Ricardo Icassatti Hermano
As leitoras e os leitores da Blog-Novela Broken Heart's Brodo estão indo à loucura com tantas emoções e reviravoltas. Quem torcia pela Carmem, agora é fã da Helga. Quem desconfiava do Raffaello, passou a admirá-lo. Quem achava que a relação tinha futuro, agora tem dúvidas. Quem não tinha opinião, agora rói as unhas apreensivo. E quem dizia não ler a Blog-Novela, está lendo escondido.
Será que essa história terá um final feliz? Com casamento e beijo na boca, como dizia o mestre Nelson Rodrigues? Será que essa história tem heroi e heroína? Capazes de sacrifícios e superações? Será que o amor realmente prevalecerá acima de todas as dificuldades humanas? Será que o amor existe ou é apenas uma reação química?
Quem vai responder essas perguntas e todas as outras que ainda não foram feitas é você, leitora e leitor, com suas críticas, sugestões, dicas e reflexões. São vocês que nos dão a direção, o Norte, o prumo. E somos eternamente gratos por isso, por esse esforço coletivo de criação que só enriquece o blog Café & Conversa.
E chega de conversa, né? Segue a trilha sonora para o sétimo capítulo da minha, da sua, da nossa eletrizante, emocionante e enebriante Blog-Novela. Acenda um incenso, prepare um copo da sua bebida predileta, sente-se confortavelmente, ligue e som e divirta-se : )
Broken Heart's Brodo
Capítulo 7
Apesar da cena de stress, tudo parecia estar indo bem entre Raffaello e Carmem. Tão bem que decidiram fazer uma viagem mais longa, 10 dias no total. Iriam se dedicar a si mesmos, como já vinham fazendo esporadicamente. Estavam felizes com a chance de passarem mais tempo juntos. Como dizia Raffaello, eles começavam a fazer amor no momento em que se encontravam e só paravam quando se despediam.
Os dois primeiros dias pensaram estar no paraíso. Como se encaixaram - em todos os aspectos - perfeitamente desde o primeiro beijo, agora pareciam um quebra-cabeças finalizado ou um castelo de bloquinhos de madeira terminado. Tudo corria às mil maravilhas quando, repentinamente, Carmem adoeceu. Uma gripe fortíssima a deixou prostrada.
Enquanto ela lamentava e dizia que a sua doença estragara a viagem, Raffaello tomava providências para cuidar da saúde de Carmem e dar-lhe o maior conforto possível. Ela se consultou com um médico. Raffaello comprou os remédios e não saiu do lado dela um segundo sequer.
Ele cuidava dos horários da medicação, da comida e até dos filmes que assistiriam na tevê. Ela só precisava ficar deitada e repousar. Com dificuldade para respirar, Carmem dormia pouco e quando conseguia, roncava como uma motosserra. Uma tarde, assistindo tevê, ela conseguiu dormir no colo de Raffaello, que ficou imóvel por quase quatro horas apenas vigiando o sono dela.
Assim que ela melhorou, retomaram a programação da viagem. Raffaello estava feliz pela oportunidade de cuidar da mulher que amava. Faltavam dois dias para a viagem terminar. Carmem estoura novamente por nada. Preocupada com questões de trabalho, Raffaello não se conteve e disse que tudo daria certo. Aí ...
- Eu já disse que não suporto gente que fica tentando me animar! - gritou Carmem.
- Cometi um erro, eu sei. Não deveria ter falado nada. Deveria deixá-la aí no seu canto se lamentando, é isso?
- Eu estou cheia de dúvidas e problemas que só eu posso resolver. Você só precisa me ouvir, perguntar o que eu estou fazendo para resolver ...
- Carmem, não sei do que você está falando. Eu não ajo dessa maneira. Não vou ficar simplesmente olhando a mulher que amo sofrendo por algum problema que talvez eu possa ajudar. E se o problema não tiver solução, solucionado está. Sou um otimista, vejo a vida de maneira positiva e num contexto de evolução, de aprimoramento, e não de desespero e depressão.
