Ricardo Icassatti Hermano
Assim como o vinho, pouco a pouco o café começa a ocupar espaço nos costumes e cultura dos brasileiros como um produto sofisticado, elaborado e prazeiroso. Ainda vai levar um tempo, mas uma vez iniciado, o movimento não para.
Prova disso tive ao ler a revista TRIP deste mês e encontrar a publicidade de um perfume de O Boticário, chamado Coffee Man. Na página havia um adesivo que, ao ser retirado, revelava uma amostra da fragância.
O slogan é até criativo: "Tire o sono das mulheres com Coffee Man" ...
Rapidamente me propus a cheirar a amostra. Fiquei decepcionado. O perfume tem o aroma de couro amadeirado floral doce com um toque de tabaco. Café que é bom, nada. Ou seja, um horror completo. Pelo menos para o meu gosto.
Corri para o site da empresa em busca de maiores informações e encontrei a "fórmula" do Coffee Man, que segue abaixo.
Família Olfativa: Oriental Amadeirado
Saída: Bergamota, Cardamomo, Gengibre, Folhas de Bambu, Folhas de Pimenta, Polemo.
Corpo: Fougère Spicy, Noz Moscada, Schinus Molle CO2, Folhas de Tabaco, Davana Oil Lmr, Gerânio, Violeta, Íris.
Fundo: Generessence Café, Patchouli, Âmbar, Couro, Sândalo, Cedro, Living Bourbon "Toasted".
Além disso, o site traz a explicação que trata-se de "uma fragância sofisticada que contém em sua composição a infusão de grãos de café, tornando o perfume quente, sensual e muito marcante".
Bom, pelo menos meu olfato ainda dá para o gasto. Tem de tudo no perfume e em maior quantidade do que o alegado café. Assinalando que "infusão de grãos de café" nada mais é que a bebida que tomamos e que é conhecida como café. Pode ser espresso, prensado ou coado.
A empresa disponibilizar a "fórmula" e dar explicações - mesmo sendo pura propaganda - não deixa de ser simpático. Também mostra o efeito causado pelo filme "O Perfume", com o impagável Dustin Hoffman, baseado no livro de mesmo nome, que foi considerado o livro da década de 80 na Alemanha. Aqui no Brasil, desnecessariamente adicionaram ao nome do filme o penduricalho "A História de um Assassino".
Cartaz do filme
Inspirado nas teorias de Sigmund Freud, o livro conta a história de um homem que possui olfato apuradíssimo mas não tem cheiro próprio. Este homem torna-se um perfumista famoso e um assassino insaciável na busca pelo cheiro da vida.
O perfumista assassino ...
No filme, vemos o trabalho de desenvolvimento de um perfume, que utiliza os termos técnicos "Saída, Corpo e Fundo" para sua composição. De lá para cá, os fabricantes de perfume têm utilizado a terminologia que era uma coisa de perfumistas apenas, para sofisticar e agregar valor aos seu produtos.
Mas, voltando ao Coffee Man, acredito - e espero - que as mulheres queiram ficar acordadas ao lado de um homem por outros motivos que não sejam um cheiro pavoroso.
Nenhum comentário:
Postar um comentário