sexta-feira, 4 de junho de 2010

Fúria de Titãs em 3D


Ricardo Icassatti Hermano

Peguei meu caçula, o Gabriel "Rato", para almoçarmos com meu outro filho Alexandre "Xanxão" e sua bela namorada Tainá. Aproveitamos para comemorar a conquista do segundo lugar num campeonato de video-game, que o Rato faturou em São Paulo.

Esse é um hábito nosso. Comemoramos qualquer conquista, grande ou minúscula. Não importa. O importante é comemorar cada passo adiante.

Após o almoço, Rato e eu fomos assistir o blockbuster da hora: Fúria de Titãs (Clash of the Titans), em 3D. O filme é legal por um lado, porque nos remete à lembrança do filme original e seus efeitos especiais absolutamente toscos. Comparando com os recursos atuais é impressionante constatar o avanço da computação gráfica em poucas décadas. Estamos vivendo o futuro que sonhávamos na infância.

Cartaz do filme

Por outro lado, o filme decepciona em alguns pontos. Primeiro a história baseada na mitologia grega. Os roteiristas exageraram na licença poético-artística para nos entregar um filme de ação. Será que era preciso? A mitologia grega por si só já não é fascinante o bastante? Mas, não. Resolveram distorcer a história original e até colocar uma cintilante armadura medieval em Zeus ... Meu Zeus do céu!

Confundiram Zeus com o Rei Arthur ...

Assim, fui obrigado a explicar tudo para o Rato. Não quero que um filho meu seja ludibriado por histórias mal contadas. Fomos tomar um café e lhe contei a história original de Perseu, o semi-deus filho de Zeus com uma princesa humana, que virou uma celebridade por ter decapitado a Medusa.

Não é a tua sogra nem a tua mulher na TPM. É a Medusa mesmo.

Zeus era um sedutor de primeira linha, adorava traçar as gatinhas gregas mortais e ficou interessado na jovem Danae, filha do rei de Argos, um tal de Acrísio (parece até nome de Aloprado). Pois esse rei consultou uma vidente que profetizou a sua morte pelas mãos do próprio neto.

Cagando-se de medo, Acrísio prendeu a filha numa torre de bronze para que nunca conhecesse um homem e lhe desse um neto. Na forma de uma chuva de ouro, Zeus chegou até Danae, jogou uma conversa mole, digo, divina, e CRÉU! Engravidou a moça.

Quando Acrísio foi avisado que a filha havia dado a luz a um belo bebê macho, se borrou todo e baniu os dois do seu reino, atirando-os ao mar dentro de uma urna. Zeus protegeu os dois até que chegassem à ilha de Serifo, onde o pescador Díctis os encontrou. Díctis era irmão do rei de Serifo e não apenas um pobre pescador.

Perseu e sua mãe viveram na casa do pescador Díctis por muitos anos, até que um dia o rei Polidectes, irmão de Díctis, foi visitá-lo e se apaixonou perdidamente por Danae. Acabaram se casando, é claro.

Perseu cresceu e se tornou um homem forte, aventureiro e ambicioso. O rei acabou ficando com medo do jovem enteado querer ursupar seu trono e inventou um torneio, cujo vencedor seria aquele que trouxesse a cabeça de Medusa. Claro que ele queria que o Perseu virasse estátua de pedra.

Perseu com a cabeça de Medusa. Os gregos já sabiam que
o tamanho da espada não é o mais importante ...

Paro por aqui, porque já é o suficiente para quem for ver o filme saber que está sendo enganado. Quem se interessar pelo tema, há vasta literatura a respeito.

Outro ponto decepcionante foi constatar que nem todo mundo na indústria cinematográfica conseguiu entender a finalidade do efeito 3D. Parece que ainda estão aprendendo. Para utilizar esse recurso é preciso que todos os envolvidos "pensem" em 3D. Desde o roteirista até o iluminador. Senão fica sem sentido e perde o desejado impacto.

Antes de começar o filme, passou um trailer de outro sobre umas corujas. Apenas nesse curto exemplo ficou claro como se deve usar o recurso 3D num filme. Uma das cenas mostra algumas corujas voando na chuva. É impressionante ver os pingos de água saindo por trás das nossas cabeças e indo em direção à tela do cinema.

No Fúria de Titãs o efeito é completamente desperdiçado porque não foi "pensado" antes de compor as cenas. Em várias delas, nem chegamos a perceber o 3D. Uma pena. Fiquei com a impressão de que o efeito foi adicionado ao filme depois de pronto. Sei não.

O filme tem isso de bom: Alexa Davalos, no papel da princesa Andromeda

Mas, todo aprendizado é assim mesmo. A indústria está se adaptando à nova realidade. Vamos ter cada vez mais filmes em 3D até se tornar um padrão. Concordo com o diretor de Avatar, James Cameron, quando disse que o 3D não vai funcionar para a televisão por causa do tamanho da tela. Só quem tiver telão gigante em casa vai aproveitar.

Assistir filmes em 3D na televisão será algo como conversar com uma pessoa que fala lançando perdigotos ...

De resto, o filme entrega a ação que promete. Os atores e atrizes estão bem em seus papéis. Mas, aconselho a quem se interesse que procure ler a história original, a da mitologia grega mesmo. É muito melhor. Assista o trailer do filme.



Um comentário:

Heleny Campoy disse...

A mitologia grega é fascinante. Fscinante por mostrar como os Homens criam os deuses a sua iamgem e semelhança. Como transferem suas responsabilidades a algo intangível.

Zeus de armadura é como o Deus cristão precisar de guarda-costas. Entretanto cinema é imaginação e algumas vezes uma forma de sonhar distorcida de um diretor ou roteirista.

Exite um livro Os Heróis que mostra muita da mitologia grega, inclusive os embates de Perseu e Teseu. Os Argonautas estão lá. Recomendo.

Obrigada pelo texto. Adoro quando conta sobre sua família e rotina. Aliás, minha avó dizia que não exisem pequenas ou grandes vitórias. Existem vitórias, que nos dão alegrias e a dimensão de nossas possibilidades.

Um abraço.