Carmem começou a se vestir e colocar algumas coisas numa sacola. Raffaello viu aquilo e perguntou se ela estava se preparando para sair. Ela não respondeu. Continuou falando das coisas que odeia e vestiu um sapato. Raffaello perguntou pela segunda vez se ela estava se vestindo para ir embora.
- Por que? - respondeu rispidamente Carmem.
- Porque se você vai embora mesmo, tem um monte de coisas suas lá no banheiro. Não esqueça de levar tudo. Não quero que você esqueça algo e depois seja obrigada a voltar para pegar - disse ele, sem piscar ou alterar a voz.
Carmem ficou paralisada. Por um tempo, seus olhos ficaram saltando de um lado para o outro, como se procurassem um argumento perdido pelo chão do quarto de hotel.
- Não, eu não vou embora. Nem sei porque vesti esse sapato.
- Eu também gostaria de saber.
Ela continuou com um sapato calçado e um pé descalço. Raffaello havia tido muita paciência com os ataques de Carmem. Mas, aquela ameaça boba havia sido demais. Se tinha algo que ninguém deveria fazer com ele era ameaça e desafio. Ele topava no ato e pagava para ver.
- É ... você tem razão - disse Carmem, quase sussurrando.
- Em que?
- Você é um excelente jogador de pôquer ...
- Isso não tem nada a ver com jogos. Não jogo com pessoas, muito menos com a mulher que amo. Também não jogo com sentimentos. Isso eu levo a sério, muito a sério. O que não é negociável é ameaça. Não me ameace a não ser que queira levar até o fim, porque eu vou até o fim. Eu aturo muita coisa, muito desaforo, mas ameaça não.
- Mas, eu não ia embora ...
- E se não vamos a lugar nenhum, então tire esse sapato que ainda continua no seu pé.
- Nao sei nem porque eu vesti esse sapato.
- Você já disse e isso mostra que a nossa conversa entrou no ciclo de repetição. Então é melhor encerrar por hoje. Vou dormir. Boa noite.
Raffaello deitou na cama enquanto Carmem se dirigia ao banheiro. Com um pé descalço e o outro calçado com o sapato que ela não sabia porque estava vestindo. No dia seguinte, ele já havia colocado uma pedra sobre o assunto, mas sentiu que quase toda a magia que circundava o casal e inundava os ambientes em que se encontravam, havia se dissipado como nuvem de fumaça em dia de vento.
Raffaello então decidiu tentar recuperar a magia perdida, mas o esforço fez com que notasse outra coisa. Seu coração tinha uma pequena rachadura. Bem pequena. Mas, quem conhece rachaduras, sabe que elas sempre aumentam se algo não for feito rapidamente. Conforme aumenta a rachadura, a velocidade também aumenta na mesma proporção. Ele estava disposto a tentar, mas não poderia decidir por Carmem.
Carmem reclamava bastante das coisas em geral. Sempre achava que era mal atendida, que a comida não estava no ponto ideal, que o local não estava devidamente limpo, que determinado serviço era ruim, que as pessoas eram incompetentes etc. Sob o manto da "consciência ecológica", reclamava até dos canudos plásticos que estavam poluindo o planeta.
Raffaello ouvia aquilo tudo e sorria, pois é um homem gentil. Por dentro, já estava começando a se incomodar. Até porque ele sabia que esse tipo de julgamento tem como principal parâmetro a pessoa que julga. Ele também sabia que ninguém é perfeito e nem serve como parâmetro para nada que não seja a si próprio.
E Carmem se achava - literalmente - a mais competente e perfeita das criaturas sobre a face da terra. Tinha sempre uma crítica abusada na ponta da língua, seguida de uma opinião definitiva e incontestável. Mesmo sendo uma grande profissional na sua área, só passava a imagem de arrogante, ofensiva e intragável.
