sábado, 5 de dezembro de 2009

Paraíso, ovos, anjos e o Zen


Quem nunca comeu esse prato, não tem a mínima ideia de como deve ser o Paraíso. A receita é uma criação genial do chef Renato Carioni, do restaurante Cantaloup, em São Paulo, é claro. Estilo contemporâneo.

O chef inventou o prato durante um jantar entre amigos e como é bom demais, acabou sendo incorporado ao cardápio do restaurante.

É apenas um ovo ... cozido, empanado e frito. Tudo em medidas exatas de tempo, preparo e ingredientes. A perfeição é assim mesmo, não é brincadeira. Exige disciplina e precisão. O ovo é servido quente, com a gema ainda mole, sobre uma cama de cogumelos e aspargos frescos salteados em manteiga trufada e molho de creme de leite e parmesão.

Para ficar igual ao Paraíso, ficam faltando apenas um punhado de anjinhos servindo ao som de cantos gregorianos ... quase um pecado : )

Às vezes, gosto de judiar dos nossos leitores. Mas, é só um pouquinho e sempre consentido. Veja o próprio Renato Carioni preparando a iguaria, que se chama Ovo Mollet.



Mas, aí você deve estar se perguntando: o que isso tem a ver com café? Ora, meu amigo e minha amiga, tudo tem a ver com café. Imagina se eu não vou tomar um café depois desse prato. Além disso, o blog não é apenas sobre café. Por isso tem o "Conversa" junto do "Café". E gastronomia tem tudo a ver, não é?

Ontem mesmo, lá no Café Eldorado, Romoaldo e eu tomávamos um excelente Orfeu e conversávamos sobre vários assuntos. Um dos temas da nossa conversa era a razão de eu dizer que uma cafeteria com o dono atrás do balcão é sempre a certeza de bom café.

Relatei o que aprendi em 30 anos de prática de artes marciais. Para ser bom em qualquer coisa, é preciso treino. A repetição infinita dos golpes é que nos dá precisão, potência, equilíbrio, timing e visão de luta.

Para isso é preciso disciplina, pois sem ela não damos três voltas na nossa própria casa. Para ter disciplina é preciso abrir mão de tudo e se entregar de corpo e alma à prática do ofício, seja ele qual for. Fiquei 20 anos sem almoçar para poder treinar.

Algumas pessoas já nascem talhadas para esse tipo de vida quase monástico. Acho que é o meu caso. Outras precisam ser trabalhadas. No entanto, quase todo mundo pode ser moldado e treinado se tiver o professor certo.

O dono de uma cafeteria que fica atrás do balcão tomando conta de tudo, está aperfeiçoando seu ofício na lida diária. Cada vez mais, ele vai conseguir enxergar detalhes imperceptíveis aos olhos dos outros e desenvolver suas habilidades. E a cada erro corrigido, encontrará outros 10. Essa deverá ser também a sua grande motivação, pois um dia seu trabalho vira arte.

Por isso costumo dizer que, nessas condições, uma cafeteria é sempre boa, pois está no caminho correto. Todas as vezes que eu voltar ali, encontrarei novidades, melhorias, progressos significativos, gente motivada e feliz. Haverá sempre uma surpresa agradável nessa busca pela excelência. Não vejo motivo melhor para continuar voltando.

Porque tomar café, eu tomo em casa. Quando vou a uma cafeteria, eu quero uma experiência olfato-gustativa, quero sensações, quero tudo a que tenho direito.

É o Zen do café.

Ricardo Icassatti Hermano

2 comentários:

Anamaria disse...

Adorei! Vou fazer. Quer dizer, vou tentar... ;)

Café & Conversa disse...

Não esqueça de nos enviar fotos e o relato da aventura!!!