A pré-história de Robin Hood

Ricardo Icassatti Hermano

O bom de ficar atoa é poder fazer as coisas que nos dão na cabeça no momento em que surgem. Assim, decidi ir ao cinema. Vi o horário, almocei e fui. O filme escolhido foi o Robin Hood, do excelente diretor Ridley Scott. Quem faz o arqueiro da floresta de Sherwood é o australiano Russel Crowe. Aliás, os dois fazem boa dupla nesse tipo de filme. Lembram do Gladiador?

Cartaz do filme

Cate Blanchet faz a Lady Marion Loxley. Francamente, aqui entre nós, não convenceu. Max Von Sydow e William Hurt fazem pequenas participações.

O chocho casal Robin e Marion. Faltou faísca, tensão.

Dessa vez a história não é a tradicional passagem de Robin Hood da condição de nobre para a de fora-da-lei protetor dos fracos e dos oprimidos. O roteiro do americano Brian Helgeland está focado na pré-história, ou seja, antes do arqueiro iniciar sua revolta contra o Rei John, irmão caçula do Rei Ricardo Coração de Leão, ou Ricardo I.

Robin Hood e o núcleo do que viria a ser o seu bando

Não tenho nada contra a licença poética, especialmente em produtos voltados apenas ao entretenimento. Mas, me oponho vigorosamente quando ela produz imprecisões históricas. Isso é um completo desserviço, um descalabro. Vira propaganda enganosa como aquele "filme sobre a vida" do Lula.

Tudo bem que, como inglês, o Ridley Scott queira florear a monarquia e dar ares de heróis aos seus reis. O problema é que a história nos ensina que o Rei Ricardo Coração de Leão era um aloprado que odiava o pai, o Rei Henrique II, a ponto de se unir ao rei da França para derrotá-lo em uma batalha.

Na realeza, o negócio é manter a pose

Ricardo Coração de Leão foi levado ainda criança para a França por sua mãe, Leonor da Aquitânia, onde foi educado como filhinho da mamãe. Sequer falava inglês quando assumiu o trono da Inglaterra. Trono, aliás, que ocupou por apenas 10 anos e a maior parte desse tempo fora da Inglaterra.

Ele gostava era de guerra e, assim que assumiu o trono, a sua primeira providência foi preparar a expedição à Terra Santa, que viria a ser a Terceira Cruzada. Para isso, não hesitou em esvaziar o tesouro do pai, cobrar novos impostos, vender títulos e cargos por preços escandalosos e até libertar o Rei Guilherme I da Escócia dos seus votos de vassalagem pela módica quantia de 10 mil marcos.

Por onde passou até chegar à Terra Santa, Ricardo Coração de Leão deixou um rastro de destruição e saques. Também deixou inimigos poderosos que se vingaram mais tarde, quando retornava da Cruzada, colocando-o numa prisão de luxo, onde ficou por 14 meses, até pagar o resgate de 150 mil marcos.

Na época, isso equivalia ao dobro da renda anual da coroa inglesa. Resultado: quebrou o país e obrigou o aumento de impostos. E quem levou a culpa foi o seu irmão John, que levantou toda essa grana do resgate apertando os súditos.

O Rei morreu pouco depois numa escaramuça com a França. Levou uma flechada no abdômen. No filme, ele morre com uma flechada no pescoço quando está retornando da Cruzada ... e por aí vai.

Fazer desse degenerado um herói bonzinho e preocupado com os altos impostos que seu irmão usurpador está cobrando dos pobre súditos, é fácil. Pode se fazer um filme, por exemplo. Ou então basta pintar uns quadros elegantes com pose de rei, colocar uma estátua numa praça e pronto. Quero ver fazer isso com o Príncipe Charles ...

O sujeito apronta todas e depois vira banheiro de pombo

Na monarquia britânica, quem teve juízo, coragem e força para transformar a Inglaterra num império, foram as rainhas. Essas sim eram machos. Os reis, bem, deixa pra lá. Aliás, a Cate Blanchet fez estupendos filmes sobre a primeira Rainha Elizabeth. Não sei como foi cair nesse papel de Lady Marion. Só pode ser um cachê irrecusável.

Fora isso, o filme tem muitas cenas bacanas de batalhas, muito sangue, violência, porrada etc. Diversão garantida para a criançada. Não se espante se, em algumas cenas, você achar que está assistindo novamente o Coração Valente, do Mel Gibson. Veja o trailer.