Com isso, conseguia apenas discussões inúteis e até humilhar em alguns casos. Se dava uma importância que não tinha e não se dava conta que estavam se lixando para o que ela pensava sobre qualquer assunto e que as únicas pessoas que se importavam eram aquelas que a amavam. E eram poucas. Mais ninguém.
- Se eu morasse nos Estados Unidos, as pessoas iriam me chamar o tempo todo de "bitch".
- Por que?
- Porque eu sou muito cri-cri. Eu quero um dia ser parecida com você, ter essa capacidade de absorver bem as coisas.
- Você é bem exigente mesmo ... - pensou Raffaello com seus botões.
Na volta para casa, Raffaello meditou bastante sobre tudo o que aconteceu na viagem, de bom e de ruim. Pesou, ponderou e vislumbrou o que não queria ver. Mesmo assim, decidiu insistir. Achou que valia a pena e que as coisas poderiam se ajeitar. Afinal, relacionamentos são exercícios de superação e crescimento pessoal, quando as pessoas se amam. Por outro lado, Carmem disse que está "emocionalmente indisponível", seja lá o que isso for.
Eles teriam um novo encontro dentro de poucos dias. Raffaello decidiu aguardar e ver o que iria acontecer.
E agora caras leitoras e caros leitores? Vocês acreditam na força invencível do amor? Essa rachadura vai aumentar até estilhaçar tudo ou haverá um jeito de impedir? Raffaello está prenunciando o que? E Carmem? O que pretende com essa postura? Será que a magia voltará e restabelecerá o encanto? Ou se perdeu para sempre?
Ajudem-nos a responder essas difíceis questões com suas observações, críticas e sugestões. Todas serão muito benvindas, como sempre. Continuem com a gente e não percam o desfecho dessa esfuziante Blog-Novela. E como diz o Romoaldo todas as manhãs, de segunda a sexta-feira, em nosso quadro da CBN Recife: Um abraço! Bom café!
4 comentários:
Será que Carmem nunca leu "naquele" livro infantil a lição pra vida toda – ‘Cativou, tem que cuidar’. Ela não é uma mulher inteligente ou simplesmente não gosta dele, Raffaello.
É intuitivo a questão do cuidado para a perpetuação de seja lá o que for.
Esse capítulo, quiçá a estória de amor Carmem x Raffaello, pode-se resumir na parte mais linda e triste da narrativa de hoje –
“... a magia que circundava o casal e inundava os ambientes em que se encontravam, havia se dissipado como nuvem de fumaça em dia de vento.”
Já posso até sentir o cheiro do perfume importado maravilhoso da Helga anunciando o próximo capítulo.
Ah, um perfume... É tudo!
À espera, à espreita do próximo.
Marven.
Essa rachadura vai virar um rompimento de barragem (ficando no meu tema)!
Pela primeira vez estou torcendo para o conteúdo de um reservatório (no caso o coração de Rafaello) escoar em turbilhão pela brecha escancarada...
Helga (depois e uma missão no Paquistão) pode voltar para contar que, sob o disfarce de mulher empresária bem sucedida, é na verdade agente da CIA.
Romântica Marven,
Você é uma mulher muito perspicaz e tem razão quando diz que é intuitivo o cuidado para a perpetuação de qualquer coisa.
Infelizmente, o mundo moderno está matando a intuição humana e deixando apenas a ansiedade, a angústia e o desespero aos seres humanos. Estamos vivendo tempos insanos ...
Abraço
Redação do Café & Conversa
Querida Telma,
Gostei da sua associação : ) Fiquei imaginando essa rachadura numa barragem e lembrei daquela história holandesa do menino que evita um desastre colocando o dedo na rachadura de um dique e tapando o vazamento.
Você deve conhecer bem o processo das rachaduras e como evoluem rapidamente. A partir de um ponto, o desastre é inevitável, como temos visto por aí.
Sua magnífica sugestão para a Helga foi anotada, mas não posso adiantar o que vai acontecer. Nossas(os) leitoras(es) estão roendo as unhas do pé, porque as das mãos já acabaram ... (rs)
Abraço
Redação do Café & Conversa
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