sábado, 26 de junho de 2010

Porque o Dunga acertou e errou


Ricardo Icassatti Hermano

Essa confusão entre o técnico da Seleção Brasileira de Futebol, Dunga, e uns jornalistas da TV Globo nos mostrou algumas coisas básicas. A primeira delas é que os jornalistas ainda não entenderam qual é o seu verdadeiro papel numa Copa do Mundo.

Embora eu não seja fã de futebol - prefiro outros esportes -, reconheço que a Seleção é o instrumento catalisador da emoção do povo de um país que adora futebol. Os jornalistas, por melhor que sejam, jamais serão. São apenas o veículo dessa catalisação. O link entre o torcedor e o jogo. Nada mais.

No imaginário popular, Dunga é um dos heróis da Copa de 1994. Ele era o capitão do time que conquistou o Tetra Campeonato Mundial (obrigado Elina!). Ele era o líder dentro do campo.

Seu papel mudou pouco. Hoje é o técnico e continua a liderar o time. Portanto, no imaginário popular, Dunga continua conquistando o que o povo deseja e sendo seu mais legítimo representante no futebol. Os jornalistas, por mais engraçadinhos que sejam, jamais conseguirão esse lugar no coração do país. Ninguém lembrará seus nomes quando falarem sobre essa Copa.

Dunga acertou quando cortou os privilégios da imprensa, especialmente da TV Globo. Vimos a farra que foi na Copa passada e o resultado obtido. Jornalistas e comediantes se fazendo de jornalistas tinham acesso livre até aos quartos de hotel dos jogadores. Esses, por sua vez, faziam o que bem entendiam. Incluindo nesse pacote as noitadas em boates, bebidas alcoólicas e mulherada. Geralmente acompanhados pelos mesmos jornalistas.

Os treinos eram abertos e viraram outra farra. Os jogadores davam mais entrevistas e autógrafos do que treinavam. Havia até venda de ingressos para os treinos. Faltou pé no chão e seriedade.

Fui atleta e competi boa parte da minha vida. Sei como é importante a concentração e como é difícil manter o foco para ganhar qualquer competição. Não há espaço para o meio termo. Leva a sério ou perde. E os jornalistas esportivos são mestres em faturar na vitória e fugir da responsabilidade nas derrotas.

Falo isso porque sou jornalista. Não na área esportiva, mas na política. Ao longo de quase 30 anos de carreira, fiz questão de observar o comportamento de muitos jornalistas. Vi muita coisa boa e muita coisa ruim.

A pior de todas é a confusão que alguns fazem em relação ao poder. Por estarem gravitando em torno do poder real (as pessoas que decidem), passam a acreditar que possuem o mesmo poder. É um erro fatal e vi muita gente cair do cavalo quando a realidade os esbofeteou sem compaixão.

Na TV Globo, o humorista Chico Anísio compreendeu bem esse fenômeno quando criou o personagem Bozó, que andava com uma caneta-brinde da emissora pendurada no pescoço e um crachá de funcionário. Ele sempre fazia questão de lembrar: "Eu trabalho na Globo".

Galvão Bueno, Alex Escobar e Tadeu Schmidt são os Bozós da TV Globo. Eles não têm a mínima condição de dar lição de moral em quem quer que seja, enquanto eles e/ou a sua empregadora tentam fazer acordos escusos por baixo dos panos. Acharam que, por gravitarem em torno do poder representado pela emissora, poderiam exercê-lo a seu bel prazer.

Receberam o recado dos torcedores com um CALA BOCA que deve estar reverberando até hoje nos ouvidos deles. A emissora também parece ter se dado conta da canoa furada em que estava embarcando e deu uma "enquadrada" nos seus repórteres. Afinal, é preciso faturar e as outras emissoras agradeceram o incremento em suas próprias audiências.

Lembrem que o Galvão Bueno já não narra partidas de futebol no Maracanã. Os cariocas adoram sugerir a ele o que fazer com seu orifício anal. Como a sugestão é dada através de um coro de milhares de vozes, o som sempre vaza para a transmissão (vide YouTube). Arnaldo César Coelho, Roberto Falcão e Walter Casagrande estão indo pelo mesmo caminho.

O Dunga também errou quando se descontrolou e partiu para o xingamento e a brutalidade mal disfarçada. Deveria ter dado nomes aos bois, citando nominalmente os jornalistas metidos a espertos. Felizmente, ele tem uma família que o ama, onde foi buscar aconselhamento. Rapidamente corrigiu seu erro pedindo desculpas aos torcedores. Coisa que os jornalistas citados acima não fizeram. Estão devendo.

Realmente, Dunga só deve satisfação aos torcedores que sofrem e se alegram com o resultado do seu trabalho. Se o Brasil perder a Copa, a culpa não recairá sobre os jogadores, que voltarão aos seus clubes e aos seus salários milionários. A culpa também não recairá sobre os jornalistas, que rapidamente vão dizer que previram a derrota.

A culpa será única e exclusivamente do treinador. É ele que vai ter de explicar o que aconteceu e que será xingado por milhões. É ele que vai ser desancado pela imprensa que queria "privilégios" sem pensar nos prejuízos que pode causar.

Como eu disse, não sou fã de futebol, não trabalho na CBF ou na FIFA, não sou jogador milionário nem treinador. Sou jornalista, ex-atleta e digo que o Dunga agiu corretamente ao não permitir a instalação de uma farra inconsequente dentro da Seleção Brasileira. Já vimos esse filme e não gostamos do final.

2 comentários:

Elina disse...

gato, dunga foi capitão do tetra, do penta foi cafú. bjus!

Café & Conversa disse...

Obrigado Rainha : ) Voce vê como eu entendo de futebol ... vou corrigir : ) Beijão!