Ricardo Icassatti Hermano
"Toda unanimidade é burra", já dizia o sábio Nelson Rodrigues. A Copa do Mundo de Futebol é uma quase unanimidade. Digo "quase" porque pessoas inteligentes, de bom gosto, com recursos e que têm mais o que fazer, aproveitam que a massa está ocupada com a televisão e viajam para apreciar o mundo civilizado sem muvucas populares.
E como o seu blog favorito é inteligente, culto, de bom gosto e sem recursos, aproveitamos para pegar carona na aba dos amigos com recursos para conhecer o mundo e seus prazeres. Como não podemos ir nós, os redatores, vai a nossa caneca personalizada e exclusiva. Graças à gentileza e à generosidade de um bando de amigos que se dispõem a carregá-la por aí, tirar fotos e relatar suas aventuras turísticas.
Foi o que aconteceu com a jornalista Maria Lima, também conhecida no submundo dos leads, escândalos e dossiês como Mariazinha, ou ainda no jet set internacional e na ponte aérea Rio-Paris, como Little Mary. Na condição de colaboradora informal e voluntária intimada, a velha profissional de imprensa passeou pelo Velho Mundo e levou nossa caneca.
Little Mary não deixou por menos e levou nossa já famosa caneca para conhecer um dos templos da filosofia moderna, o solo sagrado onde o filósofo, escritor e crítico Jean Paul Sartre passou o rodo na Simone de Beauvoir, enquanto filosofava, degustava um café, bebericava uma taça de vinho e devorava um soufflé de queijo.
Solo sagrado da filosofia
Exatamente, caro leitor e cara leitora. É o Café Les Deux Magots!!! Era ali que Sartre trocava ideias turbinadas pela cafeína com seus compatriotas intelectuais e pensava numa maneira de convencer a escritora Simone de Beauvoir a desistir da ideia maluca de casamento. Tudo em nome do fortalecimento do feminismo, claro.
"Tamanho não é importante, Jean Paul. Eu quero é casar!"
O cara era simplesmente um gênio e mostrou ao mundo que melhor do que ser uma paisagem inútil, um metrosexual como Rick Martin, Gianecchini e Cristiano Ronaldo, o bom mesmo é ser inteligente. O que no Brasil é um problema. Aqui, a inteligência alheia provoca pavor, tremores e repulsa.
Momento exato em que Sartre bolou como convencer
Simone a desistir do casamento
Mas, os homens precisam saber que todos (eu pelo menos) devemos muito a Simone de Beauvoir e seus livros sobre as angústias femininas. Graças a ela, a mulherada entendeu que havia chegado o momento de liberar geral. Foram os loucos anos 60 e 70, antes da AIDS que acabou com a brincadeira. Ainda bem que vivi essa época : )
Simone de Beauvoir também botava pra quebrar ...
Isso até me lembrou um versinho composto, se não me engano, pelo Ziraldo:
Simone de Beauvoir, Simone de Beauvoir
Se não fosse você
O que seria de moi?
Mas, não quero tomar o tempo de vocês com passagens históricas, fenômenos culturais e memórias felizes. Fiquem com o relato de próprio punho da jornalista Maria Lima.
"Com a caneca do Café & Conversa e um vidro lacrado de Rivotril na mala para encarar meu cagaço de avião, rumamos em direção ao aeroporto para 10 breves dias de férias em Londres e Paris.
Além do pânico que teima em me acompanhar nessas viagens longas, minha irmã, sobrinha e eu estávamos com nossos corações apertados. Naquele mesmo dia havíamos perdido uma tia querida. Mas, logo no chek in, me encontrei com o tranquilão João Domingos.
Um bom presságio de que a viagem seria muito legal. E foi. Nem precisei me dopar de Rivotril para encarar as turbulências da zona de convergência do Atlântico.
Além de mostrar Londres e Paris para a minha sobrinha, que comemorava seus 15 anos, tinha uma missão: levar a caneca do Café & Conversa para um passeio no charmoso e tradicional Café Les Deux Magots.
Little Mary filosofando com a caneca, depois de umas cervejas ...
Localizado na chiquérrima área de Saint German de Prés, ao lado de lojas das grifes mais caras da Europa, o café que já serviu de locação para vários filmes seria apenas mais um dos adoráveis cafés com mesinhas e terraço super florido. Mas, até hoje, passam por ali a nata da intelectualidade e milhares de turistas do mundo inteiro, que entre uma xícara e outra de café ou chocolate, sorvem também a história do ócio criativo do casal Simone de Beauvoir e Jean Paul Sartre, que ali passavam boa parte do tempo.
Cumprir a missão que me foi dada pelo Ricardo foi moleza. Antes de Paris, passamos por Londres, onde, como na capital francesa, a população convive muito bem com pombos andando e até pousando nas mesas dos restaurantes.
No mercadão de Covent Garden, por exemplo, tínhamos de tampar nossas pints de Guiness para evitar um novo ingrediente na amarga cerveja: pluminhas de pombo que ficavam flutuando no local, para minha agonia.
No Les Deux Magots, além dos pombos, se der moleza os passarinhos de menor porte dividem com você os pratos de salada ou o pão.
Para introduzir a caneca do Café & Conversa entre as louças branquinhas, com o logo do café, pedimos um brunch com pães, carpácio com o pão francês bem duro, salada, Croque Monsieur - depois da baguete com queijo camembert, o clássico dos sanduíches franceses. Café e chocolate com creme para enfrentar o frio . E uma cerveja que ninguém é de ferro.
A caneca do blog morando na filosofia ...
O lugar tem um clima especial e os garçons impecáveis dão o tom da elegância e da sobriedade por ali. Tentei descobrir a origem do café servido no Les Deux Magots, mas a primeira resposta do garçon me desanimou de ir em frente.
Croque Monsieur é esse sanduba à direita
Contrastando com a ótima comida e a beleza do lugar, eles não fazem a menor questão de ser simpáticos. Aliás, como os franceses em geral. Perguntei onde o café servido ali era produzido e de que marca era. O garçon de smoking deu de ombros e respondeu com ar blasé: "Je n'ai aucune idée (não faço a menor idéia)". De qualquer forma, minha irmã, minha sobrinha e eu tomamos e gostamos muito."
Um comentário:
Essa Mariazinha...
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