O jovem e talentoso casal de jornalistas Caiã Messina e Raquel Ribeiro saíram em merecidas férias. Mas, antes que começassem a encher as malas com meias e cuecas (sem grana dentro), arranquei deles o compromisso de enviar ao blog Café & Conversa um relato sobre os cafés que tomassem ao longo da viagem. É claro que usei de muita chantagem. Eles estavam correndo na chuva e lhes ofereci uma carona providencial. Em seguida, veio a facada.
A viagem se deu em duas etapas. A primeira foi marítima, a bordo de um navio de cruzeiro na rota Santos - Buenos Aires - Punta del Este. A segunda foi em terra, na cornucópica megalópole chamada São Paulo. E os dois cumpriram o prometido, mas não nos deram as fotos deles no navio ...
Leiam a seguir o relato dos dois:
Café (e comida, muita comida) a bordo!
Não. Não entendo absolutamente nada de café. Mas, como prometi aos donos deste blog um relato fidedigno (se bem que após uma carona debaixo de chuva, a gente fala qualquer coisa), preciso antes de mais nada alertar o querido leitor. Alerta dado, vamos lá.
De cruzeiro a hermanos
Embarcamos em um cruzeiro marítimo com destino a Buenos Aires e Punta del Este em um baita naviozão, o Imperatriz, de bandeira panamenha. Pensei que o café servido lá seria tão cinco estrelas quanto a cabine, a comida e o serviço. Mas, me enganei ...
Posso não conhecer e entender todas as nuances da bebida, tão bem explicadas aqui, mas garanto a todos que consigo distinguir algo horripilante à distância. E esse foi o caso.
Fomos ao piano bar da embarcação, um espaço com direito a poltronas e sofás de couro e jazz ao vivo, na certeza de que tomaríamos um belo espresso. O cheiro era convidativo. A macchina, italiana. Mas, o produto servido era tão ruim, tão ruim, que não me animei a perguntar qual era o pó e nem se tinha barista. Apelei para um péssimo (melhor que horripilante, notem) Capuccino pelo resto da viagem e me refugiei no vinho do Porto, Mojitos e Limoncellos nos fins de tarde.
Em Buenos Aires e Punta, aí sim tomamos bons cafés. Mas, para nossa surpresa, a Illy tomou conta do mercado hermano. Sim, é um bom pó; sim, foram bem tirados; mas esperava um pouco mais de "criatividade" dos nossos vizinhos. Algo mais pessoal, com um terroir (gostou Romoaldo?) variado e não essa massificação que domina os lugares turísticos. Nos falaram que nas estâncias a coisa é menos globalizada, por assim dizer. Mas não tínhamos tempo para novas experiências. Então o jeito foi desembarcar em Santos.
De volta ao Brasil
Isso mesmo, de volta a Santos da Bolsa do Café, por onde no começo do século passado escoava a riqueza nacional. O prédio é lindo, vale a visita. Assim como o centro velho da cidade. Estão prometendo um programa de revitalização das fachadas. Espero que cumpram a promessa. Até lá, fico com o bom e sempre surpreendente centro de São Paulo, olhado com desdém pela maioria dos paulistanos, mas que melhora a olhos vistos.
Por baixo da camada de camelôs e prédios degradados está uma riqueza arquitetônica ímpar. O Martinelli, o Copam, a São Luís. Quem não conhece e prefere pegar um avião para se fascinar com a "downtown Buenos Aires", além de deslumbrado não sabe o que está perdendo. Mas, como quem gosta de pobreza por muito tempo é petista ou intelectual, seguimos o conselho do Ricardo Icassatti e fomos a um restaurante chamado D.O.M., pilotado pelo chef Alex Atala.
"Não é comida. É uma experiência gastronômica."
Pois é , Ricardo. Faço da sua frase (acima) a minha. Já fui a outros restaurantes cinco estrelas antes, mas em nenhum comi tão bem. Optamos por um menu degustação, com duas entradas, quatro pratos, um queijo e uma sobremesa. O chef Alex Atala e sua equipe realmente fazem por onde merecer que o D.O.M. figure como o único estabelecimento brasileiro no Guia Michelin, além de constar na lista dos melhores restaurantes do mundo por três anos consecutivos.
O lugar é no bairro Jardins. Simples e despretencioso, nem de longe lembra a ostentação doFasano ou o minimalismo do Emiliano. Não vou descrever os pratos para não estragar a surpresa de quem pensa em ir ao D.O.M. Nem os preços, para não chocá-los. Basta dizer que a tal espuma de manga (amassada à mão, passada em peneira fina e condensada no sifão) comsorbet de coco e cristais de gengibre, já valeu a pena.
O "lardo" de porco com redução de molho roti e mandioquinha, a ostra empanada na tapioca com sagu e ovas de salmão foram, como dizem os camelôs da 25 de Março, um "plus a mais". Sinto decepcioná-los, meninos, mas não pedimos café desta vez. Queríamos voltar para casa sem nenhum tipo de crítica mais maldosa. Fora que quanto mais lembrássemos do sabor da espuma de manga, melhor. Então, o jeito foi partir no dia seguinte para o Octavio Café.
Pense numa cafeteria que te recebe com esse assoalho
O Templo
A cafeteria Octavio é um daqueles lugares em que gente como a gente, que não sabe do assunto, vai e percebe que café é uma arte e que precisaríamos de anos de treinamento e conhecimento para aproveitar o que é servido. Tudo gira em torno dele, sua excelência o Alto Mogiana. Lá, as baristas ganham o lugar de destaque que merecem: o centro do estabelecimento. E, dali, comandam a ação de proporcionar prazer aos clientes.
Balcão dos Baristas, onde a magia acontece
Pedimos um espresso feito com o blend Octavio. Crema espessa, coloração boa, cheiro ótimo. O sabor tem toques de chocolate. Tanto que nenhum de nós ousou - nem precisou -, ó suprema heresia, adoçar o café! O retrogosto é marcante, mas não amargo. Acho que isso é bom (é?).
Espresso na Octavio é assim
Cappuccino na Octavio é assim também
Expresso Oriente
Revigorados e nos achando os entendedores, no dia seguinte resolvemos ousar ainda mais. Fomos a uma casa turca especializada em kebabs, a Kebabs Salonu, na Rua Augusta, pertinho da Av. Paulista. Não nos arrependemos. O kebab de cordeiro com coalhada e o de linguiça estavam simplesmente maravilhosos! O pão Lavosh legítimo feito ali e a decoração em motivos orientais garantiram novas visitas em breve. Fora que o café servido é o blend da cafeteriaSanto Grão.
Podíamos pedir espressos, mas otomanos que somos, optamos pelo café turco. Forte (é como um café de marinheiro) como tem de ser, servido em copos de louça por um pequeno bule de prata, como manda a tradição. Para ganhar nota máxima, só faltou alguém para ler a borra e prever a desclassificação do Corinthians na Libertadores, ainda na primeira rodada ...
De volta para casa
Geladeira vazia, sabadão de calor no Extra ... Só me dei conta que estava de volta quando a Raquel vira para mim, aponta para a gôndola e fala: "Pega lá meio quilo de Santa Clara. Ali, perto do Café do Sítio".
É ... Voltamos. Mas conhecemos a ante-sala do Paraíso.
Caiã Messina e Raquel Ribeiro
Enviados especiais do Café & Conversa
Um comentário:
oi........pelo sitermiter,alguém procurava o seu blog e acabou no meu que é boteco do café....tambem gosto do nome café........daí vim dar uma espiadinha no seu e gostei.Vou te seguir.........um abraço e até a próxima.
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