do que com James Bond. Se você puder nos ajudar, eu agradeço muito.

- Vou tentar ... mas, sobre o que você queria conversar?

Alexandre engoliu seco.

- Ontem ... primeiro quero pedir desculpa. Aquilo foi de uma grosseria imperdóavel e me mostrou muito a meu respeito. Essa profissão nos embrutece um bocado. Lidamos com um lado da humanidade que a maioria das pessoas desconhece. Temos que ser profissionalmente desconfiados, paranóicos e violentos muitas vezes. Se não ficarmos muito atentos, cometemos absurdos como o de ontem. Tenho passado por experiências reveladoras, já lhe contei sobre a minha quase morte. Outra dessas experiências reveladoras foi conhecer você. Não estava procurando ou sequer vislumbrando algo assim na minha vida. Ao contrário, estava até evitando qualquer relação que passasse do trivial rápido. Por isso, foi um choque e, por um segundo, perdi a cabeça. Talvez até pela contradição que se estabeleceu. A razão me dizia que não queria se envolver, mas meu coração não ouvia. Sou inexperiente nessa área. Meti os pés pelas mãos. Você poderia me perdoar?

- Alexandre, não procure pela perfeição nas pessoas. Se fôssemos perfeitos, não estaríamos aqui. A vida é aprendizado e só se aprende errando. É claro que te perdôo. Eu também cometo erros e acho que o mais importante é ter consciência deles, saber qual foi o erro e porque o cometeu. Está dado o primeiro passo para corrigi-lo. Exatamente como você está fazendo agora. Não vou dizer que não me decepcionei. Eu havia criado uma expectativa para aquela noite. Mas, isso é um problema meu. Você não sabia da minha expectativa. É que as mulheres são sonhadoras românticas mesmo, querem que tudo seja perfeito e que os homens correspondam a todas as nossas fantasias. É complicado, eu sei ... e eu também tenho a minha história. Há pouco mais de um ano eu estava noiva com casamento marcado e peguei meu noivo com minha melhor amiga. Foi arrasador. Como você, não estava procurando por nada, mas tenho sentido um calor aconchegante no coração desde que te conheci e não sei o que fazer ...

- Sei que não é possível esquecer, mas será que poderíamos recomeçar a partir daqui?

- Esquecer não é possível, mas é possível escolher o que prefiro lembrar. E eu quero lembrar desse Alexandre de hoje, sincero, arrependido, disposto a fazer o melhor, carinhoso, atencioso, gentil, um homem ... como se diz aqui? ... bacana.

Alexandre estendeu a mão e segurou a mão de Lígia. Os olhares se procuraram, se encontraram e se fixaram. Os rostos foram se aproximando e um esbaforido Dr. Hamilton entra correndo no restaurante.

- Alexandre! Alexandre!

- O que foi?

- Acho que encontramos o Gaston ... arf ... arf ...

- Você reconheceu o Gaston?

- Quase isso ... arf ... arf ... o corpo está bem danificado ... arf ... arf ... mas várias características estão batendo ... arf ... arf ...

Hamilton pegou uma das taças, encheu de vinho e virou de um só gole.

- Você recolheu material para o exame de DNA?

- Já está na embalagem.

- Quando podemos ter o resultado?

- Em três ou quatro dias ...

- Lígia, para onde podemos enviar o resultado?

- Aqui no meu cartão tem todos os telefones e endereço de e-mail.

- Pode deixar que eu mando assim que sair.

- Valeu Hamiltão. Agora, precisamos retornar a Brasília o mais rápido possível.

- Tem um jatinho saindo em uma hora.

- Lígia ...

- Eu entendo. Vá arrumar suas malas. Eu levo vocês até o aeroporto.

Na pista do aeroporto, o jato está com as turbinas ligadas. Alexandre e Lígia se despedem.

- Assim que vocês me enviarem o resultado do DNA, vou procurar algumas pessoas que conheço no serviço secreto e que me devem um ou dois favores. Vamos ver no que dá.

- Obrigado mais uma vez Lígia ...

- Quando puder, venha me ver em Paris ...

- Não importa o que aconteça, espere por mim.

- Vou esperar. Eu quero que você venha ...

Alexandre não deixou que ela terminasse a frase. Os dois se beijaram apaixonadamente.

♦♦♦

Está ficando difícil manter o nível de surpresas nessa Blog-Novela porque as leitoras são muito espertas ou eu é que não sei mesmo como funciona cabeça de mulher. Acho que são as duas coisas : ) Mas, a ajuda de vocês está sendo valiosíssima! E, pelo jeito, continuarei precisando, principalmente nos detalhes de roupas e comportamentos femininos. Portanto, não me deixem só!

Parece que Alexandre e Lígia finalmente conseguiram se acertar. Vamos ver ... afinal, esse negócio de relação à distância tem pouquíssimas chances de dar certo. O desgaste é alto. O que vocês acham? Façam suas apostas! E o DNA? Vai confirmar a identidade do assassino Gaston Perrin? Êita caso complicado! Ainda tem a confusão política em Brasília. Alexandre estará seguro? Até quando? Emoções ...

E como diz o Romoaldo todas as manhãs, de segunda a sexta-feira, em nosso quadro na CBN Recife e, em seguida, aqui no nosso podcast: Um abraço! Bom café!

5 comentários:

Nora disse...

Divertido, sensivel, romantico e quando ia começar ação...BUM!
Fica pra próxima....

Só me resta esperar. rs
Abraços

Marven disse...

#AkiNaRoçaÉassim - o sistema é bruto. Mais bruto que o do Alexandre pelo visto. O matuto também é desconfiado e "gonorante" nem manda "frô" (rs)

Num acerto uma, hein? Vc adora me contrariar e eu adoro ser contrariada. Putz, meu! Fiquei com uma inveja danada de branca da Lígia.

Acho que romance agora só no último episódio. A novela pede mais ação policial no momento. Eitha!

À espreita na janela.

Marven de Marvênia.

isabela disse...

Muito bom o capítulo! Agora, quero saber quando o delegado vai a Paris.

:)

Ah! e estou me achando com o meu nome citado em dois capítulos da blognovela.

Telma Monteiro disse...

Eu gostaria de mais detalhes sobre a aparência do Alexandre. Esses homens da blog novela são sempre maravilhosos, se arrependem, pedem perdão, correm atrás das musas, mandam flores. Acho que está na hora de mostrar a realidade, ou seja, menos,Icassati, menos!
Maravilha poder acompanhar e sugerir.

Elina disse...

vc fala, fala, fala das românticas mas adora um romantismo, né seu escorpiano italiano?