Ricardo Icassatti Hermano
Sou um crítico feroz dos títulos que colocam aqui no Brasil em filmes americanos e de outras nacionalidades. É cada absurdo que deveria haver uma lei para punir os responsáveis. Mas, às vezes, alguém acerta bonito. É o caso do filme Tudo pelo poder. O cara acertou na mosca. Até porque o nome original, The ides of March, exige um certo conhecimento para entender.
Cartaz do filme
Ides of March é uma expressão que vem do Latim Idus Martii, que dava nome ao dia 15 de março no calendário romano. Provavelmente se referia ao dia da Lua Cheia. Além de março, a expressão também nomeava o 15º dia dos meses de maio, julho e outubro e o 13º dia dos demais meses. Além disso, o dia 15 de março era dedicado ao deus Marte e uma grande parada militar era realizada em Roma.
Modernamente, a expressão Ides of March passou a ser conhecida como a data no ano 44 A.C. em que o imperador Júlio César foi esfaqueado 23 vezes no Senado Romano por um grupo de conspiradores liderados por Marcus Junius Brutus e Gaius Cassius Longinus.
Quadro La Morte di Cesare, de Vicenzo Camuccini,
do acervo da Galeria Nacional de Arte Moderna, em Roma
Segundo relato de Plutarco, César havia sido alertado por um oráculo sobre o perigo de ser assassinado até o Ides of March. Mas, o imperador desdenhou da profecia e disse que a época havia chegado e nada acontecera. Ao que o oráculo respondeu: "Ave, César, mas ainda não passou". Essa cena é maravilhosamente retratada na peça Julius Caesar, de William Shakespeare.
Pois bem, apesar do título original nos remeter ao mesmo contexto, ou seja, seres humanos capazes até de matar pelo poder, ele não é auto explicativo para quem não estudou História com afinco. O título Tudo pelo poder sintetiza melhor essa ganância desvairada e sem medidas de quem está disposto a pagar qualquer preço pela fugacidade do poder. Pura ilusão.
Conchavos, arranjos, negociatas e pronto!
Sua alma nas mãos do Diabo ...
O filme conta o drama de um jovem jornalista americano que se engaja idealisticamente na campanha eleitoral de um candidato democrata à Presidência dos Estados Unidos. Mas, por que drama? Porque envolve fé, traição, morte e a perda de uma inocência renitente, quase inconsciente. O jornalista Stephen Meyers é interpretado por Ryan Gosling e o candidato governador Mike Morris é vivido por George Clooney, que também dirige o filme e assina o roteiro com outros três roteiristas.
Imagine uma vida em que não é possível confiar em ninguém
O elenco é da pesada e conta com as participações sensacionais das feras Paul Giamatti, Philip Seymour Hoffman e Marisa Tomei, além é claro da minha outra Musa 24 Horas, a deslumbrante Evan Rachel Wood ... (suspiro)
Minha Musa 24 Horas faz o papel de uma estagiária. Huuummmm ...
O enredo é bem conhecido. Política é um jogo sujo de ambições, traições, paranoia. Aqueles que se submetem a ele nem sabem o que querem fazer assim que chegarem lá. Querem apenas chegar lá. E para isso vale qualquer coisa, em qualquer posição de poder, não necessariamente apenas na política profissional.
Será que vale a pena se tornar um desalmado por algo tão fugaz?
Nada que eu ainda não tenha visto em meus 30 anos de jornalismo e 20 de cobertura política. Ah! Boa parte do discurso do candidato e seu material gráfico de campanha são claramente inspirados no discurso e no material utilizados pelo então candidato Barack Obama ...
Staff de campanha e a jornalista interpretada por Marisa Tomei
Relações perigosas ...
Alguns abandonam os escrúpulos ainda no berço. Outros vão abandonando pelo caminho e conforme as circunstâncias. Ainda sobram aqueles que vivem o momento decisivo, quando devem escolher se abandonam todos os escrúpulos, crenças, sonhos e ingenuidade de uma vez ou simplesmente se retiram de cena e mantêm a integridade e a alma.
Uma vez feita a escolha, não há volta
Esse é o dilema enfrentado pelo jovem jornalista Stephen Meyers ao se deparar com a verdade crua e nua sobre aqueles que o cercam e a quem admira. Não há diferença na política de qualquer país. Sempre haverá gente disposta a tudo pelo poder, seja democracia, monarquia ou ditadura. Até porque nessa busca insana estão envolvidos os defeitos mais básicos e universais dos seres humanos.
O grande jogo de interesses do poder: "Believe" ...
O filme é excelente e Clooney está visivelmente pavimentando uma carreira de diretor/roteirista. Talvez se espelhando em Clint Eastwood, uma lenda viva do cinema americano. E o cara está se saindo muito bem. O Café & Conversa assistiu, gostou e recomenda. Veja o trailer:
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