segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Avatar, uma experiência alucinante e alucinógena


Esqueça tudo o que você já viu sobre animação digital, efeitos especiais, realidade virtual, computação gráfica e realismo fantástico. Sem isso, você correrá sérios riscos ao assistir o novo filme Avatar, escrito, produzido e dirigido pelo espantoso James Cameron.

Lula é o cacete! James Cameron é que é o cara!

Sempre pensei que obras de arte fossem uma manifestação egoísta dos seus criadores, feitas unicamente para o seu próprio prazer. Com o tempo, passei a pensar que se tratava de um monte de obsessões e impulsos irrefreáveis de mentes criativas, que precisavam abrir espaço para uma enxurrada sem fim de imagens, sons, palavras, cores, formas, texturas, sabores e aromas.

Bem mais tarde, descubro que essas criações geniais, divisoras de águas, são na verdade um grande gesto de generosidade. E sou fã dos grandes gestos. A descoberta se deu ao assistir, junto com a filharada, o Avatar.

Avatar, você não pode perder essa experiência

O enredo não é original. Já vimos essa história em outros filmes, como "Um Homem Chamado Cavalo"; "Dança com Lobos"; "O Último Samurai"; e até mesmo o recente "Distrito 9". Um ocidental (geralmente branco) é levado a conviver com um povo cuja cultura é completamente diferente e estranha a sua própria.

Com o tempo, o ocidental começa a perceber o mal que o seu povo de origem está fazendo e passa a se interessar por alguns pontos do povo que o abrigou. Em seguida, passa a admirar o modo de vida daquele povo e a querer fazer parte dele. O passo seguinte é se apaixonar por uma nativa e assumir aquela cultura de uma vez.

O casal protagonista

O que difere Avatar de todos os outros é a tecnologia e a imaginação. O roteiro estava pronto, mas não podia ser produzido. Foi preciso esperar 20 anos para que houvesse a possibilidade de criar a tecnologia necessária para ser filmado. Somente para criar o planeta em computador, com sua geografia, flora e fauna, foram gastos quatro anos.

Cameron e a câmera 3D criada para rodar o filme

Para criar os Na'vi, que são os habitantes de pele azul do planeta Pandora, o diretor se juntou a técnicos e engenheiros para criar micro sensores que, colados aos corpos e faces dos atores e atrizes, reproduzissem com fidelidade expressões e movimentos antes impossíveis. Com isso, conseguiu atingir um nível de realismo inédito nas animações computadorizadas.

A imaginação de James Cameron não sofre de anorexia criativa. Tudo o mais foi criado a partir do zero. O diretor fez o que se chamava no século passado de "caldeirão de culturas". São evidentes as referências às culturas africana, indígena americana, indígena brasileira, oriental e islâmica. Além do visual rainforest que é um misto de Amazônia, África e Tailândia. Os bandidos, é claro, são impiedosos mercenários americanos, uma espécie de Blackwater interplanetária.

Rainforest fluorescente

Mas, por que eu disse que esse filme é um gesto de generosidade do seu criador? Alguém poderá dizer que o fator financeiro é um incentivo que não se pode desprezar. Pode até ser, desde que o envolvido não fosse James Cameron, o diretor que abriu mão do seu salário millionário para poder terminar o filme Titanic.

Eles também estão azuis, mas é de frio

A generosidade está na persistência com que Cameron perseguiu esse projeto e compartilhou com o mundo uma obra prima que dividiu a história do cinema em antes e depois de Avatar. Algo tão bom que, como bem observaram meus filhos, nem precisava ser em 3D. Mas, também não seria completo se não utilizasse esse recurso. Melhor que isso, só se tivéssemos em Brasília salas IMAX, com as telas em 180º.

Ele vai ganhar dinheiro com isso. Claro que vai. Aliás, já está ganhando. E muito. Mas, não foi a sua principal motivação. Ninguém se entrega tão obstinadamente a um projeto como esse e supera tantas adversidades apenas por dinheiro. É preciso ser muito generoso para dividir fantasias que geralmente fazemos questão de guardar para nós mesmos, como um porto seguro que buscamos nos momentos difíceis.

Assistam Avatar e contem depois aos seus netos: "Eu estava lá e assisti a essa revolução na arte de contar histórias. Antes, era muito diferente".

Ricardo Icassatti Hermano

Um comentário:

Juliana disse...

A floresta fluorescente é linda... O lugar é perfeito, O visual do filme é realmente fantástico!