quarta-feira, 12 de maio de 2010

A Música do Dia - Kenny G - Dying Young


Romoaldo de Souza


O telefone dá aquele sinal de que chegou uma mensagem. "Oi, estava pensando em vc agora. Pensando e passando aquele creme que vc gosta…". Anna não resistiu. Pegou o telefone e ligou de volta.


- Ei, chamei você o dia todo. Às vezes você some. Desaparece e depois me manda essas mensagens provocantes. O que foi. O que deu na telha? - pergunta.


- Nada, vontade de ouvi-la. De encontrá-la - respondeu Jaime, com voz de locutor de FM.


- Estou meio aborrecida… - retrucou a estudante de Artes Cênicas, às turras com o diretor da peça que a escraviza nos ensaios.


- O que você está ouvindo?


- Kenny G - disse ela.


- Kenny G, ficou louca? Meu professor de sax disse que esse cara é muito meloso - revoltou-se Jaime, que anos atrás ensaiou uns acordes de saxofone numa escola de música, no SESI.


- Pois minha irmã casou-se ao som dessa música. Ai, que lindo. Que emoção. Chorei que só… - lembrou Anna levemente emocionada.


- Deve ser por isso que o casamento não foi pra frente - insistiu Jaime, impiedoso.


Anna sabia como o namorado era chato. Cri-cri. Mas resolveu ceder.


- Vai acabar com esse creme. Todo dia é a mesma história. Cremes e mais cremes - provocou a futura pretendente a atriz, enquanto se deliciava nos embalos do saxofonista americano.


"Eu acho que Tudo por amor foi o filme que mais chorei. Nossa… nunca mais me emocionei tanto. Quantos anos faz, meu Deus. Dez, 15 anos, nem sei mais quando ainda estava casada com… Ufa, não quero nem lembrar", murmurou.


Anna tinha passado bons e maus momentos ao lado de Leandro, um sindicalista que insistia em enquadrá-la nas regras da CUT. Até na hora de fazer amor, chamava a atriz de "cumpanhêra".


- Ai, cumpanhêra, cumpanhêra, Anna!


- Jantou? - quis saber.


- Comi algo. Passei no Martinica para tomar um Piatã, só tinha Cristina, para não perder a viagem… Comi um wrap e tomei um espresso. Só faltou a sobremesa, ainda pensei naquela torta alemã.


Anna erguia as mãos aos céus. A bailarina que nunca foi chegada numa tecnologia recém tinha descoberto a função do "repeat".


E dá-lhe Kenny G. No "repeat" e o "random" e o som se espalhava por aquela kit apertada, e a vontade de ouvir mais o saxofonista, e o pensamento no outro lado da cidade, mais precisamente, no creme que Jaime passava no corpo.


- Tenho uma surpresa! - disparou Anna.


- O quê? Um incenso do Nepal? Uma vodka russa? - quis saber Jaime.


- Venha. Venha e lhe mostro. Enquanto isso, vou tomando um banho -provocou Anna. Ela sabia o quanto ele gostava do perfume da sua pele ao sair do banho.


- Não dá pra adiantar? - perguntou.


- Não! - disse ela.


- Só uma dica!


- Posso dizer, apenas, que andei lendo o pessoal do Café & Conversa. O Ricardinho colocou uma receita de creme de pêssego com iogurte que é uma beleza.


Anna tinha passado dos limites. Creme de pêssego era tudo o que Jaime sempre quis e nunca tinha tido coragem de abrir o blog Café & Conversa.


Tim-tom! Toca a campainha, 15 minutos depois.


Anna abre a porta, o cheiro de creme de pessego com iogurte já dominava o ambiente.


Ali mesmo, no sofá, Jaime e Anna ao som do meloso Kenny G, "Dying Young", se deliciaram com o creme de pêssego e iogurte.


E dá-lhe Kenny G. E dá-lhe creme de pêssego com iogurte.




Um comentário:

Mais e mais cafés... disse...

Ah, Romoaldo, aonde você quer chegar com esses textos de duplo sentido, meu caro? Esse creme, essa receita, essa história, essa música...diga!