terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Expedição ao Monte Roraima - Parte 1

Ricardo Icassatti Hermano

Estava de pé, ali no meio do acampamento à margem do Rio Ték, nas terras das tribos Paurepane, Kamarakoto e Arekuna, dentro do Parque Nacional Canaima, na Venezuela. Finalmente parei para olhar demoradamente o Monte Roraima, que traduzido quer dizer "Verde Azulado". Ao seu lado, o não menos imponente Kukenan, que quer dizer "Senhor dos Ventos". Rosinha se ocupava com arrumações na nossa barraca. 

Parque Nacional Canaima, na Venezuela

Finalzinho de tarde no acampamento. O sol já ultrapassara a linha do horizonte. Fazia frio e ventava. Os cachorros procuravam comida e abrigo. Naquela região só faz frio, venta e chove. Independente do sol ou da estação. E eu havia esquecido o casaco. De repente, veio aquela sensação de que algo importante iria acontecer.

Final de tarde no acampamento do Rio Ték. Frio e vento.

No dia seguinte, nosso grupo iria escalar aquele gigantesco maciço de rocha e arenito coberto por nuvens e encravado há mais de dois bilhões de anos no meio da savana venezuelana. Essa formação é chamada pelos índios de Tepuy e tem o formato característico de "mesa", pois o topo é plano com mais de 90 quilômetros de extensão. Lugar absolutamente inóspito com fauna e flora únicas. 

Monte Roraima, escondido pelas nuvens

Achei que dormiria logo devido à caminhada inicial de 14 quilômetros, saindo de Paraitepuy até o acampamento do Rio Ték. Mas, estava ainda bastante excitado com tudo. Eram muitas novidades a serem absorvidas e muitos assuntos na bagagem. Aos poucos estava me desligando do mundo que havia deixado para trás. O exercício puxado obrigava meu corpo a se livrar das toxinas urbanas. Até a urina cheirava diferente.

As barracas do nosso grupo no acampamento do Rio Ték

Minha memória foi se apagando, os problemas desaparecendo. Não havia mais o passado. Apenas o presente e o objetivo à frente. Não importava quanto dinheiro eu tinha, minha idade, meus sonhos, realizações e desejos. Não tinha mais família, casa, carro ou qualquer meio de comunicação com o resto do mundo. Tinha a minha amiga Rosinha, uma mochila, aquele grupo e aqueles guias. Uma calma foi descendo sobre mim como um manto. A paz estava a caminho.

Rio Ték, o primeiro que atravessamos em direção ao acampamento base

Na madrugada, minha alma flutuou um metro acima do meu corpo adormecido dentro do saco de dormir. Em seguida, atravessou o teto da barraca e, com apenas um sorriso, se transportou instantaneamente para o topo do Monte Roraima. Agora eu teria que recuperá-la ou me tornaria um desalmado, um corpo sem alma. Mais um entre tantos que vagam por aí como zumbis. E um corpo vazio pode ser ocupado por qualquer coisa.

Era uma dessas tardes modorrentas no Congresso Nacional. Não havia nenhum debate importante ou votação significativa. Era algo mais parecido com um "esquenta" para o recesso de final de ano. 

A jornalista Rosa Costa - Rosinha para os íntimos - me chamou do lado de fora da sala. Queria me falar em particular. Logo pensei: vem bomba aí. Mas, ela queria apenas me provocar com uma proposta de viagem. Ela sabe que gosto de aventuras, especialmente quando envolvem imensidões.

- Quer conhecer o Monte Roraima?

- Aquele do livro "O Mundo Perdido", do Arthur Conan Doyle?

- Esse mesmo. Quer?

- Huuummmm ... (pensativo). Preciso pensar ... grana, tempo, essas coisas.

- Entra nesse site da Roraima Adventures, dá uma olhada e depois me fala.

Bom, o resto é história. Claro que aceitei. Ainda não havia percebido o efeito provocado na minha alma. Apesar de ter tido uma infância feliz em fazendas, sou um homem urbano. Gosto dos confortos e da velocidade das cidades. Mas, a minha alma, de vez em quando, necessita das vastidões dos desertos, dos oceanos, das savanas, das montanhas. E aquele era um desses momentos de levá-la para passear.

Como é de praxe, um monte de dificuldades e de pessoas surgem para tentar atrapalhar e/ou impedir esse tipo de viagem. Iluminar a alma parece incomodar um certo tipo de "energia" das sombras. O importante é que, apesar das forças contrárias, no final tudo dá certo. Como já dizia Nicholas Sparks, "nada que vale a pena é fácil"

Amanhã eu continuo : )

2 comentários:

Nora disse...

Amanhã estarei aqui! : )

Nora

AkiNaRoçaÉAssim disse...

... hummmm Deixe-me ver ... Mais um romance, digo, não mais um, mas mais um seu em prosa pra fazer a gente viajar sem sair do lugar, né? Tô gostando, ainda mais porque só agora começou.

Marven